Encontro ocorreu na quarta-feira (6) na sede da Fundação Perseu Abramo, em São Paulo. Os dirigentes falaram das consequências da venda da Eletrobrás para o país e lançaram manifesto pela reestatização da empresa
Na manhã da quarta-feira (6), lideranças dos trabalhadores do setor de energia se encontraram, na sede da Fundação Perseu Abramo, região central de São Paulo, com a coordenação da campanha Lula/Alckmin. Os eletricitários fizeram um diagnóstico do setor, destacaram o caráter estratégico da área energética para a soberania do país e apontaram a necessidade da reestatização da Eletrobrás.
Recentemente, numa visita a Belo Horizonte, Lula foi contundente ao criticar a privatização da Eletrobrás. “A Eletrobrás foi construída ao longo de décadas, com o suor e a inteligência de gerações de brasileiros. Mas o atual governo faz de tudo para entregá-la a toque de caixa e a preço de banana. O resultado de mais esse crime de lesa-pátria seria a perda da nossa soberania energética”, criticou Lula. “Defender a nossa soberania é defender também a Eletrobrás daqueles que querem o Brasil eternamente submisso”, enfatizou.
Participaram presencialmente do encontro em São Paulo pela direção do movimento dos eletricitários Ikaro Chaves, Secretário Geral da Associação dos Engenheiros e Técnicos do Sistema Eletrobrás desde 2018 e Engenheiro das Centrais Elétricas do Norte do Brasil; Fabiola Latino Antezan, especialista em Energia e Sociedade no Capitalismo Contemporâneo pela UFRJ, trabalhadora do Sistema Eletrobrás e diretora do STIU-DF; Tiago Bitencourt Vergara, Secretário Geral do Sindicato dos Eletricitários de Florianópolis e Região (Sinergia) e Vitor Frota, diretor do Sindicato dos Urbanitários do Distrito Federal (STIU-DF).
Ícaro, que integra a CTB, fez uma apresentação da posição dos eletricitários quanto à privatização da Eletrobrás e apontou o alto custo da venda da empresa para o país. Os demais sindicalistas complementaram a apresentação. A primeira consequência apontada pelo sindicalista da CTB será a alta das tarifas e um grande prejuízo para os consumidores. “A União fez aprovar na Lei 14.182/2021 a chamada descotização, que sozinha trará um enorme impacto negativo para mais de 88 milhões de unidades consumidoras do Brasil”, alertou Ícaro.
Por parte da coligação da campanha estavam presentes Willian Nozaki, da Fundação Perseu Abramo, que conduziu a reunião, Guilherme Martinellu, da Fundação 1º de Maio, e Rubens Diniz e Sérgio Cruz, pela Fundação Mauricio Grabois, do PCdoB. Participaram remotamente a ex-ministra do governo Lula Mirian Belchior e o professor Maurício Tolmaskin, professor da UFRJ e ex-diretor da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), além de outros dirigentes sindicais e lideranças dos eletricitários.
Os participantes do encontro debateram as medidas que podem ser tomadas, de curto e médio prazos, para que o país evite uma crise do setor com a privatização, volte a ter soberania energética e possa planejar a ampliação da oferta de energia. Todos foram unânimes em apontar que os setor privado não investe o que o país necessita para garantir a segurança energética.
Um ponto que foi destacado é que em vários lugares do mundo onde o setor de energia foi privatizado, atualmente está ocorrendo um processo de reestatização. Foi lembrado que os processo de reestatização se dão geralmente acoplados às discussões sobre a transição energética. Os sindicalistas apresentaram três documentos. O primeiro intitulado, “ O Alto Custo da Privatização da Eletrobrás para o Brasil”, o segundo “Por um Setor Elétrico a Serviços do Brasil” e o Manifesto Pela Reestatização da Eletrobrás.”
“A Eletrobrás”, diz o documento dos eletricitários “ produz mais de 90% de sua energia através de suas 45 hidrelétricas e é a segunda maior empresa de geração de energia hidrelétrica do mundo, sendo responsável por 52% de toda a água armazenada em nossos reservatórios”.
“Isso dá à empresa uma responsabilidade muito grande, tanto pelo fato de administrar a maior parte da “bateria” do sistema elétrico brasileiro, quanto por administrar a água utilizada par todos os outros usos que a sociedade faz daqueles reservatórios”, apontam os sindicalistas.
“A privatização da Eletrobrás, ainda mais sob o regime de Produção Independente de Energia, onde o lucro da empresa estará relacionado com a capacidade de turbinar mais água nos períodos de estiagem é a efetiva privatização dos principais rios brasileiros, como o São Francisco, Tocantins e toda a bacia do Paraná”, denuncia o documento. “Com a privatização, em especial no modelo em que foi feita, haverá disputa entre a poderosa Eletrobrás privada de um lado e todos os demais usuários daquela água, seja para a agricultura, turismo e lazer, navegação e até mesmo para o abastecimento humano”, acrescentam os dirigentes sindicais.