
Intelectuais que seriam homenageados com a medalha de Ordem do Mérito do Livro, entregue pela Biblioteca Nacional (BN) rejeitaram a comenda depois de saberem que apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), como o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado por incitar atos golpistas contra a democracia brasileira, também seriam agraciados.
Ao menos 10 pessoas recusaram a medalha após receberem a notícia de que bolsonaristas, que não tiveram qualquer contribuição à cultura nacional seriam homenageados pelo órgão federal.
Em uma cerimônia fechada, que foi mantida em segredo até para funcionários da instituição, a Biblioteca Nacional homenageou do golpista Daniel Silveira, outros aliados de Bolsonaro, como o delegado da PF e ex-diretor geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Alexandre Ramagem, o deputado federal Hélio Lopes (PL-RJ), que se intitula o “Negão do Bolsonaro” e a deputada federal Chris Tonietto (PL-RJ). Constam na lista os deputados estaduais do Márcio Gualberto (PL) e Samuel Malafaia (PL), irmão do pastor Silas e o vereador do Rio de Janeiro Carlo Caiado (DEM).
Segundo os presentes, houve ainda uma homenagem póstuma ao guru do bolsonarismo Olavo de Carvalho, morto pela covid e por seu negacionismo em janeiro deste ano.
RECUSAS
A escritora e roteirista Adriana Falcão se recusou a receber a medalha e afirmou em comunicado em suas redes sociais: “Fiquei honrada em saber que iria receber a Medalha Biblioteca Nacional – Ordem do Mérito do Livro. Soube, porém, que o deputado Daniel Silveira a receberá, então só posso recusar a medalha. Pensei que o mérito era do livro, como diz a homenagem. Estava enganada”.
O historiador José Murilo de Carvalho, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) comunicou aos colegas que também recusou a medalha e enviou um e-mail para o presidente da Biblioteca Nacional informando que ele, juntamente com outros três pesquisadores, recusariam honraria.
O historiador Arno Wehling, diretor das Bibliotecas da ABL e ex-presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) disse que foi surpreendido com a inclusão dos bolsonaristas na lista dos homenageados com a medalha da Biblioteca Nacional.
A surpresa de Wehling se deu por “pessoas não apenas distantes de sua história, mas até mesmo antagônicas à sua essência”, receberem uma homenagem da Biblioteca Nacional.
A ex-diretora executiva da Biblioteca Nacional, Maria Eduarda Marques, que se demitiu em março do cargo, após seis anos nele, esposa do sócio correspondente da ABL Leslie Bethel, também recusou a condecoração.
A escritora Mary Del Priori também não quis receber a honraria, assim como o antropólogo Antonio Riserio.
Nélida Piñon disse que recebeu o prêmio pelo “enorme respeito” que tem pela Biblioteca Nacional. Ela não conhecia a relação dos agraciados, e por isso compareceu à solenidade para receber a medalha.
Porém, Nélida, ao saber dos apoiadores do governo Bolsonaro recebendo a honraria, atribuiu sua aceitação ao amor e respeito que tem pela Biblioteca Nacional, “que não é do governo, mas do povo brasileiro”. Segundo Nélida, “o governo Bolsonaro caracteriza-se pelo desleixo com a cultura nacional, que não foi tema de seu governo”.
A família de um dos maiores poetas brasileiros, já falecido, Carlos Drummond de Andrade, se manifestou apoiando aqueles que se recusaram e afirmou uqe “devolveria a medalha” que lhe fora agraciada em outras épocas, em que os grandes intelectuais brasileiros a recebiam.
Anteriormente, o ex-presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), escritor Marco Luchesi, já havia afirmado no Twitter: “Se aceitasse a medalha seria referendar Bolsonaro, que disse preferir um clube ou estande de tiros a uma biblioteca”. Além dele, outro acadêmico da ABL, o poeta Antonio Carlos Secchin, também já havia recusado: “Se constituirá na celebração de uma única diretriz política, agraciando pessoas sem relação com livros, biblioteca e cultura”.
Em nota, a Associação dos Servidores da Biblioteca Nacional afirmou que desaprova a homenagem.
“É ainda mais aviltante por acontecer num momento em que a instituição enfrenta um grave problema de desvalorização de seus servidores, sobrecarregados pela falta de concurso e pelas muitas aposentadorias recentes, além de seus salários defasados. Não é de se surpreender que tal homenagem tenha sido mantida em segredo, impedindo inclusive que os servidores manifestassem seu desacordo”, disse a entidade.
Que Tristeza,mta.falta de respeito com nossa BN…Sou Encadernadora Conservadora,prestei serviço pra BN e sinto muito por meus amigos q ainda Trabalham la e terem q suportar tal Humilhação…