O historiador, economista e professor universitário colombiano Renan Vega Cantor denuncia, no artigo que reproduzimos abaixo, intitulado Limpeza étnica em bibliotecas ucranianas, originalmente divulgado pelo portal “In defense of Marxism” e reproduzido pela “Monthly Review”, o plano do governo de Volodymyr Zelensky de retirar todos os livros de origem russa das bibliotecas ucranianas.
O autor se baseia em uma entrevista da diretora do Instituto Ucraniano do Livro, Oleksandra Koval, para discutir o “cancelamento” total da Rússia que está sendo proposto pela Ucrânia e mostrar como isso faz parte de uma limpeza étnica.
Desde 2014, quando um golpe de Estado derrubou um presidente legitimamente eleito, o governo de Kiev leva à frente uma revisão da história do país, o aproximando de colaboracionistas como Stepan Bandera e o afastando da Rússia.
Agora, usando como pretexto a guerra deflagrada em fevereiro, a Ucrânia pretende proibir livros russos em suas bibliotecas, até mesmo os clássicos de Tolstói, Pushkin e Dostoiévski.
“A magnitude do bibliocídio é tal que, depois de expurgar os cem milhões de cópias de tudo o que está escrito em russo, o conteúdo das bibliotecas será reduzido pela metade”, apontou Cantor.
Segue o artigo:
Limpeza étnica em bibliotecas ucranianas
“Ser russo é um problema? Mesmo sendo um russo morto? O que está acontecendo na Ucrânia é horrível, e sinto vontade de chorar só de pensar nisso. Mas essas coisas aqui são ridículas” Paolo Nori, tradutor italiano
RENAN VEGA
A limpeza étnica é uma característica do fascismo e de todas as suas variantes de extrema direita em nível planetário. Se baseia no pressuposto de que existem culturas superiores e inferiores e que estas últimas devem desaparecer da face da terra, para que não reste sequer um traço de sua presença histórica. Todos os mecanismos de destruição física e simbólica são usados contra culturas proclamadas como inferiores, como legado duradouro da expansão da Europa pelos cinco continentes.
O exemplo mais terrível de limpeza étnica foi promovido pelo nazismo, primeiro na Alemanha e, depois, em todos os territórios que conquistou durante a Segunda Guerra Mundial, incluindo os dos povos eslavos, começando pelos localizados na então União Soviética. E a limpeza étnica incluiu os judeus, mas não apenas eles como foi estabelecido como a verdade oficial pelo estado sionista de Israel e os criadores da indústria do holocausto (o lobby judaico nos Estados Unidos), mas todos os povos que o nacional-socialismo alemão considerava inferiores, no qual vale a pena mencionar o povo cigano.
Depois da experiência nazista, pensava-se com otimismo que a limpeza étnica era coisa do passado e nunca mais seria apresentada como política de Estado. Fora da Europa, ela continuou a ser realizada em várias partes do mundo, e em grande parte com o apoio da Europa e dos Estados Unidos, em que vários grupos étnicos foram sistematicamente eliminados ‒ isso aconteceu na América Latina com comunidades indígenas no Brasil, Colômbia, Equador…‒ ou houve tentativas fracassadas de exterminar grupos humanos e expulsá-los de seus territórios ancestrais, como é o caso dos palestinos em Israel ou dos curdos na Turquia.
Apesar da volta da limpeza étnica na Europa no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, especificamente nos Balcãs, foi dito de forma mentirosa que esta situação havia sido superada com os bombardeios da Otan e a interferência dos EUA, que levaram à criação de estados etnicamente puros (como foi o caso dos novos países reconhecidos após 1991, incluindo aquela entidade fantasma chamada Kosovo). Dessa forma, os europeus acreditavam que a limpeza étnica não fazia mais parte de sua mentalidade colonialista e imperialista e agora estavam plenamente civilizados, quando o que fizeram foi, na verdade, legitimar uma nova limpeza étnica, consentida por eles, como a dos criminosos que governam o Kosovo, que traficam os órgãos humanos dos seus inimigos étnicos.
