O boletim “De olho nas negociações”, divulgado essa semana pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), mostra que mais da metade dos acordos salariais em março (51,9%) não repuseram as perdas provocadas pela inflação de 10,8%, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
Se somados os acordos abaixo da inflação aos que resultaram em reajustes iguais a inflação, o total chega a 86,1% do total dos acordos. Conforme aponta a pesquisa, dos 231 acordos salariais em março, 51,9% ficaram abaixo da inflação, 34,2% ficaram iguais ao INPC e apenas 13,9% das negociações conquistaram aumentos reais.
“Como nas datas-bases anteriores, a variação real média dos reajustes de março de 2022 foi negativa (-0,50%). Esse dado reflete a predominância dos resultados inferiores ao INPC, como visto anteriormente. O percentual, no entanto, não foi tão baixo quanto o observado em fevereiro de 2022 (-0,97%), retomando tendência de redução de perdas, verificada desde julho de 2021”.
Mesmo com a leve queda dos acordos com reajustes inferiores ao INPC, o percentual de trabalhadores que amargam perdas salariais segue alto. Se considerado o trimestre, 39,9% das campanhas foram fechadas com reajuste inferior à inflação, enquanto 31% repuseram a inflação e 29% tiveram ganhos reais.
A indústria – setor que mais abrange trabalhadores com carteira assinada – registrou os maiores ganhos reais, representando 33,7% do total. No comércio, mais da metade (53%) das negociações tiveram reajuste equivalente à inflação. Já no setor de serviços, predominaram, no trimestre, os acordos com perdas (44%).
O Dieese enfatiza que a inflação elevada e crescente ainda é o principal fator negativo para o desempenho das negociações salariais no Brasil. O Instituto estima que, com a elevação dos preços em 1,71% em março, o reajuste necessário para as categorias com data-base em abril será de 11,73%, o mais alto desde janeiro do ano passado.
Esse resultado mostra que a política econômica implementada pelo governo Bolsonaro tem pressionado os salários para baixo, enquanto os preços dos itens básicos de consumo continuam aumentando. Outro levantamento feito pelo Dieese, a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, mostra que o preço dos itens da cesta básica aumentou em todas as capitais. As altas mais expressivas ocorreram no Rio de Janeiro (7,65%), em Curitiba (7,46%), em São Paulo (6,36%) e em Campo Grande (5,51%). A menor variação foi registrada em Salvador (1,46%).