Comunidade está em busca de saber por que a Universidade de São Paulo, uma das mais importantes universidades da América Latina, chegou nesta situação de crise financeira
O assunto que predominou os dois debates dos candidatos à Reitoria da USP realizados até agora, um no último dia 5, em São Carlos, e o outro, nesta quarta-feira (11), em Ribeirão Preto, foi a crise financeira que a Universidade de São Paulo foi colocada nos últimos anos e as alternativas para a sua superação. Toda a comunidade está em busca de saber por que a USP, uma das mais importantes universidades da América Latina, chegou nesta situação. A atual gestão e a chapa que a representa, foram colocadas em xeque pela maioria dos participantes em todos os debates.
As chapas encabeçadas pelo professor Ildo Sauer (3), com o professor Tércio Ambrizzi de vice, e a da professora Maria Arminda (2), com Paulo Casela de vice, vêm se destacando e fizeram duras críticas à atual gestão. Elas se apresentaram como alternativas de oposição e de mudança. Já a chapa 1, do professor Vahan Agopyan, tendo como vice Antonio Carlos Hernandes, e a chapa 4, de Ricardo Terra, com seu vice, Albérico Borges Ferreira da Silva, com algumas pequenas diferenças, representam as correntes que expressam o continuísmo da atual administração.
As presenças nos dois debates foram bastante concorridas. No primeiro, o repórter de Ciência da ‘Folha de São Paulo’, Reinaldo José Lopes, dirigiu os trabalhos. As perguntas foram feitas por escrito e cada candidato teve oportunidade de se posicionar sobre a crise financeira, a excelência acadêmica, as cotas, o HU, além de outros temas. No final, estudantes de medicina de São Paulo, representantes do Centro Acadêmico Osvaldo Cruz (Caoc) pediram a palavra e leram uma carta cobrando o compromisso dos candidatos com a permanência do HU sob gestão da USP. Em Ribeirão Preto o debate prosseguiu e a busca de alternativas à atual política da USP foi o centro das atenções.
O professor Ildo Sauer, que dividiu seu tempo com o professor Tércio Ambrizzi, foi o primeiro a falar em São Carlos, causando grande interesse da platéia quando conclamou a união de todos para acabar com os desmandos e para implantar uma política para resgatar o prestígio da USP e a autoestima de seus funcionários, alunos e docentes. O professor Tércio destacou a experiência administrativa e acadêmica da chapa.
MUDANÇA
“A USP se encontra hoje numa situação de crise que transcende meramente a crise financeira”, apontou Ildo. Ele lembrou que no ano de 2009 havia na USP um fundo de reserva correspondente a um orçamento anual e criticou o mal uso desses recursos por parte do grupo que assumiu a reitoria desde então.
O professor Sauer fez questão de frisar que a atual gestão, representada hoje pela chapa 1, fazia parte desse grupo e tem responsabilidade pela crise. “A euforia de então, deu origem à frustração de agora que precisa ser enfrentada. É evidente que o atual reitor e o atual vice-reitor fizeram parte da primeira gestão, continuaram na segunda e estão agora se candidatando para a continuidade”, apontou Ildo.
A professora Maria Arminda, que tem como vice o professor Paulo Casela, também faz uma campanha pontuando a atual gestão da USP. Ela criticou o excesso de normas e a apatia da atual gestão da USP frente à crise e destacou que tem muitos pontos em comum com a chapa encabeçada pelo professor Ildo Sauer. “Não se pode confundir saúde financeira, equilíbrio financeiro, que todos somos a favor, com financeirização”. Ela acrescentou que “se confundiu também autonomia universitária e soberania universitária com normas que nos sufocaram”. Maria Arminda apresentou propostas para superar a atual situação e frisou que a crise não é maior do que a USP. As duas chapas de oposição chamaram a comunidade a votar pela mudança.
