“Assim como o governo alemão, nós aceitamos as condições de pagamento da Rússia”, afirmou o primeiro-ministro Karl Nehammer
A empresa austríaca de petróleo e gás OMV acatou nesta quarta-feira (27) as exigências determinadas pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, para continuar com o fornecimento de gás: o pagamento em rublos. Para tanto, será aberta uma conta no banco russo Gazprombank, anunciou nesta quarta-feira (27) o primeiro-ministro austríaco Karl Nehammer.
“Nós, ou seja, a estatal OMV, aceitamos as condições de pagamento, assim como o governo alemão. As condições foram consideradas de acordo com os termos das sanções. Isso foi importante para nós”, afirmou o chefe de governo, em entrevista coletiva. Segundo dados do governo de Viena, as importações da Rússia respondem por 80% do consumo de gás do país.
Em 1º de abril entrou em vigor o decreto de Putin para o uso do rublo no comércio de gás com os ‘países hostis’, aqueles que endossaram as sanções dos EUA contra a Rússia, após Moscou iniciar uma operação de proteção das populações civis do Donbass, sob ameaça de iminente blitzkrieg do exército ucraniano e seus batalhões de neonazistas para proceder, pela terceira vez em oito anos, à tentativa de executar uma limpeza étnica dos de fala russa, que vivem na região há centenas de anos.
A medida de uso do rublo no pagamento do gás russo se tornou imprescindível já que, sob as rígidas sanções, pagamentos feitos dentro da União Europeia, embora nominalmente destinados à Gazprom, podiam simplesmente ser sequestrados – o que aliás foi feita com metade das reservas cambiais russas – e, portanto, na prática os europeus estavam exigindo que a Rússia fornecesse gás por filantropia.
Tal como afirmou em 23 de março o presidente russo, Vladimir Putin: “Fornecemos os nossos recursos, neste caso gás, aos consumidores europeus. Eles receberam-nos, pagaram-nos em euros que depois congelaram por conta própria . Neste caso, há todas as razões para considerar que fornecemos parte do gás enviado para a Europa praticamente de graça”.
Assim, a medida estabeleceu que os compradores devem abrir duas contas, uma em euros e a outra em rublos, em banco dentro do território da Rússia, com o Gazprombank, que não está sob sanções, executando a conversão, através da Bolsa de Moscou, depositando na conta em rublos e então sendo feito o pagamento à gigante estatal russa do gás.
UNIPER
Além da sinalização, feita pelo primeiro-ministro austríaco, de que a Alemanha também irá adotar o pagamento do gás em rublos, a principal empresa alemã compradora do combustível, a Uniper, confirmou essa possibilidade, que está sendo discutida com o governo.
“Até o momento, o fluxo de gás russo sob nosso contrato de longo prazo existente permanece intocado. Estamos em discussões em andamento com a Gazprom sobre a implementação do decreto russo sobre pagamento em rublos, dadas as declarações da Comissão Europeia sobre sanções”, disse adiretora financeira da empresa, Tiina Tuomela, durante uma teleconferência na quarta-feira, conforme a agência TASS.
O próprio primeiro-ministro alemão, Olaf Stolz, vem recusando as pressões de Washington e Bruxelas, advertindo que um embargo do gás russo levaria a uma “crise dramática, com milhões de desempregados e fechamento de fábricas que jamais reabririam”. Seu ministro da economia disse que isso “acabaria com a paz social na Alemanha”.
10 EMPRESAS EUROPEIAS JÁ ADERIRAM
Segundo a Bloomberg, dez empresas de energia europeias já abriram as contas necessárias no banco russo Gazprombank para poder efetuar pagamentos em rublos. A Hungria confirmou a adoção do mecanismo de pagamento em rublos pelo gás; a Moldávia já tinha essa cláusula em recente contrato.
Na quarta-feira, a Gazprom suspendeu o fornecimento de gás para a Bulgargaz (Bulgária) e para a PGNiG (Polônia), depois de se recusarem a pagar o combustível em rublos. O fornecimento será prontamente restaurado, assinalou o Kremlin, caso os dois países adotem o novo mecanismo.
Como Polônia e Bulgária são países de trânsito do gás, a Gazprom alertou que “em caso de extração não autorizada de gás russo de volumes em trânsito para terceiros países, os suprimentos para trânsito serão reduzidos nesse volume”. A Hungria recebe o gás via Bulgária.
HIPOCRISIA DE MADAME VON DER LEYEN
A suspensão do fornecimento de gás russo por falta de pagamento da Bulgária e da Polônia foi prontamente classificado de “chantagem” da Rússia, ato “unilateral” e “violação de contrato” pela presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen.
Logo ela, uma das mais entusiastas defensoras do roubo das reservas cambiais russas e da decretação de sanções que, sob o direito internacional e as normas do comércio global, são ilegais, unilaterais e abusivas. 45% do gás usado pelo bloco europeu provém da Rússia.
Como efeito colateral, a interrupção do fornecimento do gás russo à Bulgargaz e à PGNiG causou alta no preço do gás no mercado spot na Europa, que ultrapassou os US$ 1.300 por 1.000 metros cúbicos de gás (o que é o quádruplo do preço médio do gás russo).