Agora, quando a guerra está de volta à Europa, a limpeza étnica dos russos é mais uma vez reivindicada abertamente, como os europeus fizeram por vários séculos e como o nazismo tentou realizar na prática. Essa limpeza étnica que predomina na Europa hoje se manifesta como russofobia e adota os mecanismos criminosos que são exibidos impunemente na Ucrânia, realizados pelas classes dominantes do país e reproduzidos por parcelas significativas de sua população, e emulados por grande parte dos europeus. Não é de surpreender que os radialistas, médicos e cientistas da televisão ucraniana exaltem a doutrina da solução final nazista para aplicá-la aos russos e peçam para matar crianças russas e castrar soldados russos porque são “baratas e não humanos” e cancelar tudo o que tem a ver com a cultura russa, independentemente de seu significado para a humanidade.
Mas o que está acontecendo na Ucrânia, com a complacência da Europa, em termos de demanda por limpeza étnica ‒algo que, aliás, vem sendo realizado desde 2014 nos territórios de população russa da Ucrânia‒ não se limita a exaltar o tradicional procedimentos desta “purificação étnica”, como o chamado público para matar os russos por serem russos, a proibição da língua russa, a destruição das estátuas da Segunda Guerra Mundial que comemoram a luta contra o nazismo e o sacrifício de milhões de russos, a proibição da leitura de autores clássicos da literatura universal como Fiódor Dostoiévski, Alexander Pushkin e grandes compositores de música clássica como Tchaikovsky, a proibição de danças tradicionais russas acompanhadas de instrumentos como a balalaica, denegrir a comida russa e forçar que não seja mais escrito “Russian Salad or Tartar” nos cardápios oferecidos pelos restaurantes, mudando seu nome para “Kyiv Salad”, que a pintura do pintor francês Edgar Degas (falecido em 1917) tenha o título de “Dançarinas Russas” trocado pelo politicamente correto de “Dançarinas Ucranianas” e mil coisas ridículas nesse estilo, que fariam grandes pensadores e humanistas de todos os tempos que nasceram na Europa corarem de vergonha.
Junto com tudo isso, uma nova forma de limpeza étnica foi inventada na Ucrânia, até onde sabemos, sem precedentes históricos em qualquer lugar do mundo. É uma limpeza étnica de tipo bibliográfico, um bibliocídio com novos ingredientes. Vejamos em que consiste. Foi anunciado sem eufemismos pela diretora do Instituto Ucraniano do Livro, Aleksandra Koval, que, seguindo as instruções do Ministério da Cultura, deu ordem para limpar as bibliotecas de seu país de todos os livros russos encontrados. O número é impressionante: foi ordenado que cem milhões de livros fossem retirados dessas bibliotecas (em números, para evitar dúvidas, 100.000.000) e depois destruídos. Essa burocrata-censora, que tem mais a ver com a morte do que com livros, disse que se trata de limpar as bibliotecas da Ucrânia, porque a “propaganda russa” não pode ser aceita, porque, em sua pobreza mental, ela entende que isso é tudo que está escrito em russo, e isso acontece de acordo com sua concepção belicista de que os livros são “uma arma tanto para atacar quanto para defender”. (Oleksandra Koval pode ser lida emhttps: bit.ly/3LEnx4r)
Esta burocrata, que parece nunca ter lido um livro na vida, defendeu que o objetivo é eliminar antes do final deste ano a literatura de propaganda, com conteúdo anti-ucraniano, que inclui todos os livros publicados na Rússia e escritos na Rússia , inclusive aos clássicos da literatura universal de todos os tempos, por serem “ideologicamente nocivos”.
Nada se salva da limpeza bibliográfica, pois inclui livros infantis, romances, contos e obras policiais. A limpeza bibliográfica não tem limites cronológicos e inclui livros russos e soviéticos produzidos em qualquer época, antes e depois de 1991, quando a União Soviética desapareceu.
