Informação está em depoimento do atual ministro da Educação à CGU. Assessora informou que Milton Ribeiro marcou viagem de Arilton, que era investigado, em avião da FAB junto com ele. Bolsonaro disse que não viu nada de mais em toda essa bandalheira
Um relatório de 300 páginas da Controladoria Geral da União (CGU) mostra que, mesmo tendo tomado conhecimento das denúncias de ilegalidades cometidas pelos dois pastores dentro da pasta, o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, insistiu para que um dele, o pastor Arilton Moura, obtivesse um cargo em seu gabinete.
Quem informou isso à sindicância interna foi o então secretário executivo do Ministério e atual chefe da pasta, Victor Godoy, que foi ouvido pela CGU. Confira a intenção de Milton Ribeiro de nomear o pastor no trecho que segue do relatório: “Conforme declarou o Sr. Victor Godoy, a intenção inicial do ex-ministro era nomear o próprio pastor Arilton Moura para um cargo no MEC. Como não havia disponibilidade no gabinete do Ministro, o então Secretário-Executivo disponibilizou ao Ministro um cargo de nível DAS-3 para este fim.”
O relatório apresenta depoimentos de diversos servidores do MEC que estavam lotados dentro do gabinete do ministro e também da Secretaria Executiva, cargo que era ocupado por Victor Godoy. Eles contaram que havia uma proximidade muito grande entre o ex-ministro e os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos, denunciados pelos prefeitos de cobrarem propinas para a liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Segundo os depoimentos que estão no relatório da CGU, relatório este que serviu de base para a operação da Polícia Federal, havia uma presença inusual dos pastores no gabinete do então ministro Milton Ribeiro.
O relatório surgiu após as denúncias do empresário Edvaldo Brito de que houve a cobrança de propina por parte de Arilton Moura para a realização de uma reunião do Ministro em sua região, no interior de São Paulo. A investigação teve início em 29 de setembro do ano passado e foi até o dia 3 de março deste ano. A conclusão é que as falcatruas estavam sendo cometidas por pessoas não ligadas ao ministério, ou seja, pelos dois pastores amigos de Bolsonaro.
Como a indicação do nome do pastor Arilton Moura pelo ministro Milton Ribeiro para ocupar um cargo no MEC não conseguiu aprovação técnica da Casa Civil, o ministro entregou o mesmo cargo para Luciano de Freitas Musse, também foi preso junto com o ministro e os dois pastores. Musse chegou a assumir a gerência de Projetos da Secretaria-Executiva do Ministério7, em abril de 2021, mas foi exonerado em março deste ano, em meio às denúncias contra a pasta. A PF suspeita que Musse era o operador da organização criminosa que se instalou no MEC.
A chefe da agenda da assessoria do ministro, Michelle Rodrigues de Souza Braga, informou que o ministro Milton Ribeiro havia solicitado que “o pastor Arilton viajasse em sua companhia em avião da FAB no trajeto entre Brasília/DF e Alcântara/MA, no dia 26 de maio de 2021 o que somente não ocorreu por fatores alheios à vontade dos envolvidos”. Ou seja, os pastores não só controlavam a verba do FNDE como usavam as mordomias do ministro em suas viagens por todo o Brasil. E Bolsonaro afirma que não viu nenhuma irregularidade.
Bolsonaro afirmou neste domingo (26), em entrevista ao programa 4 por 4, da Jovem Pan, que a cobrança de propina de prefeitos por parte de pastores ligados a ele – e que nem eram servidores do Ministério da Educação, para liberar verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), não caracteriza corrupção. Ele disse considerar “injusta” a prisão preventiva feita pela operação Acesso Pago da Polícia Federal.
Segundo Bolsonaro, o relatório enviado pela CGU (Controladoria-Geral da União), que serviu de base para a abertura do inquérito do PF, foi solicitado pelo próprio ex-ministro para fazer um “pente-fino” dentro do MEC. “Não há indícios mínimos de corrupção”, afirmou.
Um dos “indícios” negados por Bolsonaro é uma gravação de uma reunião no MEC na qual Milton Ribeiro aparece dizendo que Bolsonaro fez um pedido especial a ele para atender a todos os pleitos do pastor Gilmar Santos. Esse pastor, e mais um outro, de nome Arilton Moura, foram denunciados por prefeitos por exigirem propina para liberar as verbas do FNDE a que os municípios tinham direito. O último, por coincidência, visitou 45 vezes o Palácio do Planalto.