Reunião de ‘arrecadação’ foi no fim de semana e vazou. Bolsonaro compareceu. Investigados e condenados, como Nei Garimpeiro, Maurício Tonhá, Waldemar da Costa Neto e Cidinho Santos, estavam entre os presentes
Jair Bolsonaro se reuniu discretamente, ou seja, sem agenda pública, com um grupo de ruralistas, lobistas e garimpeiros para organizar a arrecadação de dinheiro para a sua campanha. O ato ocorreu numa casa na Península dos Ministros, em Brasília. Políticos também acorreram ao chamado.
No encontro, que ocorreu no fim de semana, estavam presentes empresários investigados das operações Sanguessuga e Desolata, da Polícia Federal, lobistas, desmatadores, ruralistas, condenados pela Justiça, garimpeiros e outros seguidores de Bolsonaro. As informações são das jornalistas Julia Affonso e Mariana Carneiro, do Estado de S. Paulo.
O ex-senador Cidinho Santos (União Brasil) aparece como um dos organizadores. Em 2019, ele foi condenado pela 8.ª Vara da Justiça Federal, em Cuiabá, no âmbito da Operação Sanguessuga, por “inflacionar” equipamentos hospitalares quando era prefeito de Nova Marilândia (MT). Apelou ao Tribunal Regional Federal e a Procuradoria da República da 1.ª Região emitiu parecer pela anulação da sentença, mas o processo está parado.
Na mensagem do convite, além de Cidinho Santos, está o ex-prefeito de Água Boa (MT) Maurício Tonhá – dono da leiloeira de gado Estância Bahia. Eles disseram que o encontro era para ‘pagar os custos da campanha do presidente’”. Procurado pela reportagem, Cidinho disse desconhecer o convite que citava arrecadação para campanha. “Fizemos um almoço lá para a ministra Tereza, em homenagem a ela”, afirmou.
“Não teve esse objetivo de arrecadar nada, não”, desconversou Cidinho. “O presidente não estava nem previsto para estar lá”, acrescentou. A presença de Bolsonaro, porém, estava confirmada. “Tivemos um momento especial reunindo empreendedores de todo o País em apoio ao presidente Bolsonaro”, escreveu o ex-senador no Instagram. Apesar da desculpas, os presentes à reunião foram instados a contribuir com dinheiro.
Especialista em Direito Eleitoral, a advogada Juliana Bertholdi disse que a forma lícita de arrecadar recursos para campanhas, neste momento, é por meio de vaquinha virtual em plataformas autorizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Doações de empresas são proibidas. “Pessoa jurídica de forma alguma, em nenhum momento da campanha”, observou Juliana. As candidaturas podem ser registradas entre 20 de julho e 15 de agosto.
Valdemar Costa Neto, político que já foi condenado e preso por corrupção, e que dirige o PL – partido pelo qual Bolsonaro disputa a reeleição – também estava no encontro. A ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (Progressistas-MS), conhecida como “rainha do veneno”, por sua ligação com a disseminação descontrolada de agrotóxicos no país, e pré-candidata ao Senado, também compareceu. O titular da Secretaria de Governo, Célio Faria Júnior, acertava o almoço desde o início do mês, mas, mesmo assim, não o incluiu na agenda oficial de Bolsonaro.
Valdinei Mauro de Souza, o Nei Garimpeiro, era um dos mais entusiasmados. O homem que entrou na mira da Operação Desolata por garimpo ilegal, em Poconé (MT), desembarcou em Brasília em um avião Cessna, especialmente para almoçar com Bolsonaro. Já Maurício Tonhá, que caiu em uma investigação da Receita e foi citado na Lava Jato por vender bois para o doleiro Alberto Youssef, foi em voo de carreira. Como se vê, não foi por acaso que o garimpo ilegal e o desmatamento na Amazônia se espalharam de forma acelerada durante o governo Bolsonaro. Esses destruidores do meio ambiente literalmente têm “costas quentes”.
É esse tipo de gente que gritou “mito!”, “mito!”, quando Bolsonaro chegou para a reunião de arrecadação do dinheiro para a campanha “É muita satisfação encontrar pessoas que trabalham e lutam para fazer o Brasil dar certo”, disse ele, dirigindo-se aos lobistas, picaretas condenados e garimpeiros.
Após a saída do presidente, participantes da reunião foram instados a oferecer doações para a conta do PL. Com chapéu texano, o ruralista Celso Gomes dos Santos, o Celso Bala, contribuiu com R$ 500 mil.