Um levantamento do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), divulgado neste mês de julho, mostra que o quadro da miséria no Brasil piorou com Bolsonaro e que o mal-estar provocado pelo empobrecimento é o mais alto em dez anos.
O professor emérito do Instituto de Economia da UFRJ, João Saboia, que realizou o estudo junto com pesquisadores da universidade e economistas do IBGE afirma que o “índice de miséria” disparou no último ano.
Nos cálculos dos pesquisadores, esse índice está hoje em 0,947, subindo quase 60% em relação a 2020, quando era de 0,591. O “índice de miséria” vai de zero a 1. Quanto mais alto, pior a situação. Ele se baseia nas taxas de inflação e desemprego, com a introdução das variáveis rendimento do trabalho, inadimplência e subutilização da mão de obra.
“O índice de miséria aumenta quando a economia está mal. Quando a economia está indo bem, ela cai. Quando a economia está melhorando muito, ele cai bastante. Se a economia está piorando muito, ele sobe muito”, resume Saboia, em entrevista ao Sindicato dos Engenheiros de São Paulo (SEESP), afirmando que o indicador começou a crescer a partir da crise observada em 2015 e 2016, com leve melhora no período seguinte em que houve crescimento fraco e voltou a disparar nos anos seguintes, com salto recorde em 2021, quando atingiu 87.
Os pesquisadores desenvolveram uma forma de retratar as condições de vida dos brasileiros, mensurando-as numa escala de zero a 100 na qual quanto maior o número, pior o resultado. O tempo considerado é de 2012 a 2022.
“São mostrados os últimos três governos do país, com variações dentro de cada um, mas o fato concreto é que, em termos médios, a piora é clara. Você tem 36 na média do governo Dilma, 54 no Temer e o índice médio do atual governo é 62, que é o nível mais elevado de toda a série que conseguimos construir”, destaca Saboia.
QUEDA NA RENDA E ALTA DA INADIMPLÊNCIA
O estudo também aponta que a renda dos 20% mais pobres caiu de R$ 244,50 em 2020 para R$ 187,50 per capita em 2021, perda de 23,3%, bem mais severa que a média geral de 7%. Frente a 2014, o melhor momento da renda dessas famílias, a redução no poder de compra foi de 27,3%. Por outro lado, a sondagem aponta que os ganhos dos 20% mais ricos representam 21,1 vezes os dos 20% mais pobres. Em 2020, eram 16,9 vezes.
O estudo ainda registra dados da inadimplência. Pela pesquisa, 27,2% dos devedores têm pagamentos atrasados. O economista sênior da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes, lembra que o número absoluto de devedores, 66 milhões, é o maior da série histórica da Serasa, que começou em 2016. O valor médio das dívidas chegou a R$ 4.107, também recorde. Há 3,42 dívidas por família no Brasil, média que só não é pior do que em 2020, quando eram quatro.
“Mas o tíquete médio de cada dívida aumentou e é o maior: R$ 1.212”, diz Bentes, que observa um crescimento da demanda por crédito, mesmo com juros subindo. “Certamente são as famílias tentando fechar o orçamento. Esses recursos não estão indo para o consumo, porque o comércio está crescendo de forma preguiçosa”, avaliou.