Renan e seu sócio Allan Lucena montaram uma reunião de empresários com o governo. O objetivo era fazer lobby. Eles tiveram a ajuda de Joel Fonseca, assessor especial da Presidência. A dupla ganhou de presente dos empresários um carro elétrico no valor de R$ 90 mil. Criaram uma empresa de fachada sem fins lucrativos para disfarçar o suborno
Toda a família – e o entorno dos Bolsonaro – está envolvida em falcatruas, desde as rachadinhas do “01”, passando pelos 42 cheques do Queiroz na conta da primeira dama, pela lavanderia de chocolate na Barra, até os pastores propineiros do MEC, que queriam ouro em troca das verbas do FNDE (Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação).
Não podia ser diferente com Renan Bolsonaro, o filho mais novo do “mito”, que cedo entrou no “mundo dos negócios”. Ele deu uma entrevista na sexta-feira (8), após seu depoimento na Polícia Federal, sobre a acusação de ter realizado uma reunião no Ministério do Desenvolvimento Regional para fazer lobby para empresários que financiaram o seu empreendimento.
Perguntado sobre a reunião, ele disse que não sabia de nada e nem por que estava participando dela. (Leia aqui)
Quem te convidou?
Não sei.
Por que você foi à reunião, então?
Porque conhecia o pessoal.
Qual o assunto foi tratado?
Não sei. Você falou alguma coisa na reunião?
“Não. Entrei mudo e saí calado”, disse.
O grupo levado ao ministro pelo filho de Bolsonaro apresentou uma proposta de construção de casas de pedra para o governo. Além de uma construtora, o Grupo Thamazini também comercializa carros elétricos. Renan pode até não ter falado nada, mas ele e seu sócio, Allan Lucena, ganharam de presente dos empresários que conseguiram a reunião, um carrão de luxo elétrico.
Um representante da Neon E. Motors, do Grupo Thamazini, informou ao jornal “O Globo”, na época, que o carro entregue a Jair Renan foi um “presente”.
Renan tirou o corpo fora na entrevista e disse que o carro foi dado ao sócio Allan Lucena.
A resposta do sócio veio numa entrevista ao Congresso em Foco publicada nesta terça-feira (12). “Rapaz, que entrevista vergonhosa”, declarou Allan Lucena, ao Congresso em Foco, através de sua conta pessoal no Instagram, sobre a entrevista concedida por Jair Renan Bolsonaro ao lado do advogado Frederico Wassef ao canal SBT. “Ele não tem nenhuma inteligência emocional para responder a perguntas simples”, acrescentou.
Ao falar sobre o carro doado pelo grupo WK aos dois sócios, um dos objetos de investigação da Polícia Federal, Lucena afirma, sobre a versão do filho do presidente de que o carro teria sido dado a Allan: “Não é bem assim. O carro foi doado para uma instituição sem fins lucrativos, e não para mim. E, sim, o carro esteve sempre comigo, pois eu sou o responsável pela instituição. O veículo foi usado especificamente para essa instituição”, acrescentou o sócio de Renan.
O que ficou claro na entrevista de Allan é que os dois criaram uma empresa sem fins lucrativos de fachada para ganhar o carro de presente depois de terem feito o lobby para os empresários. Mas, como o escândalo veio à público, o veículo teve que ser devolvido.
Segundo Allan, a devolução foi a pedido de Renan, “contra a minha vontade”, explicou. O grupo WK é uma empresa de créditos imobiliários e consórcios, do empresário Wellington Leite, que, junto com a Gramazini Granitos e Mármores Tomazini, teria doado um automóvel elétrico para Jair Renan avaliado em R$ 90 mil.
Segundo a versão de Lucena, o carro foi doado para o projeto Mob Fit. As logomarcas dos empreendimentos Mob Fit e JB, de Allan e Renan respectivamente, ocupavam, lado a lado, a parede do Camarote 311. O camarote, parte do estádio de futebol de Brasília, é onde Jair Renan instalou sua empresa de eventos.
De acordo com Lucena, ele não teve participação na reunião na qual, segundo ele próprio disse, um assessor da Presidência da República teria pedido a doação do veículo elétrico para Jair Renan Bolsonaro. Em seguida, o personal trainer se contradisse e confirmou que esteve no encontro, como convidado.
“Eu não tenho responsabilidade sobre isso! Não posso comentar porque não sei o motivo dessa reunião”, diz ele. Lucena, então, acrescenta mais um personagem à história: Joel Novaes da Fonseca, assessor da Presidência, que teria sido quem marcou a reunião. “Então seria crime se o Joel, que marcou a reunião, tivesse ganhado o carro. Certo?”. Lucena não explicou por que fez essa referência a Joel Fonseca, mas ao que tudo indica, foi quem ajudou Renan a marcar a reunião no governo.
LOBISTA INDICIADO PELA CPI
O lobista Marconny Faria, indiciado pela CPI da Covid por intermediar negócios suspeitos entre o governo e a Precisa Medicamentos, participou da festa de aniversário de Jair Renan, filho do presidente Jair Bolsonaro, que comemorou 24 anos no sábado (9).
O lobista compareceu à festa em um clube em Brasília vestido de drácula – com capa vermelha, gravata borboleta e rosto pintado de branco. Segundo a revista “Crusoé”, Marcony circulou bem à vontade no folguedo à fantasia patrocinado pelo filho 04 de Bolsonaro, onde as garçonetes serviam bebidas vestidas de odaliscas.
Conhecido pela alcunha de “lobista dos lobistas”, Marconny Faria foi indiciado pela CPI da Covid por intermediar a compra da vacina indiana Covaxin, com preço maior do que as similares no mercado de então.
Em depoimento à CPI, ele admitiu ter feito sua festa de aniversário no camarote de Jair Renan no estádio Mané Garrincha, em Brasília.
Também reconheceu ser amigo dele há mais de dois anos, e que apresentou ao 04 um advogado tributarista com o objetivo de ajudá-lo a abrir a empresa Bolsonaro Jr Eventos e Mídia. O lobista alega, porém, que jamais recebeu qualquer benefício por manter negócios com o filho do presidente.
Investigações feitas pelo Ministério Público Federal (MPF) no Pará apontam ainda que o lobista tinha uma vasta teia de contatos em Brasília, incluindo a ex-mulher do presidente Ana Cristina Siqueira Valle, que é mãe de Jair Renan.
A ex-mulher de Bolsonaro teria, inclusive, a pedido do lobista, acionado o Palácio do Planalto para influenciar na escolha do defensor público da União, em 2020, junto ao então ministro da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, atual membro do Tribunal de Contas da União (TCU).
As mensagens também indicam que, em outra ocasião, Ana Cristina atuou para emplacar uma indicação do advogado em um instituto ligado ao Ministério da Saúde.
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