O “mito” acaba de perder no STJ e terá que indenizar a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, por danos morais, num episódio de agressão e baixaria que chocou o país
O desrespeito e a arrogância com que o ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, tratava as mulheres servidoras do órgão, não é um fato isolado dentro do governo Bolsonaro.
O exemplo de truculência, de preconceito e machismo no tratamento com as mulheres vem de cima. Neste caso, vem diretamente do Palácio do Planalto. A covardia e a violência com que Bolsonaro trata as mulheres já é bastante conhecida.
Guimarães é só mais um macaqueador de seu guru, que acaba de ser condenado em segunda instância a indenizar a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, por danos morais, num episódio de agressão e baixaria que chocou o país. Na primeira instância, Bolsonaro já havia sido condenado a pagar R$ 20 mil de indenização por danos morais. Os desembargadores aumentaram o valor para R$ 35 mil. O placar final foi de 4 votos a 1. O desembargador Salles Rossi foi o único que acatou a tese da defesa do presidente e considerou não ter visto cunho sexista na fala do chefe do Executivo.
Em 18 de fevereiro de 2020, Bolsonaro disse, em meio gargalhadas, numa entrevista, em frente ao Palácio do Alvorada, que a jornalista, responsável por fazer uma série de reportagens que revelaram esquema criminoso de disparo de fake news em massa nas eleições de 2018, “queria dar o furo a qualquer preço contra mim”. “Ela [Patrícia] queria um furo. Ela queria dar o furo, dar o furo a qualquer preço”, disse Bolsonaro na ocasião, às gargalhadas, dele e de seus seguidores.
“Furo” é um jargão jornalístico para uma informação exclusiva. No caso ele quis dar uma conotação sexual ao afirmar que a repórter queria “dar o furo” para obter informações sobre suas fake news nas eleições de 2018.
Patrícia Campos Mello publicou reportagens sobre um esquema de disparo de mensagens em massa com mentiras para favorecer Bolsonaro nas eleições daquele ano. A baixaria com que Bolsonaro respondeu a ela, com sua frase repugnante, indignou o país e, principalmente, as mulheres, que se sentiram ofendidas por seu comportamento machista e misógino. A jornalista processou o presidente e ganhou em duas instâncias.
Depois das reportagens, como é de costume na era Bolsonaro, Patrícia passou a ser alvo de mensagens de ódio e ameaças. Os ataques a ela eram coordenados e intensos, por milicianos apoiadores de Jair Bolsonaro. Toda essa situação serviu de gancho para a jornalista escrever um livro “A máquina do ódio: Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital”, publicado em 2020. Além de contar em detalhes os ataques digitais que sofre, ela rememora os bastidores da reportagem e fez um raio X da atuação das milícias digitais da extrema direita, no Brasil e em outras partes do mundo.
A advogada de Patrícia comemorou a decisão do STJ. “O Tribunal de Justiça deu um passo na restituição da dignidade da Patrícia, das jornalistas e das mulheres deste país”, afirmou a advogada Taís Gasparian. “A decisão foi técnica e justa.”
Patrícia também comemorou a decisão. “Uma vitória de todas nós, mulheres”, afirmou Patrícia em sua página no Twitter. Ela lembrou que o TJ “decidiu que não é aceitável um presidente da República ofender, usando insinuação sexual, uma jornalista”.