Na esteira da alta da Selic, juros elevados inibem investimentos, pioram acesso ao crédito e aumentam endividamento das famílias
Os juros bancários subiram em abril 50,3% para as pessoas físicas e 22,4% para as pessoas jurídicas em relação a março, refletindo as perversas taxas de juros impostas pelo Banco Central, com aval do governo Bolsonaro. No rotativo do cartão de crédito, a taxa média chegou a 364% no mês, o maior percentual desde agosto de 2017. No cheque especial foi a 132,7% ao ano. Os dados foram divulgados pelo Banco Central, na quarta-feira (27).
A opção do Banco Central de combater a inflação com o aumento da Selic, não só não funcionou como aumentou os custos financeiros das empresas, que em muitos casos são repassados para os preços finais aos consumidores, como aumentou o endividamento das famílias, reduzindo a renda dos trabalhadores, aposentados e pensionistas. Num caso, realimentando a inflação, no outro, reduzindo o consumo e a atividade econômica.
A Selic (taxa básica de juros da economia) passou de 2% ao ano, em janeiro de 2021, para 13,25% ao ano, em junho deste ano, o maior patamar em mais de cinco anos. E a inflação disparou e em setembro do ano passado foi a maior para mês de setembro desde 1994, ficando em dois dígitos pela primeira vez em cinco anos.
O resultado dos juros elevado para a produção e o consumo é perverso. Não à toa, a Confederação Nacional da Indústria e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, em pesquisas recentes, apontam que as taxas de juros inibem o investimentos, pioram o acesso ao crédito e estão entre as maiores preocupações dos empresários, que já enfrentam a falta de insumo e os preços dolarizados.
De acordo com a Confederação Nacional do Comércio e a Serasa Experian, o endividamento e a inadimplência atingiram patamares recordes impulsionadas pelas dívidas com os bancos, por contas das altas taxas de juros que corroem o já minguado orçamento das famílias.
Em abril em relação a março, as taxas de juros do crédito para empresas subiram de 21,6% para 22,4% ao ano. Em abril do ano passado, a taxa estava em 14,7%. Para as pessoas físicas subiram de 49,5% para 50,3% ao ano. Em abril de 2021, o percentual era de 41,3%. As mais altas taxas desde pelo menos dezembro de 2020.
Nem o crédito consignado, descontado da folha de pagamento, aliviou. O governo ampliou a margem do consignado e aumentou os juros: 24,1% ao ano.
Nas modalidades de crédito direcionado (empréstimos com regras definidas pelo governo, destinados, basicamente, aos setores habitacional, rural, de infraestrutura e ao microcrédito), os juros também subiram para 9,7% ao ano. Para empresas, aumentou para 14,6% ao ano.
Diante da carestia e queda na renda, recorrer ao crédito está mais caro e as taxas de juros, já proibitivas, estão subindo em alta velocidade, e sufocam as famílias e empresas.
O processo de aumento dos juros, quando empresas e pessoas precisam de crédito, diante da situação de crise que a economia se encontra, está gerando uma situação em que famílias e empresas tomam mais dinheiro emprestado com taxas cada vez mais altas.
Em duas linhas de crédito, que servem de exemplo, os saldos dos empréstimos não param de crescer. A antecipação ou desconto de recebíveis do cartão de crédito, capital de giro muito utilizado pelo comércio, registram um saldo em abril de 2021 no total de R$ 46,5 bilhões, em março deste ano o saldo havia subido para R$ 59,7 bilhões e na passagem para abril o saldo ficou em R$ 60,7 bilhões. Em um ano, um acréscimo de 30%.
No crédito consignado para empregados do setor público observa-se um movimento semelhante. Em abril de 2021, o saldo dos empréstimos nessa modalidade, somados todos os bancos, totalizaram R$ 261,6 bilhões. Em março deste ano, o saldo aumentou para R$ 297,8 bilhões e em abril o total ficou em R$ 301,1 bilhões. Em um ano, um acréscimo de 15%.