O jornalista Audálio Dantas nasceu na localidade de Tanque D’Arca, em Alagoas, em 1932. Iniciou sua carreira de jornalista como repórter da Folha da Manhã (1954), passando depois pela revista O Cruzeiro, Quatro Rodas, Realidade, Manchete e Nova. Destacou-se como presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo em plena época da ditadura. Neste dia 30 de maio, ele perdeu a batalha contra um câncer e nos deixou, com 89 anos de idade.
Em 1975, quando Vladimir Herzog morreu na prisão, Audálio, então presidente do Sindicato, denunciou o crime da ditadura. Ele foi um dos responsáveis por revelar que Herzog foi torturado e morto no DOI-CODI – o que contrariava a versão oficial do governo, de suicídio. Foi ameaçado por isso e não recuou. Em 1978 foi eleito deputado federal pelo antigo MDB.
Recebeu da ONU, em 1981, prêmio de defesa dos direitos humanos. Além de sua destacada atuação no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Audálio teve sempre, também, importante participação junto a outros órgãos de classe, como a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Ele foi o primeiro presidente eleito por voto direto da Federação Nacional dos Jornalistas.
Quando o jornalista Cláudio Campos, dirigente do Movimento Revolucionário 8 de Outubro, e fundador da Hora do Povo, foi preso no início da década de 80, por denunciar a existência de contas secretas de brasileiros na Suíça – que já naquela época recebiam propinas e roubavam nossas empresas públicas -, lá estava Audálio Dantas, denunciando e lutando por sua liberdade e e]pela liberdade de expressão. Era um incansável defensor da verdadeira liberdade de imprensa.
Certa feita, eu o entrevistei para uma reportagem do Sindicato dos Escritores de São Paulo. Quando falamos do livro “Quarto de despejo”, de Carolina Maria de Jesus, ele nos contou como a conheceu. Tinha sido pautado para uma reportagem sobre a favela do Canindé, na Zona Norte de São Paulo. Chegando lá, se dirigiu a uma moça na rua. Perguntou algo sobre a situação da comunidade.
Na conversa, depois que ele se apresentou como jornalista e escritor, ela [Carolina] disse a ele que também era escritora. Duvidando um pouco, ele pediu que ela mostrasse seu trabalho. Foram até o seu barraco e ali ele descobriu que estava diante de uma grande escritora. Em 1960 publicou o livro de Carolina que tornou-se uma obra de grande sucesso, traduzida para 13 idiomas. Carolina, que havia tentado várias vezes publicar seus textos, viu em Audálio, uma grande pessoa que a ajudou a ser reconhecida internacionalmente. Entre os livros de Audálio está “As duas guerras de Vlado Herzog”, em que conta como o jornalista foi vítima dos nazistas na Iugoslávia, nos anos 1940, e das forças de repressão da ditadura militar brasileira.
SÉRGIO CRUZ
Assista abaixo ao depoimento que Audálio Dantas nos deu em 2014