Quanto ao argumento de erradicação dos clássicos da literatura russa, vale destacar seu “argumento sofisticado”, pois ela fala por si da limpeza étnica em curso de cunho bibliográfico. Ela começa apontando que esses clássicos causam muitos danos porque os primeiros que os lêem são crianças e é desastroso dizer que um escritor russo, digamos alguém como Alexander Pushkin, é um autor universal:
“Por que o clássico é tão perturbador? Todos nós lemos esses livros, nos meus anos de escola havia um sólido clássico russo, que era considerado o auge da literatura mundial. Pelo fato de conhecermos os clássicos mundiais de forma bastante indireta, muitas pessoas permaneceram convencidas de que essa é realmente a literatura sem a qual é impossível desenvolver inteligência e sentimentos estéticos, ser uma pessoa educada. Na verdade, este não é o caso. Por exemplo, para estudar literatura estrangeira, e literatura russa é apenas isso, você precisa de um certo equilíbrio. Estamos agora convencidos de que a literatura britânica, francesa e alemã, a literatura dos Estados Unidos e das nações orientais, deram ao mundo muito mais obras-primas do que a literatura russa.”
Sim, mas o fato de o mundo inteiro ter produzido obras-primas, como as geradas aqui na Nossa América, não dá o direito de repudiar as de outras latitudes (Rússia neste caso), mesmo que esteja em guerra com aquele país em desta vez. Eliminemos então os literatos russos, que deixaram de ser clássicos, porque a Rússia está em guerra com os Estados Unidos e a Otan no território da Ucrânia.
Tal disparate não só reflete ignorância absoluta, mas também é um crime cultural, com consequências terríveis para o futuro da Ucrânia, um país que após o fim da guerra terá que pensar em sua identidade e ela, gostem ou não, está historicamente ligada à Rússia. Que eles assumam isso criticamente é uma coisa, mas que tentem negá-lo e fazê-lo desaparecer não apenas da história, mas da vida cotidiana, é uma estupidez criminosa.
Mais à frente, a burocrata do Instituto Ucraniano do Livro diz um monte de bobagens que vale a pena citar em detalhes:
“Quanto a esses favoritos de nossos bibliotecários e de alguns leitores, Pushkin e Dostoiévski, deve-se dizer que esses dois autores lançaram as bases do ‘mundo russo’ e do messianismo. Desde a infância, repleta dessas narrativas, as pessoas acreditam que a missão do povo russo não é se envolver em suas vidas e em seu país, mas ‘salvar’ o mundo contra sua vontade. Esta é realmente uma literatura muito prejudicial, pode realmente influenciar as opiniões das pessoas. Portanto, é minha opinião pessoal que esses livros também devem ser retirados das bibliotecas públicas e escolares. Eles provavelmente deveriam ficar em universidades e bibliotecas de pesquisa para estudar as raízes do mal e do totalitarismo.”
Dessa forma, uma pequena burocrata encarregada do Instituto Ucraniano do Livro chega a descobrir que os clássicos russos são perversos, ao contrário dos alemães, americanos ou de outras latitudes, e o são apenas por causa de sua origem nacional, e neles estão as “raízes do mal e do totalitarismo” e é por isso que os habitantes da Ucrânia devem ser proibidos de lê-los, independentemente do fato de grande parte dos ucranianos falarem russo e mesmo isso para uma parcela significativa de sua população esta é a língua do dia-a-dia.
Com essa lógica xenófoba e chauvinista, em nenhum lugar do mundo se deve ler livros de autores “estrangeiros”, porque em algum momento eles tiveram uma guerra ou sofreram agressões de outros países ou potências imperialistas. Com essa lógica de pureza étnica, na Argentina, os livros ingleses (entre eles Shakespeare) deveriam ter sido banidos e expurgados de suas bibliotecas após a guerra das Malvinas, há 40 anos; em Cuba, deveriam tirar de suas bibliotecas os livros de autores da estatura de Ernest Hemingway, William Faulkner ou John Steinbeck devido ao bloqueio e às agressões que sofrem dos Estados Unidos há 60 anos; na África, erradicar a literatura clássica escrita em francês, inglês, português, italiano, castelhano, alemão… porque essas são as línguas originais das potências coloniais e imperialistas; no Equador, deveriam retirar todos os livros de autores colombianos (como o que escreve essas linhas), após o brutal ataque a Sucumbíos pelo governo criminoso dos uribeños no dia 1º de março de 2008, e assim ad nauseam.
