Negociações em Istambul, com a participação de delegações militares da Rússia e da Ucrânia, de observadores da Turquia e da ONU registram avanços para retirada das minas colocadas pela Ucrânia em seus portos que, até agora, barram a saída de grãos ali armazenados
“A Rússia tem repetidamente declarado sua disposição em permitir o transporte seguro de grãos através de corredores de navegação no Mar Negro”, declarou Pyotr Ilyichev, que preside o Departamento do Ministério do Exterior da Rússia para Relações com Organizações Internacionais, pouco antes do encontro com a partipação de delegações da Rússia, Ucrânia, Turquia e ONU em Istambul.
Na quarta-feira (13), ao final deste encontro para tratar da exportação dos grãos armazenados em portos ucranianos, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, saudou o pré-acordo alcançado em Istambul e pediu mais diálogo entre as partes. As delegações voltarão a se reunir na próxima semana.
“UM RAIO DE ESPERANÇA”, DIZ SECRETÁRIO-GERAL DA ONU
“A reunião foi como um raio de esperança. Claro, esta foi uma primeira reunião, mas o progresso foi extremamente encorajador. Esperamos que os próximos passos nos permitam chegar a um acordo formal”, assinalou o chefe da ONU.
Por sua vez o anfitrião da reunião, o ministro da Defesa turco Hulusi Akar, anunciou que todas as partes concordaram “em questões técnicas sobre a criação de um centro de coordenação em Istambul, o controle conjunto na saída do porto e nos pontos de chegada e a garantia da segurança da navegação”.
Guterres descreveu a medida como “um raio de esperança para aliviar o sofrimento humano e eliminar a fome”, referindo-se à dependência dos países em desenvolvimento das exportações de alimentos e fertilizantes, que foram interrompidas. O que se deu tanto porque o regime de Kiev minou e fechou seus portos, quanto pelas “sanções do inferno” de Washington e Bruxelas contra a Rússia, que está entre os maiores exportadores de grãos e fertilizantes do mundo.
Embora a mídia da Otan só fale em liberar “grãos ucranianos”, o problema é muito maior, já que, como salientou a União Africana, o continente depende enormemente do fornecimento de trigo e fertilizantes russos, que os EUA tentam banir com suas sanções.
No mês passado, o presidente senegalês e chefe da União Africana, Macky Sall, alertou que as sanções do Ocidente aos alimentos russos ameaçam minar a segurança alimentar do continente e deixá-lo sem acesso adequado a grãos e fertilizantes.
Foi a primeira reunião presencial entre delegações russas e ucranianas desde março. Guterres disse que, embora haja “um longo caminho a percorrer” antes que um acordo negociado para o conflito seja alcançado, as negociações de grãos de quarta-feira “demonstraram que as partes podem ter um diálogo construtivo”.
Oleg Kobiakov, da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), alertou que a atual crise na Ucrânia e as sanções ocidentais às exportações russas de alimentos podem exacerbar o impacto de uma série de problemas relacionados à segurança alimentar já enfrentados pelos países em desenvolvimento nos últimos dois anos e meio, em razão da pandemia de Covid-19.
“De acordo com as estatísticas de 2021, o número de pessoas que sofrem de fome no mundo atingiu 828 milhões, cerca de 150 milhões a mais do que no ano pré-Covid”, disse Kobiakov , falando em um evento virtual sobre segurança alimentar global realizado pela Rossiya Segodnya/Sputnik, na terça-feira.
O especialista da ONU alertou que a segurança alimentar das nações africanas e asiáticas em desenvolvimento já foi prejudicada pelo impacto de uma série de outras calamidades, incluindo conflitos militares locais, desastres naturais, convulsões econômicas e inflação desenfreada.
Apontando para a proposta da FAO de criar um fundo internacional para apoiar a exportação de alimentos, fertilizantes e energia para países em desenvolvimento, Kobiakov ressaltou que o progresso nessa área só será possível se os membros da ONU agirem de forma concertada.