O reitor da Universidade de São Paulo (USP), Vahan Agopyan, precisou de escolta policial para se retirar da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), na última quarta-feira (16), após protesto de estudantes, funcionários da instituição e moradores da região do Butantã – bairro onde a universidade está localizada, que questionava a situação precária do Hospital Universitário (HU).
Os manifestantes cobraram a aplicação do repasse extra de R$ 48 milhões, aprovado pelos parlamentares para o HU e que a gestão Vahan resolveu destinar a outras áreas da universidade.
A verba extra foi garantida ao hospital, que vive uma intensa crise financeira, após uma grande mobilização da comunidade acadêmica e dos moradores da região, que necessitam do HU. Uma emenda destinando R$ 48 milhões em royalties do petróleo para a instituição foi aprovada pela Alesp em dezembro de 2017 e destinada à contratação de profissionais de saúde.
Entretanto, foi publicada pelo relator do orçamento, o deputado Marco Vinholi (PSDB), como verba de custeio e não como gasto em pessoal, como previsto. Vahan, que apesar de ocupar o cargo de reitor, defende uma lógica privatista para a universidade, usou isto para impedir que novos profissionais sejam contratados. Mantendo assim o HU à beira do fechamento.
“A gente está aqui na batalha para fazer essa correção na rubrica para que o dinheiro possa ser gasto na contratação de pessoal”, afirmou Barbara Delatorre, funcionária do Hospital da USP e integrante do Movimento Butantã na Luta.
Vinholi alegou que, no seu entendimento, isso não impediria a contratação de profissionais de saúde. “Entendemos que custeio seria possível para a contratação de pessoal. Quando conversamos com o reitor, ele nos passou que não”, disse o deputado.
DESMONTE
Enquanto isso o hospital segue sucateado, e a população a mercê de um precário serviço de saúde. De acordo com dados do movimento Coletivo Butantã na Luta, o HU atendia 17 mil pessoas por mês a quatro anos atrás. Atualmente ele atende três mil.
Lester Amaral Júnior, da coordenação do Coletivo ‘Butantã na Rua’ afirmou que “o HU fazia 30 partos por mês, faz três. Tem oito centros cirúrgicos, tem dois funcionando mal. Ele está praticamente fechado”. “O HU tinha 1800 funcionários, hoje tem menos de 1400”, denunciou Lester. Desde o final de 2013, o hospital perdeu 406 profissionais, por conta do Plano de Demissão Voluntária (PVD).
As categorias mais atingidas são de médicos, enfermeiros, assistentes sociais e técnicos de enfermagem. Em novembro de 2017 o Pronto-Socorro Infantil foi fechado, em dezembro foi a vez do fechamento parcial do Pronto-Socorro Adulto. Atualmente atendem somente casos de emergência e pacientes encaminhados por outros serviços de saúde. De acordo com o Coletivo 60 mil crianças na região deixaram de ser atendidas com o fechamento do PS Infantil.
Há uma redução também de 20% de leitos para internação e 40% para leitos de terapia intensiva.
O reitor da USP esteve na Alesp para prestar contas sobre sua gestão à Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação, de acordo com o que prevê a Constituição do estado de São Paulo. Durante a reunião, ele foi questionado por deputados sobre o orçamento do Hospital e disse que aguarda um mapeamento da situação do HU.
Em entrevista a “Veja”, Vahan, considera ser injusto que a universidade arque com os custos do hospital universitário. “Não acho certo desviarmos recursos do ensino e pesquisa para mantermos sozinhos um hospital que atende a população do estado inteiro”, disse o reitor, ignorando o fato de que o HU-USP é um dos mais respeitados centros de ensino do país.