Jair Bolsonaro demitiu o general Décio Brasil para oferecer o cargo e a mamata ao ‘compadre’. “Minha exoneração já foi junto com a nomeação dele para o meu lugar”, disse à época o general. O novo secretário gastou R$ 332 mil só em viagens para o Rio, onde mora
O padrinho de casamento de Flávio Bolsonaro (PL), Marcelo Reis Magalhães, foi indicado ao cargo de secretário nacional do Esporte unicamente pela relação com o filho mais velho do presidente da República. O beneficiado com a mamata fez quase 100 viagens com verba pública para passar feriados e finais de semana no Rio de Janeiro, onde tem casa. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
O secretário, chegado da família Bolsonaro, foi nomeado para a função no lugar do general Décio Brasil, que à época (março de 2020) disse à imprensa acreditar que havia sido exonerado por ter resistido a atender ao pedido de Bolsonaro de nomear o padrinho de Flávio para sua equipe. “Talvez isso tenha desagradado ao presidente, porque a minha exoneração já foi junto com a nomeação dele para o meu lugar”, disse o general, dias após perder o cargo.
Em março de 2021, Bolsonaro alterou toda a estrutura do Ministério da Cidadania para beneficiar ainda mais o compadre. O decreto assinado pelo presidente reduziu o tamanho de áreas técnicas responsáveis pela política de Assistência Social e pelo combate a fraudes do ministério para dar 30 novos cargos subordinados a Marcelo Reis Magalhães, que já ocupava o cargo de secretário especial do Esporte.
O secretário de esportes, apaniguado de Bolsonaro, já fez quase 100 viagens adquiridas pelo governo junto a empresas aéreas desde que assumiu o cargo, em fevereiro de 2020, sendo que, em quase todas elas, não há registro de atividade pública exercida. Em mais da metade, os deslocamentos lhe proporcionaram passar finais de semana (completos ou parciais) ou feriadões no estado onde morava antes de assumir o cargo em Brasília, de acordo com o Sistema de Concessão de Diárias e Passagens do Ministério da Economia.
Deste total de viagens, 94 foram para o Rio, onde o compadre de Bolsonaro tem casa. Das idas para a capital fluminense, 56 vezes – ou seja, mais da metade – coincidiram com finais de semana ou feriadões. De acordo com os dados públicos, já foram gastos R$ 332 mil com as viagens de Magalhães, sendo R$ 56 mil só com diárias para a cidade onde ele tem residência fixa. O levantamento não inclui possíveis voos que o secretário tenha feito com aviões da FAB. Os passageiros desses voos só são divulgados mediante um pedido de LAI (Lei de Acesso à Informação).
O Ministério da Cidadania explicou que o Parque Olímpico da Barra é o principal motivador das viagens ao Rio. De início, quando a Autoridade de Governança do Legado Olímpico – AGLO foi criada, esta estrutura tinha 95 servidores. Posteriormente, com o fim da autarquia e a criação do Escritório de Governança do Legado Olímpico – EGLO, esse número foi reduzido para 19 servidores.
Com a extinção da estrutura do EGLO, a gestão do Parque ficou sem servidor oficialmente designado até a criação do Departamento de Gestão de Instalações Esportivas, em março/2022, quando foi possível designar cinco servidores para atuarem exclusivamente na gestão do Parque. O ministério justifica as viagens do secretário por conta desta estrutura praticamente extinta. O titular da pasta, pelo jeito, tinha muita coisa o que fazer no abandonado Parque Olímpico do Rio de Janeiro.