
A campanha oficial de Jair Bolsonaro mal se iniciou e já começa a fazer água até mesmo entre os seus aliados mais próximos e partidos que já formalizaram o apoio ao atual mandatário.
Segundo reportagem do Estadão, o atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), simplesmente escondem Bolsonaro nas campanhas de seus aliados estaduais.
O diretório do PP no Piauí, Estado de Ciro Nogueira e partido que preside, vejam só, chegou a recorrer ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) pedindo a proibição de circulação de imagens de seus candidatos ao lado de Bolsonaro.
Justificaram a ação pelo fato de que o atual presidente “possui altíssimo índice de rejeição em pesquisas mais recentes” e classifica o material que circula pelas redes sociais como “fake news”.
O Tribunal rejeitou o pedido diante da evidência de que a associação à figura de Bolsonaro não representa “fake news”, tratando-se de um fato real que não pode nem dever ser ocultado dos eleitores.
Na disputa deste ano, Nogueira, que tem mandato até 2027, tenta eleger aliados em diferentes palanques. Entre eles, o responsável pela ação para proibir santinhos vinculando Bolsonaro aos candidatos da sigla, o presidente do PP no Piauí, Júlio Arcoverde, que busca um mandato de deputado federal. Ciro o escolheu para comandar o partido no Estado e empregou o filho do correligionário no seu gabinete no Senado.
Já nas campanhas em que Lira participa simplesmente não há qualquer menção a Bolsonaro. A imagem do parlamentar é associada pelos marqueteiros como um “tocador de obras independente e padrinho direto dos recursos”.
O uso do qualificativo “independente” representa um verdadeiro escárnio – um cinismo descomunal, pois é de domínio público o fato de que Lira, entre outros aliados, ceva a sua atuação política com o “orçamento secreto” liberado pelo governo Bolsonaro, estimado em polpudos R$ 16,5 bilhões.
Além disso, Arthur Lira, que busca a reeleição como deputado federal, apoia um antibolsonarista ao governo de Alagoas, o senador licenciado Rodrigo Cunha (União Brasil). Em 1999, o então deputado Jair Bolsonaro votou contra a cassação de um colega que mandou matar a mãe de Cunha e saiu em defesa do mandante do crime político.
Por essas e outras razões, na terra de Lira, sobrou para Bolsonaro o palanque de Fernando Collor (PTB-AL), o mesmo que o mandatário tanto combateu no passado. Aliás, tal aliança só aconteceu depois do perdão milionário que o BNDES, a mando do governo, concedeu ao grupo Arnon de Mello pertencente ao ex-presidente que sofreu um impeachment no início da década de 90.
“É quase um jogo duplo. Ao mesmo tempo que comandam a articulação política do governo e a distribuição das verbas do orçamento secreto, os dois aliados mais influentes de Bolsonaro evitam parecer adversários de Lula nas campanhas estaduais, enquanto em Brasília fazem oposição ao petista ecoando o discurso do presidente”, conclui o texto do Estadão.
O fato é que a crescente diferença entre o ex-presidente e o atual mandatário, constatada em todas as pesquisas de opinião, principalmente no Nordeste, região tanto de Lira quanto de Ciro Nogueira, representa um estorvo aos projetos eleitorais de ambos, assim como de seus apadrinhados políticos, razão do “jogo duplo” denunciado pela reportagem do jornal paulista.