A limpeza étnica cultural que está sendo feita na Ucrânia não tem nada a ver com a guerra que está ocorrendo atualmente com a Rússia, mas com um projeto de negação de suas próprias raízes, que tem a ver diretamente com a história do povo russo e sua vasta cultura no mundo das artes, letras, teatro, poesia, romances, ensaios, pensamento político (incluindo Lenin, Trotsky, Bakunin, Kropotkin, Herzen, Chernyshevski e um longo etc.).
Para perceber o que está em jogo com esse novo tipo de limpeza étnica bibliográfica, essa censora acrescenta que é um grande problema receber livros de presentes da Rússia sem antes examinar seu conteúdo, a ponto de “os bibliotecários ficarem satisfeitos com os novos livros, mas ninguém pensou em seu conteúdo”.
Em relação à literatura científica, a responsável salientou que não é uma questão simples, e “será debatida em mesas redondas de especialistas. Se existe literatura puramente médica sem nuances ideológicas, então não vejo razão para removê-la em primeiro lugar até que autores ucranianos ou estrangeiros criem algum tipo de substituição”. É evidente que, como sempre, o problema é de ideologia, o dos outros, os inimigos, porque a censora não teria uma ideologia, estaria acima do bem europeu e do mal russo.
A magnitude do bibliocídio é tal que, depois de expurgar as cem milhões de cópias de tudo o que está escrito em russo, o conteúdo das bibliotecas será reduzido pela metade. Em outras palavras, cinquenta por cento do conteúdo das bibliotecas será liquidado de uma só vez. E esses cem milhões de livros foram declarados pelo Ministério da Cultura ucraniano como lixo, o que dá lugar ao bibliocausto, a pura e simples destruição de livros.
Os burocratas do livro da Ucrânia querem que o cancelamento da literatura russa seja mundial e se gabam de que o boicote dos livros russos em feiras internacionais se deve à sua influência. Mas pedem mais: que no resto da Europa se apliquem as suas medidas de limpeza étnica bibliográfica e que os escritos dos seguidores incondicionais de Vladimir Putin desapareçam das bibliotecas (porque já desapareceram das livrarias), respondendo aos nomes de Liev Tolstói Anton Tchekhov, Leonid Andreiev, Maxim Gorki…
A burocrata do livro acrescenta que, embora, infelizmente, não possa influenciá-lo como na Ucrânia, há “um público que pode entrar em contato com todas as bibliotecas locais e exigir a retirada de determinados livros. Infelizmente, é muito difícil para nós, daqui da Ucrânia, descobrir quais são os livros russos em cada biblioteca de alguma pequena cidade europeia”. Por isso, pede aos migrantes ucranianos que se tornem censores e inquisidores de livros russos onde quer que estejam para que desapareçam das bibliotecas e livrarias das cidades europeias, porque “quanto às bibliotecas estrangeiras, penso que só a persistência da diáspora ucraniana e nossos movimentos sociais pode levar ao fato de que haverá menos livros russos lá, e mais ucranianos”.
O preceito central da caça aos livros é que eles tenham um conteúdo anti-ucraniano, algo tão obscuro que cabe tudo, a começar pela língua russa em que os livros são escritos e depois os autores, inclusive os nascidos na Ucrânia que se atrevem a criticar os nazistas em seu país e levantar a busca pela paz, um acordo com a Rússia e que seu país não se torne uma base terrestre da Otan.
Os leitores desta nota podem pensar que não há nada de novo neste bibliocídio, se lembrarmos os trágicos momentos de destruição de livros, entre eles os da Alemanha nazista, ou da última ditadura argentina ou a demolição das bibliotecas do Iraque e os saques de seus recursos bibliográficos que foram patrimônio cultural da humanidade após a invasão dos Estados Unidos em 2003, ou a destruição de escolas e bibliotecas palestinas pelas forças genocidas do stado sionista de Israel. Mas, que eu saiba, em nenhum desses casos, embora tenha sido atingido o bibliocausto ‒ queima de livros ‒, foi a política sistemática e planejada de expurgar cada biblioteca até o último canto para eliminar todos os livros que eram considerados perniciosos, prejudiciais e inimigos de um determinado projeto nacional.
