O ex-superintendente da Polícia Federal do Amazonas Alexandre Saraiva criticou a declaração da Polícia Federal de não haver mandante do assassinato do jornalista britânico Dom Philips e do indigenista Bruno Pereira, na região do Vale do Javari em 5 de junho. Para o delegado, a declaração é “absolutamente precipitada”, já que não há conclusão do inquérito.
“Declaração absolutamente precipitada. Até onde eu sei o inquérito só acaba com o relatório, se não tem relatório não pode existir conclusão. Lamentável”, escreveu Saraiva ao compartilhar uma publicação no Twitter do delegado da Policia Federal, Jorge Barbosa Pontes.
“Como pode, nesse estágio, a PF concluir cabalmente se houve mandante ou não, se ainda não ouviu e nem chegou a todos os envolvidos no crime? A nota é precipitada. Melhor não ser categórico em relação a mandante ou conexões. Prudente dizer apenas que as investigações prosseguem”, afirmou Pontes na publicação compartilhada por Saraiva.
A Polícia Federal afirmou na sexta-feira que os assassinatos não devem ter um mandante ou uma organização criminosa envolvida no crime. Segundo a PF, as investigações sobre os assassinatos “apontam que os executores agiram sozinhos”.
Por envolvimento com o crime, até o momento, três pessoas foram presas. Três dos suspeitos estão presos: Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado; Oseney da Costa Oliveira, o Dos Santos; e Jeferson da Silva Lima, o Peladinho ou Pelado da Dinha. Outros cinco suspeitos de atuar na ocultação dos cadáveres também estão sendo investigados.
“As investigações também apontam que os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito. Por fim, [o comitê de crise] esclarece que, com o avanço das diligências, novas prisões poderão ocorrer”, diz o comunicado.
O indigenista brasileiro, Bruno Pereira, e o jornalista inglês, Dom Phillips, desapareceram em 5 de junho, na região do Vale do Javari, na Amazônia, região que é palco de conflitos relacionados ao tráfico de drogas, roubo de madeira, garimpo e pesca ilegal. A procura pelos dois durou 10 dias e terminou com a confissão do assassinato por Amarildo Costa.
A pressa em descartar o que deveria ser a principal linha de investigação, num inquérito ainda em fase inicial, desrespeita os familiares dos mortos e todos aqueles que lutam pela Amazônia e pelos povos originários.
A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), emitiu uma nota estranhando que documento que a entidade enviou ao Ministério Público, à Funai e à própria PF, apontando para uma criminalidade graúda na região, tenha sido ignorado.
A Polícia Federal não explicou porque despreza a hipótese de existência de mandante e paira no ar a impressão de que o órgão está agindo de acordo com o interesse de quem quer enterrar uma investigação tão incomoda para o governo Bolsonaro.
Saraiva já apontou alguns parlamentares da ala governista de fazerem parte da “bancada do crime” no que refere à criminalidade na Amazônia.
“O que pega é a cobertura política dos criminosos […] boa parte dos políticos tem a região Norte no bolso”, destacou Saraiva em entrevista à GloboNews, nesta terça-feira 14. “Eu tenho aqui uma coleção de ofícios de senadores dos diversos estados da Amazônia que mandaram para o meu chefe dizendo que eu estava ultrapassando os limites da lei. Teve senador junto com madeireiro me ameaçando”.
“Olha o Centrão, veja de onde saíram grande parte dos parlamentares do Centrão. São financiados por esses grupos. [Os senadores] Zequinha Marinho, Telmário Mota, Mecias de Jesus. [O senador] Jorginho Mello de Santa Catarina mandou ofício, a [deputada] Carla Zambelli [que] foi lá defender madeireiro. Temos uma bancada do crime, de marginais, de bandidos”, disse.