Além do abuso sexual contra as servidoras, áudios divulgados em grupos de WhatsApp indicam situações de assédio moral, intimidação e xingamentos pelo ex-presidente do banco, Pedro Guimarães, nomeado por Bolsonaro
Após a demissão, a contragosto, tanto do assediador quanto do presidente Jair Bolsonaro (PL), em razão do escândalo de assédio sexual, o ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, está no centro de outras acusações e coação moral contra os funcionários da empresa.
Áudios enviados em grupos de colaboradores no WhatsApp, aos quais a imprensa teve acesso, revelam sessões de intimidações e xingamentos do ex-gestor aos subordinados.
Em reunião, Guimarães pede a Celso Leonardo Derziê, vice-presidente, para anotar os CPF de todos os que estavam presentes, para que fossem punidos se o teor da reunião vazasse.
“Quem for responsável, vai deixar de ser. Ou o vice-presidente, ou o diretor, ou o superintendente nacional, ou o gerente nacional… Eu quero o CPF de todo mundo”, disse o assediador, que se comportava como capacho de Bolsonaro.
Os funcionários relatam que Guimarães era autoritário e usava palavrões no dia a dia, termos pornográficos e expressões ácidas que mexiam com a auto-estima deles. “‘Pau mole’, ‘júnior’, ‘faixa branca’… É assim que ele chama todo mundo”, afirma um dos empregados da Caixa.
O assédio moral do maníaco vinha acompanhado das expressões de cunho sexual, segundo o relato de uma funcionária que, assim como os demais colegas, pediu para não ser identificada na reportagem do site Metrópoles.
“Tem uma coisa que ele sempre fala que é assim: ‘Vai vir o Long Dong, vai entrar pelo c. e sair pela boca’. Fui até pesquisar por qual motivo ele falava tanto desse Long Dong. É um ator pornô. É muito assustador”, diz ela.
PIMENTA NA COMIDA
Ao Metrópoles, um episódio relatado pelos funcionários que aceitaram falar revela o sadismo de Pedro Guimarães, que procurava dar contornos de suposta brincadeira.
Em jantares, especialmente durante viagens de trabalho, ele despejava pimenta nos pratos dos subordinados e os exortava a comer tudo até o fim, ainda que a contragosto.
No caso da pimenta, uma funcionária diz: “Quanto mais você chora e passa mal, mais ele ri. Ele é bem sádico. Em toda refeição de trabalho com ele tinha pimenta no prato de alguém”.
‘EU QUEM MANDO’
Em outra gravação, se ouve o ex-presidente da Caixa esnobando a opinião dos demais gestores e funcionários do banco. “Não é aceitável. E de novo, caguei para a opinião de vocês, porque é eu quem mando. Isso aqui não é uma democracia. É a minha decisão”, esbravejou.
Em outro áudio encaminhado no aplicativo de troca de mensagens também indica Pedro Guimarães intimidando os funcionários e insinuando perda de cargos.
“Vocês só têm a perder. Cara, são malucos, não tenho que ligar para ninguém. Se deu, ok. Se não deu, ok. E acabou. Por que vocês vão tomar o risco de perder a função por uma coisa que eu não autorizei”, questionou.
No ano passado, Guimarães se envolveu em outro momento controverso da administração gestão dele no banco. Ele colocou funcionários da empresa para fazer flexões durante confraternização de fim de ano da instituição em hotel em Atibaia (SP).
Entidades de classe reagiram diante do caso e classificaram a ação como assédio moral.
ASSÉDIO SEXUAL
Desde a última terça-feira (28), tornaram-se públicos os relatos de mulheres que acusam Pedro Guimarães de assédio sexual. Elas relatam abraços forçados, insinuações constantes e toques nas partes íntimas.
As denúncias embasam investigação do MPF (Ministério Público Federal) sobre a conduta do ex-presidente da Caixa e elevaram a pressão para que ele deixasse a gestão do banco. Como de fato deixou na última quinta-feira (30), contra a vontade dele e do próprio Bolsonaro, que só o demitiu por pressão do Centrão, para não contaminar o debate reeleitoral.
