
Tudo isso faz parte do script do ex-capitão para conturbar o processo eleitoral e tentar esgarçar o debate político-eleitoral
Desorientado política e eleitoralmente, o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, segue na cruzada contra as instituições democráticas. O alvo é o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e o sistema eleitoral.
Agora, Bolsonaro fez novo ataque ao presidente do TSE, ministro Edson Fachin, na ‘live’ semanal da sexta-feira (27) e mentiu que o ministro foi “advogado” do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
“Ministro Fachin, lá do Paraná, a gente sabe da vida pregressa dele, foi um militante de esquerda, advogado do MST. Isso é verdade, não é fake news”, disse o presidente, e completou que teria vídeo do ministro afirmando isso.
Fachin já negou publicamente que tenha sido advogado do MST. A informação falsa é usada com base no apoio dado pelo ministro ao MST, em 2008, quando assinou manifesto de apoio ao movimento.
DESMENTIDO
O ministro também já defendeu a real posição dele na sabatina no Senado, em 2015: “Tenho presente que ações realizadas dentro da lei são ações legítimas”, declarou.
Seguiu: “Algumas dessas ações, em determinados momentos, não obstante que carregue reivindicações legítimas, desbordam da lei. Mas aí, acabou a espacialidade da política e entra, evidentemente a espacialidade do limite. A lei, portanto, é o limite deste tipo de manifestação. E é nisso que o Estado Democrático de Direito convive.”
Seria legítimo, como advogado, o agora ministro, advogar para o MST. Todavia, ao fazer essa denúncia vazia, Bolsonaro expressa preconceito e com isso quer criminalizar o ministro para deslegitimar o TSE. Tudo isso faz parte do script para conturbar o processo eleitoral e tentar esgarçar o debate político-eleitoral.
PAUTA SUPERADA
Bolsonaro ainda criticou o ministro por anular, em 2021, todas as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) feitas pela Justiça Federal do Paraná no âmbito da Operação Lava Jato.
O ministro argumentou à época que os magistrados de Curitiba não eram o juízo competente para julgar Lula enquanto ele ainda era presidente da República e residia em Brasília. Na avaliação de Fachin, a Justiça Federal do Distrito Federal em Brasília é que deveria julgar os processos do ex-presidente.
“Muita gente fala qual o interesse do Fachin em descobrir ou dizer que o CEP da ação contra Lula na Lava Jato em Curitiba tinha que ser São Paulo ou Distrito Federal, o problema foi esse. Em cima disso, o senhor Fachin foi o relator de uma proposta, ele deu o sinal verde e a turma dele do Supremo, por 3×2, aprovou a descondenação do Lula, não foi absolvição. Parece que ficou aqui em Brasília. Um tremendo desgaste do senhor Fachin, sabe disso.”
TEORIA DA CONSPIRAÇÃO
Sem provas, o presidente da República também questionou qual seria o interesse de Fachin em anular essa condenação de Lula e alertou os apoiadores sobre “o terreno que estamos pisando”, desacreditando o tribunal.
“Colocou [Lula] para fora, no meu modesto entendimento, para [o petista] aparecer presidente da República. E deixo claro: quem é o atual presidente do TSE? É o senhor Edson Fachin. A conclusão fica para vocês entenderem qual é o terreno que estamos pisando.”
O bolsonarismo é fundado em teorias da conspiração e numa alta dose de farsa e mentiras. Esse é o combustível com que se movimenta o próprio presidente da República e aqueles que ainda o seguem nessa cruzada extremista de direita.
BOLSONARO NONSENSE
Em entrevista a podcast em abril, Bolsonaro já tinha atacado Edson Fachin e insinuado que o ministro agia para “favorecer Lula”. O presidente da República, que é candidato à reeleição, buscou medir as palavras, mas declarou considerar que, “se depender do Fachin”, “Lula será presidente da República”. Ao fazer estas e outras afirmações sem lastro na realidade, o presidente finge não entender os fatos. Faz isso para alimentar de ódio e teorias da conspiração os seguidores fiéis.
Com a decisão do Supremo, as condenações que retiravam os direitos políticos de Lula perderam efeito e ele ficou apto a se candidatar a presidente em 2022. Antes, o petista estava enquadrado na Lei da Ficha Limpa, já que ambas as condenações pela Lava Jato haviam sido confirmadas em segunda instância.
Fachin entendeu, à época, que as decisões referentes a Lula não poderiam ter sido tomadas pela vara responsável pela operação (a de Curitiba, chefiada pelo ex-juiz Sergio Moro) e determinou que os casos fossem reiniciados pela Justiça Federal do Distrito Federal.
M. V.