“É imprescindível que as forças democráticas estejam unidas e levantem suas vozes ao máximo, neste momento, para que não prospere a estratégia do autoritarismo”, diz manifesto divulgado pelo movimento
O movimento Direitos Já! realizou, na segunda-feira (1º), seu IX ato em defesa da democracia e contra violência política que é promovida por Jair Bolsonaro, reunindo 13 partidos, além de organizações da sociedade civil.
Durante o evento, que aconteceu na sede do Clube de Engenharia, no Rio de Janeiro, o Direitos Já! lançou um manifesto demonstrando a “indispensável necessidade de se defender a Justiça Eleitoral brasileira e a urgente vigilância para coibir, nos termos da lei, os atos de violência que ameaçam a paz da disputa eleitoral”.
“O presidente Bolsonaro e seus apoiadores advogam a prévia contestação das eleições, indicando que não aceitarão eventual derrota nas urnas. (…) É imprescindível que as forças democráticas estejam unidas e levantem suas vozes ao máximo, neste momento, para que não prospere a estratégia do autoritarismo”, diz o documento.
Fernando Guimarães, coordenador do movimento, enfatizou que a discussão “não é sobre as diferenças, porque é próprio da democracia tê-las, e o que nos une é a oportunidade de ter essas diferenças que só o regime democrático nos permite”.
O evento fez uma homenagem às vítimas da violência política incentivada por Jair Bolsonaro, como a vereadora Marielle Franco, Mestre Moa, Bruno Araújo, Dom Phillips e Marcelo Arruda.
Participaram representantes do PSD, Podemos, PCdoB, PSB, MDB, PSol, PDT, PV, Rede, PT, Novo, PSDB e do Avante.
O IX ato do Direitos Já! também uniu candidatos, representantes e apoiadores de Lula, Simone Tebet e Ciro Gomes. Tebet disse que aquele evento pluripartidário é realizado “para que possamos continuar sendo livres, tendo o direito sagrado do voto”. Ela ainda comentou as manifestações em defesa da democracia realizadas por setores empresariais, como a Fiesp e a Febraban.
Para Ciro Gomes “a democracia é como o ar que se respira. Sem democracia não há liberdade e, sem liberdade não há como nos organizarmos, e sem nos organizarmos não há como mudar a economia do país”.
“A luta pela democracia brasileira deve ser uma luta de todas e de todos, independemente de ser de esquerda, de direita ou de centro. Ficam fora dessa luta apenas os fascistas, os não democráticos que querem destruir as liberdades que construímos a tão duras penas”, continou.
“As nossas instituições podem ser criticadas, mas tem que ser no campo do respeito institucional. Nosso Tribunal Superior Eleitoral merece respeito e minha confiança, nosso sistema eleitoral merece a minha confiança. Nós, brasileiros, devemos deixar de lado todo esse tipo de intriga para apostar naquilo que nós precisamos: um franco e generoso debate”, pontuou o ex-governador.
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), representando a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que Bolsonaro ataca as urnas eletrônicas porque tem medo “do povo julgar seus crimes, seu abandono, o povo julgar a exclusão social. Nós vamos derrotá-lo e ele terá o rumo que merece: o lixo da história e a prisão pelos crimes que cometeu”.
O petista defendeu “toda unidade em torno da defesa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e contra a violência” nas eleições.
Veja outras falas:
Deputado Marcelo Ramos (PSD-AM), ex-vice-presidente da Câmara:
“É impressionante como a força do atraso nos faz andar para trás. Em um país de 33 milhões de pessoas passando fome, onde 10 milhões de crianças acordam todos os dias sem ter o que comer, que avança cada vez mais no desmatamento, no país do desemprego, do subemprego, da queda da renda, nós precisamos gastar a energia para defender a democracia e o sistema eleitoral.
Mas é preciso gastar essa energia e perceber que defender a democracia não é tarefa de democratas de esquerda, é tarefa de todos os democratas. (…)
Nós precisamos, diante da superação desta luta pela democracia, garantir um espaço para disputa de opinião sobre o que importa para o povo brasileiro, sobre comida, sobre emprego, sobre combate ao desmatamento, sobre direitos humanos”.
