O funeral da jornalista palestina, Shireen Abu Akleh, foi violentamente atacado pelas tropas de ocupação que a assassinaram quando de sua passagem pela Jerusalém Árabe (Leste). No ataque foram usados cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo, além de chutar e empurrar os participantes enlutados. Além de cargas com cavalaria. Os policiais israelenses se aproximaram do caixão com o corpo da jornalista e arrancaram a bandeira palestina que o envolvia. Palavras de ordem contra a ocupação foram ouvidas por todo o trajeto.
Não fosse a resistência dos que estavam mais próximos do corpo de Shireen, o caixão teria caído ao solo.
A jornalista, que também tem nacionalidade norte-americana era a principal correspondente da rede Al Jazeera nos territórios palestinos ocupados e foi morta com um tiro à altura do rosto na entrada do campo de refugiados palestinos de Jenin onde informava de mais uma razia das forças israelenses no local. O maior dos morticínios na Jenin rebelada durante a Segunda Intifada é relatado no filme Jenin, Jenin.
Apesar da violência e dos bloqueios no caminho por onde passaria o féretro, o corpo de Shireen seguiu seu curso, saindo de Jenin onde ela foi assassinada apesar de vestir um colete com destaque para a palavra PRESS. O cortejo fúnebre seguiu até Nablus, Ramallah e depois para a capital palestina, a Jerusalém Árabe.
Na cidade murada entrou pelo portão Jaffa (Bab El Khalili – portão do amigo – em árabe) e se dirigiu para ser pranteada na Igreja da Anunciação.
Foi nas proximidades do Portão Jaffa e do hospital francês St. Louis no bairro de Sheikh Jarrah – de onde Israel pretende expulsar moradores antigos de Jerusalém – que o cortejo foi atacado, mas conseguiu prosseguir até o cemitério do Monte Sião .
“FOI CRIME DE EXECUÇÃO”, AFIRMA A PRESIDÊNCIA PALESTINA
O presidente palestino, Mahmud Abbas, condenou “o crime de execução” pelas forças de ocupação. Abbas prosseguiu afirmando que “a Presidência palestina responsabiliza, na totalidade, o governo israelense por este crime hediondo, parte da política exercida diariamente contra nosso povo, sua terra e seus locais sagrados”.
Abbas enfatizou que a “execução da jornalista Shireen e o ferimento à bala do jornalista Ali Samoudi é parte da política de ocupação de mirar em jornalistas para obscurecer a verdade e tentar cometer seus crimes em meio a um silêncio geral”.
O escritório da representação da União Europeia em Jerusalém se declarou “estarrecido pela violência nas proximidades do hospital St. Joseph e com o nível de força repressora desnecessário exercido pela polícia israelense ao longo da procissão do funeral da jornalista da Al-Jazeera, Shireen Abu Akleh.
Representantes do escritório da União Europeia compareceram ao enterro no Monte Sião e expediram uma declaração condenando a violência: “Tal comportamento desproporcional só serve para elevar ainda mais as tensões. Mesmo com essa violência, ao final, Shireen Abu Akleh recebeu um honrado adeus no cemitério Monte Sião, que descanse em paz”.
Especialistas da Comissão de Direitos Humanos da ONU para a Palestina – escritório sediado em Genebra declararam um “crime de guerra o assassinato da jornalista Abu Akleh que estava cumprindo suas obrigações como jornalista”.
Para os comissários, o assassinato da jornalista “é parte de um continuado e intenso ataque a jornalistas na Cisjordânia e em Gaza. Mais de 40 jornalistas foram mortos desde o ano 2000, com outras centenas de feridos ou atingidos por violência no curso de seu trabalho somente por serem jornalistas”.
“O assassinato de Abu Akleh é mais um sério ataque contra a liberdade de imprensa e de expressão em meio a uma escalada de violência na Cisjordânia ocupada. As autoridade têm a obrigação de dar proteção aos trabalhadores de mídia, diante da Lei Internacional e nas prerrogativas dos direitos humanos”, finaliza o comunicado.
Considerando o ataque a jornalistas nos territórios palestinos ocupados e a falha deliberada de Israel nas investigações destes assassinatos constitui uma violação do direito à vida e a sua proteção, a Federação Internacional dos Jornalistas submeteu uma queixa formal ao Tribunal Penal Internacional.
Em sua declaração, a Federação destaca que “o papel crítico dos jornalistas, especialmente em um contexto de elevada tensão, que é marcada por continuados abusos, como ocorre nos territórios ocupados”.
“A falta de responsabilização dá carta branca à continuidade das execuções extrajudiciais. A segurança dos jornalistas é essencial para a garantia da Liberdade de expressão e de imprensa“, diz ainda a Federação de Jornalistas.
CRESCE A VIOLÊNCIA
A violência tem aumentado nos últimos anos, informa a agência palestina Wafa. O ano de 2021 foi marcado pelo maior número de mortes de palestinos devido a confrontos com as forças de ocupação desde 2014. Também é registrado o maior número de incidentes agressivos partindo de colonos israelenses que constroem unidades residenciais em terras assaltadas aos palestinos desde 2017.
Veja o vídeo com o ataque ao cortejo de Shireen e trechos da trajetória da jornalista em denúncias dos crimes da ocupação israelense:
NATHANIEL BRAIA