O presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, condenou a “hipocrisia patológica” reinante nos países da Otan ao defenderem bloqueios e sanções contra a Rússia por reagir à ação genocida do governo da Ucrânia contra as populações do Donbass. Com a mídia reverberando a posição de Washington, asseverou, “se eu dissesse alguma coisa contra Putin, todos me dariam um prêmio”
Em entrevista para um canal de televisão neste domingo (17), Vucic recordou que, desde 2001, Moscou tem sido coerente em sua posição e “sempre apoiou a integridade territorial da Sérvia”. Do outro lado, condenou, esteve a Otan com sua agressão “terrível, errada e ilegal contra o país”.
“A vida sérvia é menos valiosa?”, perguntou o presidente, questionando se alguém ajudou ou cancelou os voos quando os EUA e mais 18 países da Otan bombardearam seu país durante a ofensiva no território da ex-Iugoslávia em 1999.
Vucic enfatizou que sempre as decisões tomadas devem priorizar seus próprios cidadãos. E adiantou um possível acordo vantajoso com a Rússia sobre o fornecimento de gás que “será melhor que nos demais países da União Europeia”.
Na sua opinião, seu país lida melhor com as dificuldades e tensões do que muitas outras nações. “Não dissemos a ninguém que desligaríamos o aquecimento, que não iriam tomar banho, ou que não haveria trigo nem milho”, sublinhou, referindo-se a declarações de um ministro alemão que acaba de aconselhar à população que modere banhos ou o consumo de eletricidade para “desagradar Putin” e, obviamente, agradar Biden.
Vucic declarou que seu país foi ameaçado de receber sanções por parte de Washington se votasse contra a proposta de resolução norte-americana de suspenção da Rússia do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Ele alegou ter sido “chantageado” e acabou cedendo. Há poucos dias houve uma enorme manifestação no centro de Belgrado onde a população cobrou esse recuo de Vucic, entoando “Servios e Russos povos irmãos”.
CAMPANHA ARMADA CONTRA PUTIN
“Se eu quisesse ser o herói número um do mundo, bastaria dizer qualquer coisa contra Putin, e todos me dariam um prêmio e diriam que sou o maior democrata do mundo”, ironizou Vucic, ressaltando que seu trabalho é administrar para a coletividade, “não é colocar a Sérvia em perigo”.
Além de se recusar a sancionar Moscou, ele também se manifestou contra a tendência de cancelar a cultura russa, em particular seus clássicos e grandes figuras históricas, como Dostoiévski, Tchaikovsky ou o marechal soviético Zhukov. “Devemos nos livrar de Shakespeare por causa do belicismo britânico ?”, questionou.
Vucic denunciou que a “hipocrisia patológica” da Otan está “em toda parte” do ponto de vista legal. Para o líder, aqueles que acusam a Sérvia de ter sangue nas mãos por manter suas comunicações aéreas com a Rússia abertas no meio da sua ofensiva militar na Ucrânia deveriam ter vergonha.
O presidente sérvio lembrou ainda que a resolução 1244 das Nações Unidas proíbe o envio de armas para o Kosovo, onde está prevista a presença de uma única força militar para garantir a estabilidade na região, a KFOR, liderada pela Otan. No entanto, “não só os britânicos os estão armando, mas também os americanos, e os turcos estão treinando os pilotos”, disse Vucic, rechaçando a militarização da região para além do apoio do contingente acordado internacionalmente.