O fato de estar ocorrendo uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia, em vez de levar a um paroxismo de ódio nacional e xenofobia, deve nos levar a refletir sobre a importância da cultura, e especialmente para o caso que estamos tratando, dos livros. Porque se alguma coisa contribui para fomentar ainda mais o ódio é a ignorância, a destruição de livros e esconder dos habitantes de um país, neste caso a Ucrânia, as múltiplas influências culturais que tiveram ao longo da história e a forma como as novas gerações devem repensar sua própria identidade, sem desprezar ou ignorar uma cultura, especialmente a extraordinária cultura russa, que é algo completamente diferente de um regime político em particular.
Nestas condições, teremos agora que a riqueza bibliográfica das escolas e bibliotecas na Ucrânia será coisa do passado, promovendo o plano proposto pela burocrata mencionada nestas páginas, que é que “a restauração da Ucrânia incluirá a reforma do sistema de bibliotecas e a questão do preenchimento dos fundos da biblioteca após a apreensão da literatura russa”. Este é um passo claro para a ignorância, o ódio, a sede de vingança que encherá a Ucrânia e a Europa de batalhões de nazistas, para quem sua máxima é “morte à inteligência”.
E esta ação de perseguir livros adquire um significado especial, extra se você quiser, se levarmos em conta que vivemos em um mundo onde cada vez menos se lê devido à ditadura digital e, nesse sentido, quase qualquer livro hoje (independentemente de seu conteúdo) deve ser considerado como um artefato inofensivo para um público amplo, na medida em que o círculo de leitores é cada vez menor.
Nestas condições, o verdadeiro significado de limpar bibliotecas ucranianas da literatura russa é claramente perceptível: é um projeto de limpeza étnica e o cancelamento absoluto de uma cultura multiforme e complexa.
Assim, veremos que autores perversos e malévolos como Tolstoi, Dostoiévski, Pushkin desaparecerão das bibliotecas ucranianas e, em seu lugar, as estantes se encherão de livros não ideológicos, clássicos da estupidez universal como o que se distribui nos Estados Unidos, incluindo Mickey Mouse, Superman, Batman e revistas tão sérias como Reader’s Digest e todo o lixo anticomunista que é publicado nas fábricas universitárias e nos laboratórios de pensamento reacionário nos Estados Unidos.
E, no caso das letras e das artes, veremos como os artistas ucranianos podem abstrair do teatro de Tchekhov, dos romances de Pushkin, das reflexões de Liev Tolstói, da crítica literária de Vladimir Propp ou da análise textual de Mikhail Bakhtin. Uma das ilusões mais terríveis é supor que você pode prescindir desses autores, sem abdicar de uma parte de sua própria humanidade, tudo em nome da limpeza étnica bibliográfica que está em andamento na Ucrânia.
Paradoxalmente, e isso não é previsto pelos censores, a literatura russa adquire um novo significado e importância ao ser banida, pois levará muitos ucranianos no futuro a se perguntarem sobre os motivos que levam à proibição e que a literatura continuará a ser lida clandestinamente na Ucrânia “democrática”. Simplesmente, uma cultura não pode ser morta a partir de censura e proibições, por mais que tentem se justificar em nome de uma absurda russofobia e da limpeza étnica da cultura russa que está sendo feita na Ucrânia e que tem o respaldo da “grande e civilizada Europa”, com seus novos tribunais de inquisição e perseguição de autores e livros.
Essa medida também tem um tom sombrio de outros tempos em que a comunidade de leitores de livros foi drasticamente reduzida e em que predomina o pseudo-leitor digital, o que não é a leitura no sentido estrito como mostraram os psicólogos cognitivos. De tal forma que na Ucrânia se pretende eliminar os poucos leitores de livros que possam existir para que suas mentes permaneçam nas mãos da escola nazista do Batalhão Azov e companhia.