
“Qual é o problema de um filho visitar um pai em seu trabalho?”, questionou com ironia Marcelo Queiroga à pergunta do líder do PSB
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, compareceu à audiência pública na Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (5), para esclarecer denúncias de irregularidades relacionadas à pasta. Entre essas, indícios de que o filho dele, conhecido como Queiroguinha, estaria intermediando a liberação de recursos públicos do ministério e do FNS (Fundo Nacional de Saúde) para prefeitos da Paraíba, Estado pelo qual é pré-candidato a deputado federal.
Esta é mais uma denúncia de que Jair Bolsonaro (PL) se elegeu com discurso da moralidade pública, todavia a prática é o inverso. O governo comandado por Bolsonaro está todo infiltrado por desmandos, indícios graves de corrupção em vários setores da máquina pública e graves desvios de conduta por agentes públicos e políticos comandados pelo bolsonarismo.
É certo que o chefe do Poder Executivo perdeu completamente o discurso da probidade e da honestidade nas lides com a coisa pública.
Queiroguinha chegou a afirmar em Encontro Anual dos Prefeitos da Região do Cariri que era “representante do governo federal” e que promoveria reuniões dos políticos com o ministro. Importante destacar que o filho de Marcelo Queiroga não tem cargo formal no governo.
INTERMEDIAÇÃO
Autor do requerimento que solicitou a audiência pública, o líder do PSB na Câmara, deputado Bira do Pindaré (MA), perguntou como o ministro justifica a atuação do filho, que intermedia o acesso de agentes políticos ao gabinete do ministro, bem como a liberação de recursos do ministério e do FSN para municípios paraibanos.
Queiroga falou na Câmara aos Deputados em reunião conjunta das comissões de Seguridade Social e Família; de Defesa do Consumidor; de Defesa dos Direitos da Mulher; de Fiscalização Financeira e Controle; e de Trabalho, Administração e Serviço Público.
EMERGÊNCIA SANITÁRIA
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) questionou o ministro sobre o fim da emergência sanitária por causa da pandemia em 22 de maio, decretado pelo governo. Segundo ela, vários especialistas apontaram que a medida foi precipitada e que o número de casos aumentou.
Queiroga afirmou que a emergência só se justificava pela necessidade de estruturar o sistema para receber os pacientes e que isso agora existe. O ministro lembrou que os Estados pediram que a emergência durasse até 17 de julho.
“Haja vista que neste interregno houve carnaval no Rio e em São Paulo, houve parada LGBTQIA+ em São Paulo e em Brasília, marcha da maconha, festas juninas… Não há que se falar que se vive emergência de saúde pública de importância nacional com todos estes eventos reunindo milhares de pessoas”.
Ele foi enfático. “Eu não abro mão da minha autoridade. Encerrei a emergência de saúde pública no dia 22 de maio conforme previamente anunciado”.
“GABINETE PARALELO DENTRO DO MINISTÉRIO”
“Existe um gabinete paralelo dentro do ministério comandado pelo senhor que tem o objetivo de eleger seu filho? Ele está fazendo uso da máquina pública para se eleger? O senhor sabe que pactuar com a atuação do seu filho como intermediário nas ações do MS constitui improbidade administrativa e crime de responsabilidade?”, questionou o deputado do PSB.
Queiroga respondeu com ironia: “qual é o problema de um filho visitar um pai em seu trabalho?”.
Queiroga afirmou que o filho é filiado ao PL (Partido Liberal), partido que abriga Jair Bolsonaro, que é candidato à reeleição, pré-candidato a deputado federal e que quando fala “nosso governo”, o faz por ser admirador e apoiador de Bolsonaro.
CADASTRAMENTO DE DEMANDAS
Segundo publicação do Estadão, Queiroguinha disponibiliza a agenda do pai em troca de apoio à candidatura dele a deputado federal.
Relatos de prefeitos indicam que as reuniões promovidas pelo filho do ministro costumam resultar em cadastro imediato das demandas nos sistemas do MS.
Além disso, Queiroguinha representou a pasta em cerimônias para anunciar a liberação de recursos públicos, em substituição ao ministro, inclusive com direito a discurso.
MAMATA CORRE SOLTA SOB BOLSONARO
Para o deputado Elias Vaz (PSB-GO), as denúncias são graves e o ministro precisa dar respostas. “O senhor reprova ou foi conivente com esse tipo de situação?”, perguntou a Queiroga.
Nesta segunda-feira (4), o jornal O Globo mostrou que Queiroguinha esteve 12 vezes no Palácio do Planalto no último ano, três dessas no gabinete de Bolsonaro. Além disso, esteve em pelo menos 18 visitas ao MS, diversas vezes em companhia de prefeitos paraibanos.
M. V.