
O Ministério Público do Rio de Janeiro iniciou nesta terça-feira (10) uma operação contra quadrilha liderada pelo contraventor Rogério de Andrade, junto de seu filho Gustavo, e que conta com a participação de ‘dezenas’ de criminosos, entre eles Ronnie Lessa, acusado pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018.
O MP denunciou 30 pessoas por uma organização criminosa voltada à exploração de jogos de azar (bingo) não só no Rio de Janeiro. Os envolvidos são acusados por crimes de organização criminosa, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.
Na operação, batizada Calígula, agentes cumpriram 29 mandados de prisão e buscaram 119 endereços, incluindo quatro bingos comandados pelo grupo de Rogério e Lessa. Segundo a Promotoria, 9 pessoas foram presas.
De acordo com o jornal O Globo, a operação apreendeu R$ 2 milhões em espécie na casa da delegada licenciada Adriana Belém.
Segundo o MP, a quadrilha ‘há décadas exerce o domínio de diversas localidades, fundamentando-se em dois pilares: a habitual e permanente corrupção de agentes públicos e o emprego de violência contra concorrentes e desafetos, sendo esta organização criminosa suspeita da prática de inúmeros homicídios’.
De acordo com o MP, Rogério de Andrade e Ronnie Lessa mantém uma ‘parceria antiga’, sendo identificadas ligações entre a dupla ao menos desde 2009, ‘quando Ronnie, indicado como um dos seguranças de Rogério, perdeu uma perna em atentado à bomba que explodiu seu carro’.
Segundo o órgão, o bingo financiado por Rogério e administrado por Ronnie e Gustavo de Andrade foi fechado pela Polícia Militar no dia de sua inauguração. “Em seguida, após ajustes de corrupção com policiais civis e militares, a mesma casa foi reaberta, e as máquinas apreendidas foram liberadas”, narrou a Promotoria.
Ao todo, 12 pessoas foram presas, 24 pedidos de prisão foram expedidos, 119 mandados de busca e apreensão foram cumpridos e 30 pessoas foram denunciadas. Outra duas pessoas envolvidas na ação são o PM reformado Ronnie Lessa e Márcio Araújo, acusado de participar da morte do contraventor Fernando Iggnácio. Vale lembrar que os dois já estavam presos. Conheça os alvos da Operação Calígula:
ASSASSINATO DE MARIELLE
Segundo a Promotoria diz que, em 2018, ano do assassinato de Marielle e Anderson, “os dois denunciados se reaproximaram, e Rogério novamente se aliou a Ronnie e pessoas a este ligadas, abrindo uma casa de apostas na localidade conhecida como Quebra-Mar, na Barra da Tijuca, havendo elementos indicando a previsão de inauguração de outras casas na Zona Oeste do Rio”.
Durante a coletiva, na tarde de terça-feira (10), que o bicheiro Rogério de Andrade está na linha de investigação como o possível mandante da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
“A possibilidade do envolvimento de Rogério de Andrade com a morte de Marielle Franco passa a ser alvo de uma investigação do MP. Há várias linhas sendo investigadas, essa é uma delas. Ainda não há elementos que descartem essa possibilidade. Há um histórico entre ele [Rogério] e o executor [Ronnie Lessa]”, afirmou o promotor Diogo Erthal.
Rogério e o seu filho, Gustavo de Andrade, são considerados foragidos. A Justiça autorizou a inclusão do nome do bicheiro na lista de difusão vermelha da Interpol.
Nunes Marques revogou pedido de prisão contra Rogério Andrade
Em 22 de maio, a Segunda Turma do STF revogou pedido de prisão preventiva e decidiu encerrar ação penal contra Rogério de Andrade.
Ele é apontado como suposto mandante do assassinato de Fernando Iggnácio, genro e herdeiro de Castor de Andrade. Iggnácio foi executado em novembro de 2020 no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
A defesa de Andrade, sobrinho de Castor, foi responsável pelo pedido de revogação da prisão ao alegar não haver provas de sua participação no crime.
Em seu voto, o relator da ação, o ministro Nunes Marques, indicado ao STF pelo presidente Jair Bolsonaro, defendeu o encerramento da ação e disse entender que a paralisação do processo não impede a continuidade das investigações, nem que uma nova denúncia seja apresentada à Justiça, caso surjam novos elementos.
Três ministros acompanharam o relator e votaram pelo encerramento da ação: André Mendonça, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes.
Desde a morte de Castor de Andrade, em 1997, Iggnácio e Andrade disputavam o controle e pontos de exploração do jogo do bicho, videopôquer e máquinas de caça-níquel na Zona Oeste, segundo denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro.