
A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), enviou para a Procuradoria-Geral da República (PGR) o pedido de investigação contra Jair Bolsonaro pelo crime de racismo por ter associado um homem negro à medida de peso arroba, usada para pesar gado e outros animais.
No dia 12 de maio, em frente ao Palácio da Alvorada, Jair Bolsonaro perguntou, aos risos, a um homem negro: “Tu pesa quanto? Mais de sete arrobas, né?”.
“Sabia que eu já fui processado por isso? Chamei um cara de oito arrobas”, comentou. O homem com quem Bolsonaro conversava era Serjão Oliveira (PTB), presidente da Câmara Municipal de Holambra.
“Tal declaração possui cunho inegavelmente racista, tendo em vista que arroba é uma medida utilizada para pesar animais”, pontua a ministra.
“Ao utilizar o termo, há um claro intuito de associar a pessoa negra a um animal, explicitando o racismo da conduta”, sustentou o magistrado.
“Sabe-se que a arroba é uma unidade de medida de peso, equivalente a aproximadamente 15 quilogramas, utilizada majoritariamente a animais destinados ao consumo humano, o que revela a visão animalizada que Jair Messias Bolsonaro tem da população negra e que, na qualidade de Presidente da República, a propaga”, continuou.

O pedido de investigação foi apresentado pelo deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos. Pelas redes sociais, Orlando ressaltou que “não é a primeira vez que Bolsonaro ofende e humilha negros e negras. Não aceitaremos! Para cada gesto racista haverá uma resposta à altura”.
“As reiteradas falas racistas de Bolsonaro não podem ser entendidas apenas como injúria racial ou como piadas de mau gosto, sendo, na verdade, a prática inequívoca de preconceito, induzindo a discriminação racial por parte de outros brasileiros”, afirmou.
Em 2017, quando ainda era deputado, Bolsonaro também mostrou seu racismo em uma palestra. “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais”, falou.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, foi indicado para o cargo para Jair Bolsonaro e tem atuado como seu advogado. Dezenas de pedidos de investigação contra Bolsonaro foram arquivados ou deixados de lado através das “apurações preliminares”, apesar das abundantes provas e evidências de crime.
Enquanto presidente, Jair Bolsonaro indicou seu aliado Sérgio Camargo para acabar com a atuação da Fundação Palmares no combate ao racismo e na promoção da igualdade racial.
Camargo disse que o movimento negro era “inútil e ridículo” e que queria mudar o nome da instituição para “Fundação Princesa Isabel”. “A era da reafricanização e do senzalismo acabou na Palmares. Aceitem e criem a própria fundação vitimista, com recursos do movimento negro, que não trabalha e nada produz”, declarou o indicado de Bolsonaro.
Questionado sobre nunca ter recebido lideranças do movimento negro na Fundação, respondeu que é “um negro livre! Não tenho que dialogar com escravos”.
Sobre o assassinato do congolês Moïse Kabagambe, no Rio de Janeiro, o ex-presidente da Fundação Palmares acusou-o de ser “um vagabundo morto por outros vagabundos”.