
A grave crise econômica que o país enfrenta e a disparada da inflação, provocada especialmente pela elevação dos preços dos combustíveis, dos alimentos e do gás de cozinha, aliada ao crescente desemprego, tem condenado uma parcela cada vez maior da população à fome.
Diante dessa situação, entidades do movimento social vêm fortalecendo a organização de ações de combate à carestia. Dentre elas está a campanha “Abaixo a carestia que a panela está vazia”, movimento que surgiu no final do ano passado por iniciativa do Movimento de Defesa da Moradia (MDM), na zona sul da capital paulista. Daí em diante, diversos grupos e entidades têm se aglutinado e expandindo para outras regiões.
De acordo com um de seus organizadores e membro do MDM, Antônio Pedro, o Tonhão, com a crescente participação de entidades, formou-se uma coordenação que se reuniu diversas vezes na Câmara de Vereadores e continua seu processo de organização, convidando associações de moradores, entidades do movimento social, times de futebol e qualquer grupo ou coletivo que queira debater formas de enfrentar o problema da carestia.
“Esses grupos e entidades têm liberdade para organizar e realizar suas atividades. Já foram feitas mais de uma dezena de atividades e estão pipocando muitas outras. Essa é uma demanda real e há a necessidade que se faça a luta por ela”, explica.
Tonhão lembra que, durante os anos de 1970 e 1980, o movimento contra a carestia pulsava na periferia das grandes cidades, mesmo sob a ditadura. “Mulheres da periferia se levantaram e enfrentaram a carestia e o medo dos militares para exigir controle de preços dos gêneros de primeira necessidade e aumento de salários para seus companheiros – operários, cujo sindicatos estavam na ilegalidade. Foi uma década de organização que, na base, trouxe muito aprendizado do “saber e fazer” popular. Um levante precisa acontecer novamente para o despertar do povo”, enfatizou.

O Movimento tem organizado a maior parte das atividades na Zona Sul e, só nesta semana, já realizou ações na Comunidade do Cai-Cai e no Jardim Alfredo, na região da Guarapiranga e no Jardim Souza. Para o próximo sábado (16), o movimento organiza atividades no Capão Redondo, na Cohab Adventista e no Jardim Paranapanema.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação no mês de março subiu 1,62%. É a maior alta para um mês de março desde 1994, antes da implantação do plano Real.
“Como para esse governo, desgraça pouca para o povo é bobagem. O presidente do Banco Central, Roberto Campos, já avisou que a inflação prevista de 4,7% para 2022 vai estourar o teto da meta, de 5%, e deve chegar a 7,1% no fim do ano. Para o espanto de todos, Campos disse estar surpreso com a inflação. Se ele fosse a um supermercado ou feira, como qualquer trabalhador, saberia que isso virou rotina”, repudia Tonhão. “Nós estamos atuando para fortalecer essa luta contra a carestia e contra seu principal causador, o governo Bolsonaro”, completou.
No próximo dia 19, está marcada uma assembleia com entidades da zona leste da capital, na subsede do sindicato dos condutores, em São Miguel, para pensar e organizar ações na região.
MULHERES CONTRA A CARESTIA
Assim como na década de 70, mais uma vez, entidades do movimento feminino também têm protagonizado ações de denúncia contra os altos preços dos alimentos.
A Confederação das Mulheres do Brasil (CMB) e a Federação das Mulheres Paulistas (FMP) compõem essa gama de entidade feministas que, desde o governo Bolsonaro, e principalmente no contexto da pandemia, vêm cumprido importante papel na organização de atividades de combate à fome, que passou a ser assunto cada vez mais corriqueiro na vida do povo.

Com a campanha “Mulheres contra a carestia”, as entidades têm, assim como no movimento comunitário, organizado atividades de arrecadação e distribuição de cestas básicas e, principalmente, buscam organizar as mulheres para combater a política econômica deste governo. “Para nós da FMP e CMB, não há luta mais importante do que combater a carestia, porque se não tem comida na mesa, se nossos filhos não têm o que comer, não é possível brigar por outra coisa”, enfatiza Karina Sampaio, jornalista e diretora da CMB.
Nesta semana, a CMB organizou uma atividade de distribuição de cestas e absorventes no bairro do Cambuci, na capital paulista. Com o apoio dos coletivos SobreNós e Cientistas Engajados, a atividade debateu as causas do aumento do custo de vida.
A entidade denuncia o aumento no preço das cestas básicas que, apenas com itens essenciais, já chega a R$ 713,86, o equivalente a 63% do salário-mínimo líquido. “Com o pouco que sobra, ainda precisamos pagar a conta de luz, comprar materiais de limpeza, gás de cozinha, aluguel, remédios e transporte. A conta não fecha”, afirma Karina.
“Por isso, é urgente controlar os preços dos itens essenciais da cesta básica e do gás de cozinha, retomando os valores de 2020, quando o gás custava pouco mais de R$ 69″, concluiu.
RODRIGO LUCAS