Nem R$ 400, nem R$ 1.000. A tentativa desesperada de Bolsonaro de engabelar os caminhoneiros com um “auxílio”, puramente eleitoreiro, não está colando. Para as lideranças da categoria, a proposta que vem sendo cogitada pelo Planalto para compensar os altos preços dos combustíveis não passa de mais uma “medida paliativa”, ou proposta “para inglês ver”.
Para o diretor da CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística), Carlos Alberto Litti Dahmer, o voucher que o governo pretende criar é um “desaforo”.
Segundo ele, “essa tentativa do governo de criar um vale combustível, um abono para os combustíveis, é um desaforo para a categoria”, disse.
“O presidente (Jair Bolsonaro) precisa criar coragem para enfrentar o problema central e não vir com desabonos que são migalhas para os caminhoneiros. O problema do diesel pode ser resolvido pela sua caneta Bic [do presidente] quando terminar com o fim do preço da paridade internacional da Petrobras (PPI). Essa é a solução”, disse Litti.
Inicialmente, o governo cogitou criar um “auxíliocaminhoneiro” de R$ 400, o que deixou a categoria indignada diante do gasto médio mensal que têm apenas com o diesel, que varia entre R$ 5.000 a R$ 10.000.
Com a insatisfação do setor, o governo agora quer dar um voucher de R$ 1.000 por mês, mas mesmo assim as lideranças dos caminhoneiros afirmam que isso não resolve o problema.
Segundo eles, um auxílio de R$ 1.000 não paga nem 300 km de distância percorrida, e ainda existem o preço do frete que não foi atualizado, e os altíssimos custos com a manutenção do veículo.
A proposta também foi criticada pelo deputado federal Nereu Crispim (PSD-RS), líder da frente parlamentar dos caminhoneiros. “Caminhoneiro não quer assistencialismo para ficar refém de político que a qualquer momento pode fazer chantagem eleitoral!”, afirmou.
A criação de benefícios é ainda proibida em ano eleitoral e, mesmo que o governo federal consiga manobras para viabilizar o auxílio, a partir de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição), por exemplo, essa alternativa está sujeita a questionamentos na Justiça, e as lideranças dos caminhoneiros sabem muito bem disso.
Para o presidente da Abrava (Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores), Wallace Landim, a decisão do governo é uma afronta. Landim diz que a categoria não quer receber esmola, mas sim uma solução estrutural.
“Isso é uma grande piada. O caminhoneiro não precisa de esmola, precisa de dignidade para poder trabalhar. O governo tem de parar de dar chilique e tomar atitude de verdade”, afirmou à reportagem do Estadão.