Schroeder enfatizou, na entrevista ao New York Times, que um embargo energético total “não acontecerá”.
“A indústria alemã precisa das matérias-primas que a Rússia tem. Quando esta guerra acabar teremos de voltar a nos relacionar com a Rússia. É sempre assim”, declarou o ex-chanceler da Alemanha entre 1998–2005, Gerhard Schroeder.
“Não é apenas petróleo e gás, também as terras raras. E essas são matérias-primas que não podem ser simplesmente substituídas”, afirmou o ex-chanceler alemão em entrevista ao jornal New York Times.
“Eles precisam de petróleo e gás para pagar seu orçamento. E nós precisamos de petróleo e gás para aquecer e manter a economia funcionando”, declarou o político que defende em todos os canais e foros que a Alemanha precisa do vasto suprimento de energia da Rússia para manter seu poder industrial e que o embargo é negativo para o país.
Schroeder, que quando estava no governo supervisionou a construção do projeto do primeiro oleoduto Nord Stream e passou a aconselhar várias empresas de energia russas, não é ó único que tem essa opinião. Sua sucessora, Angela Merkel, desafiou ameaças de sanção dos EUA e as ideias de que manter as obras seria fortalecer uma dependência da Rússia, e avançou com o oleoduto Nord Stream 2.
Já o atual governo composto pelo Partido Social-Democrata (SPD), os Verdes e o Partido Liberal (FDP) cancelou provisoriamente a certificação e inauguração do gasoduto poucos dias após o início operação da Rússia contra a Ucrânia e planeja o fechamento das três usinas nucleares restantes da Alemanha.
Mas, na hora em que essas medidas avançam a realidade vai se impondo e os líderes em Berlim estão percebendo que sem a energia russa, a economia da Alemanha pode entrar em colapso e adotam uma posição dúbia.
“Não vejo de forma alguma que um embargo de gás acabaria com a guerra”, ponderou o chanceler Olaf Scholz ao semanário alemão Der Spiegel, na última sexta-feira. “Queremos evitar uma crise econômica dramática, a perda de milhões de empregos e fábricas que nunca mais abririam. Isso teria sérias consequências para nosso país, para toda a Europa, e também afetaria severamente o financiamento da reconstrução da Ucrânia”, constatou.
Os industriais alemães adotaram uma posição semelhante. A BASF, a maior empresa química do mundo, alertou há várias semanas que pararia a produção se as importações de gás da Rússia fossem interrompidas. O chefe da Federação das Indústrias Alemãs também afirmou que um embargo de gás levaria ao “colapso virtual de nossas redes industriais”.
O gás é o produto mais lembrado quando se trata da relação energética de Berlim com Moscou, dado que o país importa mais da metade de seu gás natural da Rússia. No entanto, a Alemanha também recebe da Rússia mais de um terço de seu petróleo importado, e a UE está se aproximando da proibição dessa comercialização vital, embora em meio a protestos da Alemanha.
“Um terço de nossas importações de petróleo vem da Rússia”,assinalou a ministra das Relações Exteriores Annalena Baerbock ao canal de vídeo do jornal Bild no mês passado. “Se pararmos com isso imediatamente, amanhã não poderemos mais produzir na Alemanha”, declarou. No entanto, desde então, atendendo às pressões principalmente dos Estados Unidos, ela modificou sua posição para apoiar uma proibição faseada de petróleo e gás.
O banco central alemão calcula que a economia do país, a maior da Zona Euro, iria retrair-se 2% só em 2022, se o embargo ao carvão e petróleo russos levasse a restrições aos fornecedores de energia e à indústria. O corte repentino do fornecimento da energia russa à Alemanha iria representar uma quebra de 6,5% na produção do país ou 220 mil milhões de euros, de acordo com um estudo conjunto dos principais institutos econômicos da Alemanha.
Com o governo alemão pedindo aos cidadãos para baixarem seus termostatos e tomarem banhos mais curtos para ‘punir’ Putin de alguma forma , Schroeder insistiu ao Times que um embargo energético total “não acontecerá”.