Escalada no preço do querosene, com aval do governo, vai pesar ainda mais no bolso do consumidor. Passagens aéreas acumulam alta de 123,26% em doze meses
A direção da Petrobrás, com o aval do governo, aumentou em 3,9% o preço médio do querosene de aviação (QAV) nas refinarias da estatal, na terça-feira (5). Com mais esse reajuste, o combustível acumula alta de 70,6% em 2022, depois de ter subido 92% em todo o ano passado em relação a 2020. As companhias aéreas já afirmam que vão repassar o aumento, elevando ainda mais os preços dos caríssimos bilhetes aéreos.
O QAV corresponde a um terço dos custos das companhias aéreas. As empresas divulgaram nesta quarta-feira (6) que as passagens aéreas terão novo aumento nos próximos dias. Os preços dos bilhetes já acumulam alta de 123,26%, em 12 meses até junho, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 – prévia da inflação oficial.
Para o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, “os preços saíram completamente de controle. De que adianta ter tido o PIS/Cofins sobre o querosene zerado e descer o teto do ICMS em sete pontos se a Petrobrás mete 70% de aumento no preço? Isso acaba no preço do bilhete, não tem jeito”. Sanovicz destaca que o preço do QAV no Brasil chega a ser 40% mais caro do que a média global e aponta a atual política de preços da Petrobrás como o principal fator para o encarecimento das passagens.
No início de junho, o governo, seguindo a política de atrelar os preços internos dos combustíveis ao dólar e ao barril de petróleo, chamada de PPI, já havia reajustado o QAV em 11,4% ante maio. Anteriormente, em abril, o combustível foi elevado em 18,6%.
Ocorre que não há motivos para as empresas no Brasil pagarem o preço do QAV com base no dólar, no petróleo no mercado internacional e mais os custos do importador, já que o país produz mais de 90% do querosene de aviação que utiliza. No entanto, o governo mantém essa prática para engordar os ganhos dos acionistas – na sua maioria estrangeiros – do cartel de importadores de combustíveis.
Em 2021, o país produziu 93% (ou 4,1 bilhões do consumo total de 4,4 bilhões de metros cúbicos) do QAV consumido e importou apenas 7%, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Bicombustíveis (ANP).
De acordo com os dados mais recentes disponíveis pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), a tarifa aérea média real registra alta de 12,6%, na comparação com valor acumulado de janeiro a abril de 2022 (R$ 580,41) com a tarifa aérea média real do ano passado (R$ 515,22).
Em outros números publicados na sexta-feira (1/7), a Anac diz que os principais indicadores do transporte aéreo no mercado doméstico atingiram níveis próximos ao que foi apurado antes do início da pandemia: voos domésticos foram transportados 6,4 milhões de passageiros, uma queda de 10% diante de maio de 2019; voos internacionais, foram transportados 1,2 milhão de passageiros, o que representa recuo de 36,5%.