Liga Árabe, que é integrada por 22 países, anuncia recusa de seus membros a embarcar na russofobia instigada por Washington
O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, afirmou em entrevista ao canal de TV egípcio Sada el-Balad no domingo (12) que, apesar de toda “pressão do mundo ocidental” para condenar a Rússia na questão do conflito na Ucrânia, os países da organização que congrega os povos árabes “não sucumbiram” e alguns inclusive explicitamente “se recusaram a votar por tal condenação”.
Fundada em 1945, a Liga Árabe compreende atualmente 22 Estados árabes.
Possivelmente o que melhor sintetize isso seja o imprescindível papel da Rússia na OPEC + em conjunto com a Arábia Saudita, para manter uma política de preço que não onere demasiado os países consumidores e garanta a continuidade dos investimentos no setor, e a contribuição do petróleo/gás para o aumento da renda e da infraestrutura de cada país produtor, sob a enorme pressão de Washington e Bruxelas para sancionar a Rússia, tirar seu petróleo e gás do mercado, inviabilizar suas exportações, espremer o lado fiscal, na tentativa de fazer a ‘economia gritar’ – como dizia Nixon -, e de preferência abrir caminho para trocar Putin por algum clone da alma penada de Yeltsin.
A propósito, é essa política de sanções dos EUA/OTAN, que visa artificialmente causar um choque de preços ao excluir do mercado uma produção de energia [o petróleo e gás russo] que, como enfatiza a OPEP, não tem como ser substituída em curto prazo, é que vem estupidamente aproximando o mundo da estagflação (recessão com inflação), como já admite até mesmo o FMI, ao empurrar para o teto o preço das exportações de energia, em um quadro em que o mundo mal se recuperou da queda no crescimento decorrente da pandemia de Covid.
A Arábia Saudita, inclusive, convidou a Rússia para se integrar plenamente na OPEC, e aquelas substituições de mercados exportadores, com a Rússia se voltando mais para os países asiáticos e sendo substituído em certa medida por Riad nos mercados europeus, em curso.
O chanceler russo Sergei Lavrov também andou fazendo um roteiro por capitais árabes, enquanto a Rússia deixava claro aos países árabes seu compromisso com a exportação de trigo e fertilizantes.
Pelo lado da China, a Arábia Saudita, segundo o Wall Street Journal, tem debatido com Pequim desde março o pagamento do petróleo em yuans, a moeda chinesa. E não em dólares, que é a norma a partir de 1975, desde o famoso acordo EUA-Riad para tornar a energia a ‘âncora’ do dólar, que virara papel pintado desde que Nixon em 1971 acabou com o respaldo em ouro estabelecido em Bretton Woods.
Buscando ampliar a pressão sobre Moscou, o governo Biden vem tentando engatilhar uma viagem a Riad, para uma conversa cara a cara com o príncipe coroado, MBS.
Nas redes sociais, Biden foi sem a menor cerimônia ridicularizado pela dificuldade, decorrente das contradições em curso na cena internacional, a guerra na Ucrânia incluída, em ir a Riad. “Vovô não está tendo seu melhor dia”, comentaram internautas, após ele se contradizer em público sobre a questão.
Analistas também apontam que na agenda da visita há o desafio para Biden de – em ano de eleição intermediária, que define quem controlará o Congresso – dar conta da alta da gasolina, que atingiu o recorde de US$ 5 o galão. E quando sua tentativa de culpar ‘Putin’ por uma alta no preço da gasolina que é a política externa norte-americana que provoca, como efeito colateral das “sanções do inferno” contra a Rússia.