Litro de leite mais caro que o diesel. Dolarização e exportação desenfreada dos grãos que compõem a ração dos rebanhos, a alta nos custos, a seca e a falta de apoio aos produtores reduziu a oferta. Consumidor levou susto ao ver os preços finais
A tragédia econômica que o governo Bolsonaro está impondo ao país não está restrita aos aumentos absurdos da gasolina, do diesel e do gás de cozinha. O leite longa vida está sendo vendido por preços que vão de R$ 7,00 a R$ 10,00 o litro.
No acumulado de 12 meses, fechados em março, o valor do leite longa vida avançou 20,47%, na região metropolitana de Porto Alegre, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Somente em março, o produto apresentou crescimento mensal de 14,06% no valor.
De abril para maio o aumento para o produtor foi de 4,8%. Entre as causas do aumento, segundo especialistas, estão, além da entressafra, a falta de grão no mercado interno e os aumentos de custos provocados pela alta de combustíveis.
A reação da população aos preços foi de espanto. “Minha mãe hoje gritou no meio do mercado quando viu o preço do leite. Não é mentira. Estava quase R$ 9”, escreveu uma mulher em seu perfil no Twitter na segunda-feira (27), protestando contra os aumentos. “Pelo amor de Deus! Alguém sabe me explicar o que está acontecendo? Por que raios o leite ficou o dobro do preço em uma semana?”, questionou uma outra internauta na terça-feira (28).
A explicação dos produtores é de que o desembolso com a alimentação do rebanho segue em patamar elevado, já que os preços das commodities, como soja e milho, estão subindo no mercado internacional. Como todos esses preços, tanto das commodities como de combustíveis, estão dolarizados e o governo não faz nada, o preço final do leite está ficando proibitivo.
Este descaso das autoridades está tirando mais uma fonte de proteína – a carne já passa longe – da mesa da população mais pobre, principalmente das crianças. Segundo Natália Grigol, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), mesmo com a safra de grãos no segundo semestre, a tendência é de manutenção dos preços altos em função da demanda mundial.
“Ainda que o mercado de grãos sinalize preços mais baratos com o início da safra, é possível que a demanda global drene a oferta doméstica — e isso pode ser intensificado pelo câmbio desvalorizado. Por isso é difícil de prever uma reversão dos preços de alimentos, como os derivados, diante do mesmo posicionamento macroeconômico que o Brasil tem adotado”, afirma a pesquisadora.
Sem nenhum controle por parte do governo, e também sem estoques reguladores, o abastecimento interno de grãos está sendo altamente prejudicado. Isso aumenta os custos dos produtores leiteiros e provoca alta nos preços. Natália ressalta que, nesse período, os insumos que mais pesaram para o produtor foram: a ração — por causa da valorização no mercado de grãos —, o aumento de exportações de grãos e a queda na disponibilidade interna, os suplementos minerais, os fertilizantes e o combustível.
O descontrole do governo na questão do abastecimento do mercado interno vem desestimulado a produção interna. “Toda alimentação animal foi se encarecendo nos últimos anos. Tanto a alimentação concentrada (ração) quanto a volumosa (pastagem) foram afetadas pela alta de combustíveis e fertilizantes. Isso levou muitos pecuaristas a saírem da atividade ou a enxugarem investimentos”, acrescentou Natália Grigol, destacando que “como consequência, a estrutura produtiva, agora, enfrenta dificuldades para elevar o nível de oferta, e os preços ao produtor estão se elevando desde janeiro”.