Soldados das forças ucranianas relataram ter recebido ordens para matar “qualquer pessoa que se movesse, sem se importar se era civil ou não”, e para fuzilar prisioneiros
“Em algum momento, pessoas foram trazidas para lá, havia mulheres e homens… As pessoas que foram trazidas estavam com braçadeiras brancas, eram moradores de Rubizhne [na região de Lugansk]. Eles [outros soldados da Ucrânia] colocaram todos na nossa frente e nos mandaram atirar em todos eles”, relatou um militar da Guarda Nacional ucraniana.
O soldado se recusou, junto com dois colegas, a cumprir as ordens, que eram crimes de guerra, e foi preso pelo Exército ucraniano. Os três conseguiram fugir para uma cidade que está controlada pela República Popular de Lugansk e se entregaram.
Em vídeo gravado para o serviço de imprensa do governo da República Popular de Lugansk, os militares contaram que receberam “ordens de disparar e matar qualquer pessoa que se movesse, sem se importar se era civil ou não”.
Conforme contaram, a Guarda Nacional trouxe um grupo de civis para que fossem fuzilados. “Nós nos negamos a cumprir essa ordem horrível porque não podemos fuzilar a população civil. Foi um momento terrível”.
“Por nos negarmos a cumprir a ordem, nos colocaram em um ‘buraco’ naquela mesma garagem. Ficamos lá não sei por quanto tempo. Um dia, dois… Colocaram guardas”, continuou o prisioneiro de guerra.
O homem que relatou os acontecimentos disse que os guardas não usavam identificação de nenhum órgão oficial ucraniano, como o Exército ou a Guarda Nacional, mas usavam “bandagens nacionalistas. Talvez fossem de alguma subdivisão de voluntários, não sei”.
Na Ucrânia existem dezenas de grupos de combate “voluntários” de inspiração nazista. Alguns deles, como o Batalhão Azov, chegaram a ser incorporados às Forças Armadas do país, mas outros permanecem atuando de forma autônoma, mas sem nenhum tipo de restrição do governo.
“À noite, os rapazes se descuidaram, tinham bebido. Os neutralizamos e por um milagre escapamos até Rubezhny, onde estavam as subdivisões da Milícia Popular de Lugansk… Não sei como se chamam, não tinham identificação”, completou o soldado ucraniano.
Outro soldado da Guarda Nacional da Ucrânia que foi preso pelos russos contou que também recebeu ordens diretas para matar a população civil. Depois de ter passado apenas um mês em treinamento militar, foi enviado para a unidade 30/36 da Guarda Nacional.
“Nos mandaram… deram ordem de matar a população civil. Estávamos em choque sobre onde estávamos e quem éramos. Não entendíamos que iríamos chegar a um lugar assim ou que faríamos algo assim”.
O golpe de 2014, que depôs um presidente eleito, tornou as regiões de Donetsk e Lugansk em campos de batalha.
As duas regiões têm predomínio da língua russa e exigiram, através de plebiscito, maior autonomia, ainda pertencendo à Ucrânia. O governo ucraniano não reconheceu o resultado do plebiscito e passou a atacar a população dessas regiões.
Por oito anos, grupos nazistas como o Batalhão Azov ou o Setor Direita perseguiram, por ordem do governo federal, as populações de Lugansk e Donetsk.
Durante a guerra, centenas de relatos colhidos de refugiados mostram que os militares ucranianos estão fazendo civis de reféns, utilizando suas casas como base e atirando em quem tentasse fugir.
Veja o vídeo com os depoimentos: