Alta da inflação é um dos efeitos colaterais da blitzkrieg econômica de Washington contra a Rússia
“Não somos a fonte do problema”, mas sim “aqueles que impuseram sanções contra nós, e as próprias sanções”, afirmou na segunda-feira (23) o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, rechaçando as acusações da Casa Branca e suas câmaras de eco no G7, de que a Rússia estaria ameaçando o mundo ‘com a fome’ e fazendo a ‘inflação disparar’ por supostamente restringir as exportações de grãos e fertilizantes. Como ele destacou, a Rússia “sempre foi um exportador de grãos bastante confiável”.
Sobre isso, o presidente russo Vladimir Putin já advertira, em recente reunião em Moscou sobre as medidas econômicas, que os autores das sanções, “guiados por ambições políticas míopes e infladas, pela russofobia, atingiram em maior medida seus próprios interesses nacionais, suas próprias economias, o bem-estar de seus cidadãos. Vemos isso, em primeiro lugar, em um aumento acentuado da inflação na Europa”.
A continuação dessa “obsessão por sanções” do Ocidente inevitavelmente levará às “consequências mais difíceis e intratáveis” para a União Europeia, bem como para os países mais pobres do mundo, ele acrescentou, sublinhando que a culpa é “inteiramente das elites dos países ocidentais, que estão prontas para sacrificar o resto do mundo para manter seu domínio global”.
Na verdade, a Rússia não inventou a alta da inflação nem os gargalos no abastecimento global, que já estavam em curso no ano passado com o esforço de retomada da economia no mundo inteiro após a pandemia amenizar com a expansão da vacinação.
Mas foi a blitzkrieg [guerra relâmpago] econômica, abertamente assumida por Washington e Bruxelas como destinada a destruir a economia russa, por atingir o gás e o petróleo e as exportações russas, o que agravou a situação. E, como um bumerangue, retornando sobre os decretaram tais sanções.
Ao tirarem artificialmente do mercado um produto básico – como o gás ou trigo -, isto é, reduzirem a oferta, obviamente a consequência é aumentar o preço, causar inflação.
No entanto, tal blitzkrieg econômica fracassou em abafar a iniciativa da Rússia de, depois de oito anos de tentativas de fazer com que o regime de Kiev desistisse da limpeza étnica contra o Donbass e do rompimento com o status de país neutro, bem como cumprisse com os acordos de Minsk assinados, iniciou uma operação militar especial para proteger a população russófona e desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia, praticamente em tudo já tornada um puxadinho antirrusso da OTAN.
ESTAGFLAÇÃO
A guerra econômica total contra a Rússia – que incluiu confisco de reservas cambiais, desligamento da maioria dos bancos russos do principal sistema de pagamentos global, sanções autorizando o roubo dos pagamentos pelo gás, petróleo e quase todas as demais exportações russas – teve como efeito colateral fazer disparar os preços dos combustíveis, acionando a ciranda da inflação e, teme-se, da estagflação (recessão mais inflação alta), o que já se estendeu aos grãos, óleo de cozinha e fertilizantes, produtos dos quais a Rússia é um dos principais fornecedores.
“Tenho a impressão de que os colegas ocidentais, políticos e economistas, simplesmente esqueceram os elementos básicos das leis da economia ou deliberadamente as ignoram. Tal auto de fé econômico, o suicídio é, naturalmente, um assunto interno dos países europeus”, reiterou Putin, chamando a “agir pragmaticamente, partindo principalmente de nossos próprios interesses econômicos”.
Em abril, a inflação média na Zona do Euro chegou a 7,5%, em comparação com os preços praticados no mesmo período do ano passado — segundo o Eurostat, a agência responsável por dados estatísticos na UE, os preços do setor de energia tiveram alta de 38% em abril em relação a 2021.
Nos EUA, o próprio Biden andou culpando “Putin” pela inflação, que bateu o recorde de 40 anos (8,5%) – embora o eleitorado não pareça estar acreditando nisso. O leite em pó para bebês e recém nascidos também sumiu das prateleiras nos EUA – e a Rússia não tem nada com isso.
Essa especulação com o preço dos grãos, que, como se sabe, é cometida por um seleto grupo de grandes traders multinacionais, já forçou outro grande exportador de trigo, a Índia, a suspender a exportação para evitar que os preços internos sejam afetados, causando fome. Medida também tomada pela Rússia, no caso com prazo até 31 de agosto.
PORTO DE ODESSA
Com a liberação do porto de Mariupol das mãos dos neonazis do Batalhão Azov, cresceu nos últimos dias a grita de que a Rússia mantém sitiados os “portos ucranianos” e em especial, Odessa, e supostamente impede a saída de “20 milhões de toneladas” de grãos que ajudaria a evitar a fome no mundo. No entanto, não é a Rússia que está retendo grãos ucranianos ou bloqueando seus portos marítimos. A Ucrânia faz isso sozinha, registrou o jornal Vzglyad.
Como relata a Sede de Coordenação Conjunta Russa para Resposta Humanitária na Ucrânia: “75 navios estrangeiros de 17 países permanecem bloqueados em sete portos ucranianos. A ameaça de bombardeios e o alto risco de minas criado pelo regime de Kiev em suas águas internas e mar territorial impede que os navios deixem os portos com segurança e cheguem ao mar aberto”.
A Rússia vem abrindo diariamente das 08:00 às 19:00 (hora de Moscou) um corredor humanitário, que é uma via segura a sudoeste do mar territorial da Ucrânia, com 80 milhas náuticas de comprimento e 3 milhas náuticas de largura, mas nenhum navio obteve permissão de Kiev para partir.