Nível de endividamento das famílias brasileiras, que passaram a recorrer ao crédito para complementar a renda em um cenário de carestia, aperto e altos juros, bate recorde. Já os bancos aumentam arrocho ao crédito
Enquanto os brasileiros buscam margem nas rendas, os bancos – que continuam tendo lucros espetaculares, mesmo em meio à crise – resolveram apertar a oferta de crédito e eleva as taxas de juros por seus serviços na esteira da Selic (taxa básica de juros), que hoje atinge 11,75% ao ano.
A prática de cobrança de juros que beira a agiotagem contribui para elevar ainda mais o endividamento da população. Sem margem para a manutenção dos lares e pagamento de dívidas, a inadimplência – quando o pagamento de uma dívida atrasa e vai para protesto – também só cresce nos últimos meses. A taxa de inadimplência média registrada pelos bancos nas operações de crédito avançou de 2,3% em dezembro do ano passado para 2,5% em janeiro.
O cartão de crédito, com taxa de juros anual média de mais de 350%, é um desses exemplos. Com a população recorrendo a ele para as despesas mais básicas, a procura pelo rotativo do cartão de crédito foi, em 2021, a maior dos últimos 10 anos, segundo o Banco Central.
“Quando a economia vai bem, as pessoas tomam crédito para comprar imóvel e carro. Hoje, as pessoas usam cheque especial e cartão de crédito para que o salário chegue ao final do mês”, afirma Luiz Rabi, economista do Serasa.
Os dados mostram que as concessões de crédito para pessoas físicas específicas para cartão de crédito totalizaram R$ 151 milhões em janeiro deste ano, o que representa uma queda mensal de 9% (R$ 166 milhões) e alta anual de 35% (R$ 112 milhões).
A concessão de crédito total para pessoas físicas, por sua vez, registrou queda de 17,5% de dezembro de 2021 a janeiro de 2022 (de R$ 445 milhões para R$ 367 milhões).
BANCOS LUCRAM
Enquanto os bancos retêm o crédito e cobram abusivamente pelos serviços financeiros, mais um ano de recorde nos lucros é esperado. Abrindo a temporada de divulgação de resultados, o Santander Brasil declarou ter lucrado R$ 3,946 bilhões no primeiro trimestre de 2022 – o que representa uma alta de 40,1% na comparação com os últimos três meses do ano passado.
De acordo com um ranking divulgado pela consultoria Economática na semana passada, quatro dos 10 bancos com maior rentabilidade do mundo são brasileiros, incluindo Itaú, Bradesco e Santander.