PEDRO GARAGEM
A cada dia os relatos das atividades do ex-presidente da Caixa ganham mais capítulos escabrosos.
O colunista do Metrópoles, Ricardo Noblat, conta que Pedro Guimarães era conhecido como “Pedro Maluco” desde quando trabalhara antes no BTG Pactual e no Banco Santander.
Segundo Nobalt, em Teresina, capital do Piauí, em 2019, em uma das suas primeiras viagens como presidente da Caixa Econômica Federal, ele protagonizou outro episódio na novela das suas perversões.
Alugou um carro blindado de Fortaleza (CE) que chegou a Teresina dirigido por um motorista evangélico. Guimarães estava acompanhado de uma funcionária da Caixa, não se sabe se levada de Brasília ou se escolhida por ele em Teresina.
Ele mandou que o motorista o levasse, e à moça, ao Shopping Rio Poty, às margens do rio com o mesmo nome que corta a cidade. Mandou que o motorista parasse o carro no estacionamento do shopping. E sob a desculpa de que precisava ter uma conversa reservada com a moça, orientou-o a sair do carro para só voltar quando ele avisasse.
Acontece que mesmo a certa distância, o motorista viu, dali a instantes, que o carro começou a balançar, balançar, balançar. Decidiu ir ver o que se passava. E o que viu, o deixou indignado. Sacou do celular e informou a respeito ao seu chefe em Fortaleza.
O motorista disse que, dali por diante, recusava-se a transportar o casal. Foi convencido a não abandonar o serviço sob ameaça de demissão, mas nunca mais esqueceu a história. No mesmo dia, ela chegou aos ouvidos da nata da sociedade de Teresina e é lembrada até hoje como “Pedro Garagem”.
DEPUTADAS BOLSONARISTAS APOIAM O ABUSADOR
Bolsonarista ardorosa, a deputada Alê Silva (Republicanos-MG) foi às redes sociais defender a gestão de Pedro Guimarães à frente da Caixa e disse que não há provas de que ele incorreu em crime de assédio sexual contra funcionárias do banco.
Ela postou foto, publicada na quinta-feira (30), em que aparece ao lado de Guimarães.
A deputada alega que há exploração política no caso.
“Será que a ganância política vale tanto? Qual o ganho que se tem com tanta exposição, senão política para alguns? Espero que seja tudo apurado e esclarecido. Por fim, agradeço e parabenizo o Sr. Pedro Guimarães pelo tempo em que esteve à frente da CEF”, postou Alê Silva nas suas redes.
Segundo ela, como advogada atuou em vários processos de assédio sexual no trabalho e diz que a grande maioria não se confirmou.
“A grande maioria não de confirmou, não passou das denúncias. Ninguém deve ser condenado sem provas. O que mais me causa estranheza neste caso é que processos que deveriam estar tramitando sob sigilo absoluto, em razão da sua natureza (crime contra a honra), tiveram tanto vazamento de informações. Lembremo-nos que causas como essa não atingem só as partes diretamente envolvidas, mas também as suas famílias, sendo portanto, uma covardia para com estes”, disse Alê Silva.
Outra deputada bolsonarista, Carla Zambelli (PL-SP), também insinuou apoio a Pedro Guimarães.
Sem escrever nada, a deputada postou uma foto de Guimarães abraçando uma idosa em sua conta no Twitter, sem legenda, mas com dois ‘emojis’, um da bandeira do Brasil e outro de um sinal de ‘jóia’.
As deputadas desdenham cruelmente dos relatos das funcionárias da Caixa que narram toques íntimos não autorizados, convites incompatíveis com a situação de trabalho e outras formas de assédio por parte de Guimarães. “Ele passou a mão em mim. Foi um absurdo. Ele apertou minha bunda. Literalmente isso”, relatou uma das vítimas.
Outra funcionária do banco detalhou um jantar em que Guimarães falou sobre a intenção de organizar “um carnaval fora de época” onde “ninguém vai ser de ninguém. E vai ser com todo mundo nu’”.
Outros presentes no local confirmaram as falas do executivo. As situações de assédio aconteciam, na maioria das vezes, em viagens do executivo como parte do programa Caixa Mais Brasil.
M. V.