Para impedir a investigação dos pastores propineiros, do superfaturamento dos ônibus escolares, da orgia com o orçamento secreto e a Codevasf, Bolsonaro fez “força-tarefa” e montou “CPI fake” contra a oposição
Quando assistimos ao presidente da República montando “forças-tarefa” e “operações de guerra” para impedir que o Senado investigue denúncias de corrupção no Ministério da Educação.
Quando vemos até um desqualificado como Abraham Weintraub dizer, como ele fez nesta terça-feira (12), que, a mando de Bolsonaro, os corruptos tomaram conta do FNDE (Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação), já não há dúvida em que tipo de esgoto se transformou esse governo.
Mas, quando achamos que não há como surgir degeneração moral maior dos integrantes do governo Bolsonaro, aí é que surgem mais denúncias. O último escândalo envolve uma verdadeira orgia envolvendo uma empresa fantasma (Engefort) faturando milhões e licitações fraudulentas na Cofevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) com o chamado “orçamento secreto”, um esquema gerido pelo Planalto de suborno direto de parlamentares.
Cerca de R$ 16 bilhões foram designados para a compra despudorada de apoio político com verba pública. O filho mais novo de Bolsonaro e seu sócio fazem lobby para empresários e ganham um carro elétrico de R$ 90 mil de presente. Um verdadeiro show de corrupção está vindo à tona.
E, como se não bastasse Bolsonaro agir pessoalmente, montado em cargos públicos, na Abin e no orçamento secreto, para impedir a instalação da CPI do MEC, um bando de picaretas – seus seguidores – decidem pedir a abertura de uma outra CPI sem nenhum fato determinado.
Uma CPI para investigar “possíveis” irregularidades em obras de um passado longínquo, de 2006 a 2018, e no programa de financiamento estudantil (Fies). A denúncia está exatamente assim: possíveis irregularidades em obras inacabadas.
Nada contra a investigação de tudo de errado que possa ter acontecido. Mas, tem que pelo menos elaborar uma denúncia para pedir uma CPI. Os prefeitos relatando os pedidos de propina de dois pastores no MEC, por exemplo, é algo bastante concreto. O fato dos municípios não terem recebido as verbas do FNDE porque se recusaram a pagar a propina também é muito sério. E é concreto. O áudio do ministro Milton Ribeiro – que caiu inclusive – dizendo que foi Bolsonaro que pediu que ele colocasse os pastores para controlarem as verbas, também é algo inquestionável.
Não é aceitável que se faça uma CPI fake para impedir uma verdadeira. Não é aceitável numa democracia que o Palácio do Planalto use verbas públicas para fazer chantagem com o objetivo de não ser investigado pelo parlamento. E que se use essas mesmas verbas públicas do orçamento para comprar votos e abrir uma CPI completamente sem sentido, só para paralisar uma investigação legítima. Isso é um crime. O senador Alessandro Vieira (PSDB-SE) disse que o uso do orçamento secreto “é um tapa na cara da sociedade”.
A ministra Rosa Weber chegou a determinar a suspensão da liberação dessas verbas, mas a base de Bolsonaro vem driblando o STF e usando este expediente até agora. A relatora da ação no STF contra o “orçamento secreto”, ministra Rosa Weber, considerou a prática irregular porque esconde o nome do parlamentar que fez a indicação de gasto e favorece apenas aqueles que votam conforme manda o governo Bolsonaro. Segundo ela, “o relator-geral do orçamento figura apenas formalmente”, enquanto “quem detém, de fato, o poder de decidir” os gastos das emendas “são apenas os deputados federais e senadores autorizados, por meio de acordos informais, a realizarem indicações”.
“Causa perplexidade a descoberta de que parcela significativa do Orçamento da União esteja sendo ofertada a grupo de parlamentares, mediante distribuição arbitrária entabulada entre coalizões políticas, para que tais congressistas utilizem recursos públicos conforme seus interesses pessoais, sem a observância de critérios objetivos destinados à concretização das políticas públicas a que deveriam servir as despesas”, continuou.
“Esse comportamento compromete a representação legítima, escorreita e digna, desvirtua os processos e os fins da escolha democrática dos eleitos, afasta do público o interesse buscado e cega ao olhar escrutinador do povo o gasto dos recursos que deveriam ser dirigidos ao atendimento das carências e aspirações legítimas da nação”, acrescentou a ministra.
Agora, o mais escandaloso é que entre os que assinaram a criação da “CPI fake” do governo está o senador Chico Rodrigues (União Brasil), que, em outubro de 2020, foi pego pela PF escondendo R$ 30 mil nas nádegas. Isso sem falar no rei da rachadinha, que, segundo o Ministério Público do Rio, desviou R$ 6 milhões da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e lavou o dinheiro com funcionários fantasmas, sua loja de chocolate e com a milícia de Rio das Pedras. Com apoiadores desse quilate, essa CPI não passa de uma piada.
Chico Rodrigues era vice-líder do governo e foi alvo de operação “Desvid” da Polícia Federal, realizada em Roraima. Ele foi flagrado com dinheiro escondido nas nádegas durante abordagem dos investigadores. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo apurou com duas fontes que tiveram acesso a informações da investigação, foram encontrados R$ 30 mil dentro da cueca do vice-líder do governo. De acordo com a revista Crusoé, o momento da apreensão foi constrangedor pois “algumas notas recuperadas estavam sujas de fezes”.
Veja a lista dos senadores que assinaram a “CPI fake” do Bolsonaro
Chico Rodrigues (União Brasil-RR)
Roberto Rocha (PTB-MA)
Fernando Collor (PTB-AL)
Flávio Bolsonaro (PL-RJ)
Zequinha Marinho (PL-PA)
Carlos Portinho (PL-RJ)
Marcos Rogério (PL-RO)
Carlos Viana (PL-MG)
Vanderlan Cardoso (PSD-GO)
Mecias de Jesus (Republicanos-RR)
Rose de Freitas (MDB-ES)
Wellington Fagundes (PL-MT)
Carlos Fávaro (PSD-MT)
Eduardo Gomes (PL-TO)
Romário (PL-RJ)
Davi Alcolumbre (União Brasil-AP)
Luiz do Carmo (PSC-GO)
Reguffe (União Brasil-DF)
Eliane Nogueira (PP-PI)
Mailza Gomes (PP-AC)
Elmano Férrer (PP-PI)
Marcio Bittar (União Brasil-AC)
Telmário Motta (Pros-RR)
Lucas Barreto (PSD-AP)
Jorginho Mello (PL-SC)
Giordano (MDB-SP) Soraya Thronicke (União Brasil-MS)
Luis Carlos Heinze (PP-RS)
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