Respondendo às perguntas, Ildo Sauer disse que “a USP pode mudar, ela deve mudar e nós temos que nos unir para fazê-lo. Manter o que foi feito certo até agora, aprofundar o que foi correto, mas ter novo direcionamento no relacionamento interno, no relacionamento externo e é isso que vai permitir o resgate da dignidade da USP. O resgate do protagonismo dela como maior instituição da América Latina, do Brasil e uma das maiores do mundo”.
Vice-diretor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), Ido Sauer é uma das maiores autoridade em energia do país e foi diretor da Petrobrás. Ele criticou os métodos usados pela atual gestão para lidar com os problemas internos, criados pela própria administração. “Nós entendemos que os métodos e processos utilizados para resgatar a USP da crise financeira em que ela foi mergulhada não foram adequados nem suficientes”, destacou. “Precisávamos manter um diálogo mais aprofundado, sincero e transparente com nossos servidores, com os docentes e com os alunos. As lamentáveis situações de violência que acometeram a USP não são dignas do que é uma universidade responsável pela construção do futuro, construção de pessoas”, salientou.
O Hospital Universitário esteve nas preocupações das chapas de oposição. Ildo mencionou a demonstração de fraqueza e a falta de capacidade de articulação do atual administração, que, segundo ele, conduziu de forma atabalhoada a discussão com o governo estadual sobre a pretendida transferência do HU para a gestão do Estado. “Não nos parece razoável se desfazer de uma unidade de excelência como é o HU que não é um problema e pode ser, inclusive, parte da solução”, destacou. Arminda também criticou a política para o HU. “Quiserem entregar o hospital para o governo, sem combinar com os russos”, ironizou.
ÔNUS
A chapa encabeçada pelo atual vice-reitor, Vahan Agopyan, procurou passar a ideia de que não tem responsabilidade pela atual crise e pelo mal estar vivido pela comunidade e fez um balanço positivo de sua gestão. Ninguém acha que o balanço desta gestão é positivo. Como se não tivesse nada a ver com as quedas da USP nos ranking de excelência e com a queda de prestígio da universidade, Vahan disse que sua prioridade é a busca da excelência acadêmica.
Vahan tentou convencer os presentes de que as medidas tomadas por eles, e que agravaram a situação, foram corretas, mas os resultados de queda da USP e de extrema frustração de seus funcionários desmentem essa avaliação. Antonio Carlos Hernandes, vice de Vahan, e atual pró-reitor de graduação, defendeu as medidas desastrosas tomadas pela gestão da qual Vahan faz parte e prometeu a continuidade da atual política. “Nós temos os bônus e os ônus de sermos situação. Achamos que temos mais bônus”, disse ele, ao dizer que a atual política vai se mantida.
Uma questão frequentemente apontada foi a falta de democracia dentro da USP. O professor Ildo Sauer disse que uma das primeiras medidas tomadas em sua gestão será a retirada da grade que cerca a reitoria. “Símbolo supremo da ausência de diálogo é o isolamento da reitoria cercada de grades hoje no campus de São Paulo. Isto é a negação da convivência, com respeito às divergências e diferenças que devem pautar a convivência dentro do ambiente universitário. Elas precisam e deverão ser retiradas de lá, como símbolo e testemunho de uma nova era de diálogo e convivência entre todos”, afirmou.
FUNCIONALISMO
Ele falou sobre as demissões indiscriminadas, feitas por PIDVs, sem planejamento e que “causaram um profundo mal estar na comunidade”. “A sinalização de que a culpa pela crise era dos servidores é inadequada. Os servidores são essenciais, ao lado dos docentes e dos alunos para construir a universidade”, ressaltou. Tércio Ambrizzi enfatizou a grande experiência administrativa e acadêmica dos integrantes de sua chapa e disse que está preparado para assumir sua função.
Ricardo Terra apresentou suas ideias a confirmou que está alinhado integralmente com a visão da atual administração nas medidas de cortes efetuadas nos últimos anos. Terra, que tem como vice o professor Albérico Borges Ferreira da Silva, deu ênfase à necessidade de se criar um código de disciplina para que seja implantado na universidade e que todos passem a respeitar esse código. Terra disse que democracia na universidade é “populismo”. Ele disse também que a USP é uma federação frouxa de unidades e não uma universidade.
