“Democracia é feita pelo diálogo a entidade tem a obrigação institucional de receber o ministro”, disse a OAB local. Presidente do STF achou por bem suspender sua participação em palestra sobre palestra “Risco Brasil e Segurança Jurídica”
Um grupo com feições fascistas, insuflado por deputados bolsonaristas, fez ameaças à presença do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, na cidade gaúcha de Bento Gonçalves, onde ocorreria, no próximo dia 3 de junho, uma palestra do ministro, organizada pela CIC (Centro da Indústria, Comércio e Serviços) do município.
O evento foi cancelado porque a entidade avaliou que não poderia garantir a segurança do ministro. Conforme a CIC, a palestra com Fux ainda estava “em pré-agenda” na sexta-feira (20), quando alguns associados receberam o material de divulgação da palestra que teria como tema “Risco Brasil e Segurança Jurídica”.
Desde então, o grupo de apoiadores de Bolsonaro (PL) começaram a ameaçar com atos de violência contra a presença do ministro na cidade, o que levou a entidade a temer por sua segurança. “Em Bento Gonçalves ele não entra”, dizia uma das ameaças. A CIC, por meio de assessoria, afirmou que sua sede fica no Parque de Exposições da Fenavinho e que em caso de atos de violência no local, não haveria como assegurar a segurança do convidado.
A entidade, então, recorreu a uma das suas associadas, a subseção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) da cidade, que assumiu a organização do evento. A OAB local chegou a divulgar o evento em uma sede alternativa, o Spa do Vinho, onde o ministro ficaria hospedado. Afastado do centro da cidade e isolado, o local ficaria resguardado de eventuais protestos.
Porém, segundo o presidente da subseção da Ordem, Rodrigo Terra de Souza, o gabinete de Fux comunicou o cancelamento da palestra na manhã de quarta (25). “As coisas começaram a esquentar nas redes sociais na segunda-feira (23), e a CIC nos procurou. Acredito que faltou a quem se revoltou com a presença do ministro diferenciar preferências políticas de relações institucionais. Ficou muito mal para Bento Gonçalves rejeitar a presença do presidente de um dos Poderes na cidade”, diz Souza.
Antes de o gabinete de Fux solicitar o cancelamento, a subseção da OAB chegou a emitir uma nota em que se coloca como uma entidade “apartidária e apolítica”, diz que “democracia é feita pelo diálogo” e que a entidade tem a “obrigação institucional” de receber o ministro “independentemente de sentimentos e interesses políticos, concordâncias e discordâncias sobre posicionamentos do Supremo Tribunal Federal”.
O cancelamento do evento foi festejado pelo deputado bolsonarista federal Bibo Nunes (PL), incentivador dos atos de vandalismo. “Isso comprova que nenhum ministro do STF pode andar na rua no Brasil. Nem em local fechado”, disse ele. Para Bibo, “não se trata de uma demonstração de intolerância. Eu, em momento algum, incentivei qualquer tipo de vandalismo e de violência contra o ministro Fux. Trata-se de protesto pacífico, que é da democracia”, afirmou o instigador da violência.