Vilão da inflação que explodiu no ano passado, Bolsonaro diz que não tem nada com isso. Culpa os governadores, cientistas, médicos e a guerra “muito longe de nós”
Os preços dos produtos da cesta básica registram alta que chegam até 18% na passagem de março para abril. Em 1 ano, a alta chega a até 103%. É o que apontam os números do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – inflação oficial do país, medida pelo IBGE. O indicador geral registrou alta de 1,06% em abril – a maior para o mês desde 1996 – e acumula alta de 12,13%, em 12 meses.
Depois de acabar com os estoques reguladores e liberar geral os preços dos combustíveis, das tarifas de energia e estimular a exportação de alimentos em detrimento da segurança alimentar do brasileiro na pandemia, Bolsonaro voltou a criticar, na quarta-feira (11), as medidas tomadas para conter o avanço da Covid no país, culpando os governadores e profissionais da saúde – “fique em casa que a economia a gente vê depois” e a guerra – “também estamos sendo atingidos por uma guerra muito longe de nós”, disse o vilão da inflação. Não cuidou da saúde dos brasileiros e nem da economia. O Brasil está hoje entre os poucos países do mundo com as taxas de inflação, desemprego e juros altos com dois dígitos.
Além de tudo isso, a renda desaba e os preços dos alimentos estão assustando os brasileiros, cada vez mais endividados com bancos para comprar comida. Situação ainda mais grave para os que não têm renda ou recebem menos que o salário mínimo. Em abril, o trabalhador comprometeu em média, 61% do salário mínimo para adquirir os produtos da cesta básica, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A cesta mais cara – valores médios – foi encontrada a R$ 803,99 em São Paulo, seguida por R$ 788,00 em Florianópolis, R$ 780,86 em Porto Alegre, e Rio de Janeiro R$ 768,42.
Em abril, o grupo Alimentação e bebidas variou em alta de 2,06%. Considerando apenas os produtos da cesta básica, a disparada foi ainda maior, com altas que chegam a mais de 18%.
Veja abaixo as variações dos preços dos produtos da cesta básica no mês de abril, segundo o IBGE:
Batata-inglesa: 18,28% – subgrupo “tubérculos, raízes e legumes”: 8,09%
Leite longa vida: 10,31% – subgrupo “leite e derivados”: 5,52%
Tomate: 10,18% – subgrupo “tubérculos, raízes e legumes”: 8,09%
Óleo de soja: 8,24% – subgrupo “óleos e gorduras”: 6,17%
Farinha de trigo: 7,34% – subgrupo “farinha, féculas e massas”: 3,45%
Feijão carioca: 7,10% – subgrupo “cereais, leguminosas e oleaginosas”: 2,90%
Pão francês: 4,52% – subgrupo “panificados”: 3,31%
Café moído: 2,50% – subgrupo “bebidas e infusões”: 2,01%
Manteiga: 2,37% – subgrupo “leite e derivados”: 5,52%
Arroz: 2,22% – subgrupo “cereais, leguminosas e oleaginosas”: 2,90%
Carnes: 1,02% – destaque para cupim (2,46%), patinho (1,85%) e acém (1,51%)
Açúcar refinado: 0,10% – subgrupo “açúcares e derivados”: 1,47%
Única queda:
Banana: de -8,46% (banana-maçã) a 3,96% (banana-da-terra) – subgrupo “frutas”: -2,72%
Em 12 meses até abril, a alta observada nos produtos da cesta básica chega a até 103%. Veja as variações dos preços dos produtos da cesta básica no último ano:
Tomate: 103,26% – subgrupo “tubérculos, raízes e legumes”: 69,90%
Café moído: 67,53% – subgrupo “bebidas e infusões”: 20,23%
Batata-inglesa: 63,40% – subgrupo “tubérculos, raízes e legumes”: 69,90%
Açúcar refinado: 36,99% – subgrupo “açúcares e derivados”: 18,54%
Óleo de soja: 31,53% – subgrupo “óleos e gorduras”: 26,40%
Leite longa vida: 23,37% – subgrupo “leite e derivados”: 18,07%
Farinha de trigo: 23,23% – subgrupo “farinha, féculas e massas”: 16,28%
Banana: até 17,36% (banana-prata) – subgrupo “frutas”: 17,49%
Pão francês: 13,09% – subgrupo “panificados”: 13,83%
Manteiga: 10,05% – subgrupo “leite e derivados”: 18,07%
Feijão carioca: 9,40% – subgrupo “cereais, leguminosas e oleaginosas”: -7,19%
Carnes: 8,06% – destaque para fígado (19,35%), contrafilé (15,66%) e alcatra (13,17%)
Arroz: -11,53% – subgrupo “cereais, leguminosas e oleaginosas”: -7,19%
COMBUSTÍVEIS ACELERAM INFLAÇÃO
Entre os vilões para a disparada dos preços dos alimentos no Brasil estão os combustíveis, cujos preços são administrados pelo governo federal. Quando os preços dos combustíveis sobem acompanhando o dólar e os preços internacionais do barril de petróleo, os alimentos e demais serviços que dependem do transporte ficam mais caros para os brasileiros que recebem em real – e que tem sua renda esmagada pela falta de ganhos reais nos últimos anos.
Com os sucessivos aumentos nos preços dos combustíveis, em 12 meses, o preço do óleo diesel acumula alta de 53,58%. O da gasolina subiu 31,22%. O etanol chegou a 42,11%. Gás veicular 45,18%. Já a alta acumulada do gás de botijão chegou a 32,34% e do gás encanado em 35,21%.