O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) voltou a mentir que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ignorou as sugestões feitas pelas Forças Armadas para melhoria do processo eleitoral e disse que a culpa caso os apoiadores do governo se revoltem com o resultado das urnas seria do Tribunal.
Em entrevista ao Estadão, falou que “se as Forças Armadas apontam vulnerabilidades, e o TSE não supre, não resolve esses problemas, é natural que essas pessoas, talvez via comandante do Exército, via ministro da Defesa, tenham que em algum momento se posicionar”.
Trata-se de uma mentira que Jair Bolsonaro e seus aliados estão repetindo para tentar desacreditar as eleições e investir no golpe, já que pelas urnas o caminho até agora se mostra improvável.
O TSE acatou 10 das 15 sugestões feitas pelas Forças Armadas para melhoria do processo eleitoral de outubro. Outras quatro foram apontadas para serem aplicadas nas próximas eleições, enquanto apenas uma foi rejeitada pelo Tribunal Superior Eleitoral.
O presidente da Corte, Edson Fachin, apontou que isso demonstra o “compromisso público da Justiça Eleitoral com a concretização de diálogo plural” não apenas com os parceiros institucionais, mas também com a sociedade civil.
Fachin tem convidado as Forças Armadas para as reuniões da Comissão de Transparência, que é o fórum destinado para discussões técnicas e diálogo interinstitucional sobre o processo eleitoral.
Mais preocupado em incentivar seus apoiadores a tumultuarem quando Jair Bolsonaro for derrotado nas eleições, Flávio continuou questionando e culpando o TSE.
“Por que não atende às sugestões feitas pelo Exército se eles apontaram que existem vulnerabilidades e deram soluções? A bola está com o TSE”, blasfemo.
“Essa resistência do TSE em fazer o processo mais seguro e transparente obviamente vai trazer uma instabilidade”, continuou.
O senador, ao tentar tirar sua responsabilidade sobre as mentiras que divulga, disse que “a gente não tem controle sobre isso. Uma parte considerável da opinião pública não acredita no sistema de urnas eletrônicas”, o que é mais uma mentira.
Quando suas ameaças foram comparadas ao ocorrido nos Estados Unidos, onde os apoiadores do ex-presidente Donald Trump invadiram o Capitólio para tentar impedir a posse do presidente eleito Joe Biden, Flávio falou que o aliado “não tinha ingerência” nas manifestações. O que também se mostra uma falsificação.
A responsabilidade de Donald Trump sobre a invasão e tentativa de golpe de seus apoiadores está sendo apurada e comprovada por uma “CPI” na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos.
Para Flávio Bolsonaro, “Trump não tinha ingerência, não mandou ninguém para lá. As pessoas acompanharam os problemas no sistema eleitoral americano, se indignaram e fizeram o que fizeram”.
Donald Trump passou meses mentindo sobre o sistema eleitoral estadunidense justamente para que seus apoiadores não aceitassem a derrota, sabendo que seria derrotado nas urnas.
Segundo os relatos, Trump agiu diretamente para que o serviço secreto não usasse os detectores de metal em seus apoiadores que chegavam no comício organizado no dia 6 de janeiro, por saber que na multidão de supremacistas e negacionistas havia muita gente armada. “Deixe meu povo entrar”, disse Trump naquele dia. “Eles podem marchar para o Capitólio daqui”.
Quando os apoiadores se dirigiam ao Capitólio para tentar dar um golpe, Trump brigou com um agente que fazia sua segurança. “Eu sou a porra do presidente, me levem até o Capitólio agora”, gritou.
RACHADINHA
Flávio Bolsonaro, o filho zero um, também tentou na entrevista se livrar de acusações contra si, como o caso da rachadinha em seu gabinete e a compra de uma mansão de luxo num bairro suntuoso de Brasília, no valor de R$ 6 milhões.
Ele foi denunciado por praticar a rachadinha (sequestro dos salários de assessores e funcionários) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro quando era deputado estadual.
