
Uma semana depois da reportagem do programa Fantástico da Tv Globo que revelou acusações de assédio moral e sexual contra o ex-PM e vereador do Rio de Janeiro Gabriel Monteiro (PL), mostrou no último domingo (3) novas denúncias de estupro contra o parlamentar. Três mulheres diferentes, com histórias parecidas de relacionamentos consentidos que acabaram em violência. A Câmara dos Vereadores pode iniciar o processo de cassação do youtuber que acabou de se filiar ao partido de Bolsonaro, o PL.
Todas elas afirmam que o seu agressor é Gabriel Monteiro e preferiram não se identificar. “Hoje eu tenho a consciência de que, infelizmente, eu fui estuprada. É a primeira vez que eu falo abertamente sobre isso”, conta uma das vítimas.
A mulher conheceu Gabriel Monteiro por meio de um aplicativo. Mantiveram relações consensuais até que, um dia, o vereador não respeitou um pedido dela.
“Antes do ato em si, ele disse que não iria por o preservativo. E eu questionei, falei: ‘você tem que colocar, sim, o preservativo’. Nessa hora, ele simplesmente ignorou tudo que eu tinha falado e começou a relação sexual”, conta.
Outra mulher também se diz vítima de Gabriel Monteiro, mas antes de ser eleito, quando ele ainda era Policial Militar. Ele teria a convidado para uma festa em sua casa. Ao chegar no local, ela viu que não tinha festa alguma. Na época, ela tinha 16 anos.
Na casa dele, ela diz ter visto o então PM espancando uma outra mulher, também convidada para a festa que não existia. Ela conta que, depois de fazer um lanche, a situação se acalmou e Gabriel as chamou para fazer sexo a três.
“Ele foi e falou: vamos para o quarto. Eu falei: eu não quero. Vamos, vai ser legal, por favor, por favor. Aí ela veio também, me chamou e eu fui. Com medo, porque ele tinha acabado de tentar matar ela na minha frente. Eu fui”, explica.
Na última semana, uma adolescente de 15 anos prestou queixa à polícia acompanhada dos pais. Eles denunciaram o vazamento de vídeos dela tendo relações sexuais com o vereador, que estava filmando.
A jovem afirmou que a relação e a gravação foram consensuais. No entanto, para a presidente da Comissão de Direitos da Criança e do Adolescente da OAB-RJ, mesmo que ela tenha autorizado a filmagem, o vereador cometeu crime previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Na sexta-feira, o Ministério Público do Rio conseguiu uma liminar na Justiça determinando a retirada das imagens do ar.
O programa ainda ouviu ainda uma terceira mulher, que diz ter sofrido abuso em 2017, também na época em Monteiro era PM. “A gente sempre frequentou as mesmas festas na adolescência. E decidimos ficar. Logo depois, nós dois decidimos ir pro carro dele que estava do lado da casa de festas. Estacionado. E começamos o ato sexual, até então consentido, porém, até um certo momento em que ele começou a me dar tapas, socos, a me filmar com o telefone. O tempo inteiro eu empurrava o celular, mas ele, mesmo assim, me filmava, tentava filmar minhas partes e meu rosto. Eu comecei a gritar muito e ele pegou a arma e colocou a arma no freio de mão. Próximo ao freio de mão. E eu comecei a me debater, me debatia. Só que ele conseguiu fazer a penetração, tudo, sem camisinha. E, um certo momento, ele colocou a arma na minha cabeça mandando eu ficar quieta”, relata.
A mãe lembrou da sensação de abandono quando ficou sabendo. Ela diz ter ficado com medo de denunciar o policial.
A família decidiu levar o caso a um dos vereadores que integram o Conselho de Ética da Câmara de Vereadores do Rio. Na próxima terça-feira (5), vereadores vão tomar uma decisão.
Nesta segunda-feira (4), os integrantes do conselho se reúnem com o procurador-geral de Justiça do Rio, Luciano Mattos, e com os promotores que abriram investigações contra Monteiro após as denúncias do Fantástico.
Gabriel Monteiro foi chamado a prestar depoimento na quinta-feira para esclarecer as denúncias de assédio sexual contra uma ex-funcionária. Mas faltou. No dia do depoimento, participou presencialmente da sessão na Câmara de Vereadores.
Na semana passada, o vereador concluiu sua filiação ao PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, e do governador do Rio, Cláudio Castro.
Na semana passada, Gabriel Monteiro já havia sido acusado de cometer assédio moral, sexual e agressões físicas contra mulheres e servidores. O influencer que tem 4,6 milhões de seguidores somente no Instagram também é suspeito de manipular e forjar vídeos de suas redes sociais.
PROCESSO
Na noite desta segunda-feira (4), o presidente do Conselho de Ética e Disciplina da Câmara de Vereadores, Alexandre Isquierdo, do Democratas, afirmou que há elementos suficientes para abrir processo de cassação contra o vereador Gabriel Monteiro (PL).
“As denúncias são graves”, disse, após reunião com promotores do Ministério Público. Segundo o órgão, dois casos de estupro e um de uso de criança para forjar vídeo na internet estão sendo investigados. Seis procedimentos já foram instaurados.
Nessa terça-feira (5/4), o grupo volta a se reunir para decidir se abre o processo cassação. Nos bastidores, a resolução é dada como certa, mas até decisão há um longo caminho. O vereador, que nega as acusações, será ouvido e as investigações precisam ter sido concluídas. Para ser cassado, 34 dos 51 vereadores devem votar contra o parlamentar.