Mais um estudante foi assassinado durante o enfrentamento acontecido na terça-feira, 29, em Manágua, após 41 dias desde o início dos protestos contra o governo de Daniel Ortega e sua mulher, a vice-presidente Rosario Murillo.
O assalto de policiais e brigadas de choque paramilitares, que trabalham sob as ordens do governo, contra a Universidade Nacional de Engenharia (UNI) provocou a morte do estudante e ferimentos em mais de 50 jovens, em sua maioria por armas de fogo. A ação armada ocorreu depois que centenas de estudantes decidiram ocupar o recinto universitário como protesto contra o corte do orçamento para a educação e o rebaixamento do salário dos professores.
Entre a quinta e a sexta passadas, pelo menos mais quatro pessoas morreram no país como consequência de atos de repressão em manifestações, que já deixaram 83 mortos, segundo a Polícia e familiares.
Os protestos começaram quando o governo, atendendo ao FMI, anunciou um aumento nas contribuições para a Previdência de 3,5 pontos percentuais para os empregadores (de 19% a 22,5%) e de 0,75 pontos percentuais para os trabalhadores (de 6,25% para 7%), e corte de 5% nas pensões dos aposentados.
TRAIÇÃO DE ORTEGA
Como afirmou o ex-redator chefe do jornal português, Avante!, Miguel Urbano Rodrigues, (falecido em maio de 2017), Daniel Ortega, que esteve no comando da guerrilha que derrubou o ditador Somoza, “imprimiu uma orientação que deslocou gradualmente para a direita o partido revolucionário fundado por Carlos Fonseca Amador, a Frente Sandinista de Libertação Nacional”.
“Isso ocorre desde que perdeu as eleições presidenciais em 1990”, diz Rodrigues.
A vitória da FSLN por meio de ações criativas e ousadas gerou grande esperança de avanço da ideologia antiimperialista e patriótica na América Latina porém, passados alguns anos de exercício do poder e alvo de financiamento de contra-revolucionários pelos norte-americanos, “a FSLN não demonstrou porem a mesma lucidez e firmeza da organização guerrilheira fracassou na tarefa de reconstruir a economia e perdeu gradualmente o apoio de amplos setores da população”.
Para retornar ao poder, Ortega fez acordos expúrios como o celebrado com o corrupto Arnoldo Aleman, um antigo somozista e condenado a 20 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiros”.
Rosário Murillo, esposa de Ortega e vice-presidente concentra grande fortuna e outros sandinistas aderiram à locupletação. Agora o governo se volta contra a população e os protestos pedem a saída de Ortega.
“Estão atacando para matar os jovens dentro da Universidade”, denunciou Bianca Jagger, que estava presente na Universidade. Ativista social e política nascida na Nicarágua, Bianca se tornou conhecida mundialmente após ter se casado com Mick Jagger dos Rolling Stones.
“Pistoleiros atacaram estudantes da UNI, onde até uma delegação da Anistia Internacional estava presente um dia antes de publicar um informe sobre violações de direitos humanos”, confirmou Monsenhor Silvio José Báez, bispo auxiliar de Manágua.
Apesar do clima de violência reinante no país, a Comissão Mista, conformada pelo governo e pela oposição unida na Aliança Cívica pela Justiça e a Democracia, conseguiu reativar uma Mesa de Diálogo que parecia inviável e deve se reunir nos próximos dias.
Do lado governamental se exige que sejam levantados os bloqueios de estradas e ruas; já os estudantes, setores da sociedade civil e do empresariado insistem em discutir a agenda de democratização do país, incluído a marcação de novas eleições.
“Jovens sequestrados e assassinados, repressão brutal em todas partes, paramilitares atuando em cumplicidade com a polícia, capturas massivas, desaparecidos, incêndios e caos. Isso é o governo de Ortega”, assinalou a ex-comandante guerrilheira sandinista Dora María Téllez, hoje crítica do governo.