Fabrício Queiroz, amigo pessoal de Jair Bolsonaro, era quem centralizava o esquema criminoso. Ele recebia até 80% dos salários dos assessores para depois repassar para Flávio. Queiroz pagava, por exemplo, a escola em que estudaram as filhas de Flávio Bolsonaro.
Flávio empregou familiares e amigos em seu gabinete, mas eles não tinham que trabalhar. Como assessores fantasmas, tinham apenas que devolver uma parte do salário para ele, esquema conhecido como “rachadinha”.
O senador empregou a mãe e a ex-esposa do miliciano Adriano da Nóbrega, Raimunda Veras Magalhães e Danielle da Costa da Nóbrega.
O primeiro relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre o caso apontou a existência de operações bancárias suspeitas de 74 servidores e ex-servidores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
O Coaf detectou uma movimentação suspeita de R$ 1,2 milhão na conta de Fabrício Queiroz entre 2015 e 2016. Foi descoberta ainda, na mesma investigação, um depósito de R$ 24 mil na conta de Michelle Bolsonaro, primeira dama do país. Com o desenrolar das investigações e a quebra de sigilos bancários, descobriu-se que Fabrício Queiroz depositou 21 cheques na conta da primeira- dama, Michelle Bolsonaro, no valor de R$ 72 mil, e que sua mulher, Márcia Oliveira, depositou mais R$ 17 mil, perfazendo um total de R$ 89 mil.
Além disso, o Coaf observou que nove funcionários de Flávio Bolsonaro faziam depósitos regulares na conta de Fabrício Queiroz, inclusive sua filha, Nathalia Queiroz, que, apesar de morar no Rio, estava lotada no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro. O Coaf achou também um depósito de R$ 84 mil feito por sua filha, Nathalia, na conta do pai.
Um outro relatório do Coaf mostrou que Queiroz não movimentou, em sua conta, apenas R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Na verdade, Queiroz movimentou R$ 7 milhões. Nos dois anos anteriores a janeiro de 2016, Queiroz movimentou R$ 5,8 milhões. O que significa uma média de R$ 2 milhões e 300 mil por ano, entre 2014 e 2017, sem renda ou patrimônio que expliquem o fenômeno.
O processo contra Flávio Bolsonaro só não foi para a frente porque a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) definiu que o senador possui foro privilegiado válido para impedir processos e julgamentos sobre fatos ocorridos quando ele ainda era deputado estadual e arquivou a investigação por considerar que houve quebra de sigilos fiscal e bancário, por parte do Ministério Público do Rio de Janeiro. O MP-RJ já tomou medidas para reabrir o caso.
As decisões foram tomadas por três votos a favor de Flávio (Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Nunes Marques) e um contrário (Edson Fachin).
A decisão, portanto, não entrou no mérito das acusações, ou seja, não inocentou Flávio Bolsonaro das denúncias. Apenas julgou se o rito dos processos estava correto.
Nunes Marques é o ministro indicado por Bolsonaro para compor o STF.
A compra da mansão de R$ 6 milhões é outro caso mal contado.
Segundo ele, o dinheiro utilizado para comprar a mansão veio da venda de um apartamento e de sua parte da franquia da Kopenhagen, na Barra da Tijuca. Ele também alegou que o dinheiro vinha da sua atuação como advogado, sem nenhuma comprovação de sua atuação.
Os advogados de Flávio Disseram que ele quitou R$ 1,09 milhão da parte paga à vista, o que deixaria R$ 1,74 milhão dessa parte faltando.
Porém, os documentos do cartório informam que a parcela paga à vista foi quitada.
O 4.º Ofício de Notas do Distrito Federal, que fica em Brazlândia, a 50 km do centro de Brasília, omitiu dos documentos da compra da mansão os números dos documentos, como CPF e CNPJ, de Flávio Bolsonaro e sua esposa, Fernanda Antunes Figueira Bolsonaro, assim como a renda do casal. Os dados estão cobertos com tarjas pretas.