Conheça os quatro candidatos que disputam o pleito
Ildo Luís Sauer – Engenheiro graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mestre em Engenharia Nuclear e Planejamento Energético pela COPPE da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ph.D. em Engenharia Nuclear pelo lnstituto de Tecnologia de Massachusetts – MIT e Livre-Docente em Energia pela USP. É Professor Titular e Fundador do Instituto de Energia e Ambiente, incorporados ao IEE/USP.
De janeiro de 2003 até setembro de 2007, foi diretor da Área de Gás e Energia da Petrobrás, segunda maior empresa do país, incluindo o portfólio de gás natural, energia elétrica e energia renovável. Foi gerente de projeto de desenvolvimento do circuito primário do reator nuclear para submarino da Marinha do Brasil (1986-1989). No MIT (1985), desenvolveu metodologia para o gerenciamento do combustível em reatores nucleares, objeto de publicação de livro didático pela American Nuclear Society.
Vice – Tércio Ambrizzi – Professor Titular do Departamento de Ciências Atmosféricas em Dedicação lntegral no IAG/USP, bacharel em Meteorologia (lAG) e em Física (lF) da USP, mestrado pelo IAG e doutorado em Meteorologia pela Universidade de Reading, Inglaterra.
Maria Arminda do Nascimento Arruda – Graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. É Mestre, Doutora e Livre-Docente em Sociologia pela USP. É professora titular de Sociologia da USP desde 2005. Atualmente é Diretora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Pesquisadora sênior do lnstituto de Estudos Sociais e Políticos de São Paulo – ldesp.
Foi Pró-Reitora de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de 5ão Paulo (2010-2015). Foi representante da Congregação da FFLCH no Conselho Universitário (2005-2008); Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (1991-1996) da FFLCH.
Vice – Paulo Borba Casella –Professor Titular de Direito Internacional da USP, fez seu doutorado e livre docência em direito internacional na Faculdade de Direito da USP.
Ricardo Ribeiro Terra – Professor Titular de Teoria das Ciências Humanas da USP, é pesquisador do CEBRAP e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq (lA). Tem título de livre-docencia em Filosofia pela USP e o Diplôme d’études approfondies en Philosophie pela Université de Paris I Panthéon-Sorbonne.
Foi Presidente da Comissão de Consultores da Área de Filosofia/Teologia da CAPES (1991-1995), Membro do Comitê de Assessoramento de História e Filosofia (CA – HF) do CNPq (2002-2005), Presidente da Sociedade Kant Brasileira (2006-2010), pesquisador principal de três Projetos Temáticos consecutivos da FAPESP no CEBRAP.
Vice – Albérico Borges Ferreira da Silva – Professor e Pesquisador do Instituto de Química de São Carlos (USP), bacharel em Química pela Universidade Federal de Pernambuco, Mestre e Doutor em Físico-Química (Química Quântica) pela Universidade de São Paulo.
Vahan Agopyan – Engenheiro Civil pela Escola Politécnica da USP (1974), Mestre em Engenharia Urbana e de Construções Civis pela mesma instituição (1978) e PhD (Civil Engineering) pela University of London King’s College (19S2). É Livre-Docente (1990) e Professor Titular (1994) de Materiais e Componentes de Construção Civil da EPUSP.
Professor da USP desde 1975, sempre no Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica, foi coordenador do Programa de Pós-Graduação, chefe do Departamento, Presidente da Comissão de Pesquisa, Vice-Diretor e Diretor da Poli. Foi Diretor-Presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT).
Vice – Antonio Carlos Hernandes – Professor Titular do Instituto de Física de São Carlos em dedicação exclusiva graduou-se em física pela UEL, é doutor em Física Aplicada pela USP.