Leonardo Picciani, ex-ministro dos Esportes, presidente estadual do MDB do Rio de Janeiro, representando o presidente nacional, Baleia Rossi:
Lembrou que o MDB abrigou os democratas durante a ditadura e reafirmou posição do partido “de compromisso com a democracia, de respeito e de apoio às nossas instituições, às urnas eletrônicas, aos juízes e juízas eleitorais. Eleição é um momento, sim, de disputa, mas de disputa de ideias, de projetos e de caminhos”, disse. Picciani criticou “irresponsabilidade” de Bolsonaro “na pandemia e com a economia”
Deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ):
A parlamentar afirmou que a experiência de luta contra a ditadura mostra que a resposta deve ser “amplitude, unidade e muita luta”, aspectos que são representados pelo Direitos Já!. “Esse é o momento da unidade e da amplitude, de chamar todas as pessoas e as forças políticas que se confrontam com o fascismo neste momento”.
“Esse ato acontece porque estamos sendo chamados, mais uma vez, a enfrentar a tentativa de se violar a democracia brasileira, a Constituição brasileira e de não se respeitar o sistema eleitoral e a paz nas eleições”, completou.
Deputado federal Aliel Machado (PV-PR):
“Onde não tem democracia, tem autoritarismo, e, portanto, não há direitos. Não é simplesmente a urna eletrônica, a defesa do voto e da democracia significam defender a vida das pessoas”.
Deputado Alessandro Molon (PSB-RJ):
Apontou que os mais de três anos de governo Bolsonaro trouxeram “muitas perdas para o país, com muitos retrocessos e problemas”. O que une os participantes do evento é “a defesa do resultado das eleições, seja ele qual for. É isso que nos une aqui. Aqui pode haver concorrentes e adversários eleitorais, mas aqui não há inimigos da democracia. É preciso colocar isso acima de tudo”.
Ex-senadora Heloísa Helena, porta-voz da Rede Sustentabilidade:
O Brasil que “assiste nove milhões de crianças jogadas na extrema pobreza é o mesmo que fez dez novos bilionários. Este mesmo país que jogou todo o dinheiro público para construir agrobusiness e ser o maior produtor de comida, exporta comida para fora e vê milhões de pessoas correndo atrás de osso e pele de frango”.
“A nossa luta é pela democracia, mas sem justiça social não há democracia. É de extrema importância derrotar o soldado covarde e sem honra que deixa feridos para trás, que é Bolsonaro, e derrotar este modelo, meter a lança neste vampirismo do grande capital”.
Senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA):
“De forma muito clara temos percebido ataques à democracia, que está em risco. Esses riscos ecoam do Palácio do Planalto, tendo o presidente da República como figura central”.
“Há uma estratégia clara desse governo, que é buscar entidades corporativas que têm tendências a discursos salvadores, ao mesmo tempo utiliza a fé como instrumento de manipulação, e também questiona e desvaloriza figuras do alto escalão do Judiciário brasileiro, e diante disto a crise está criada, depois de uma avalanche de fake news”, continuou.
“Nós, democratas, temos uma responsabilidade muito grande. O Direitos Já!, neste ato, vem apresentando a unidade da sociedade civil como um todo, junto com o Congresso Nacional, passando por todos os agentes da sociedade, até mesmo passando essa compreensão para as Forças Armadas, para impedirmos que essa escalada de ruptura institucional possa ser implantada no Brasil”.
Márcio Girão, presidente do Clube de Engenharia do Brasil:
Lembrou que a “missão do Clube é defender a soberania, a justiça e a democracia. É o que fazemos há 141 anos neste espaço. Democracia é a construção de um país soberano e socialmente justo. O que se está discutindo não é apenas a votação, é o direito de construirmos este país com soberania”.
Ex-presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Arantes, representando a Associação Brasileira de Juristas Pela Democracia (ABJD):
“Há uma relação direta entre a defesa da democracia e a defesa da Constituição e para liquidar com os direitos incorporados à Constituição de 1988, é necessária a continuidade do autoritarismo”.
“Daí porque Bolsonaro ataca a Justiça Eleitoral, ataca os ministros e o STF e ameaça com golpe. Ele tem dito reiteradas vezes que não haverá eleição se não for nos moldes que ele quer”.“Numa situação tão grave como esta, é necessário colocar de lado as divergências, é necessário nos unir em defesa da democracia”.
Gláucia Morelli, vice-presidente da União Brasileira de Mulheres:
“52% da população, que são as mulheres, também são a maioria a repudiar Bolsonaro. O que ele não quer é que a indignação que nós mulheres sentimos, que ferve de ira os nossos corações por tantas vidas tiradas de nós e da defesa de nossa pátria, se expresse nas urnas eletrônicas. Ele está com medo, está apavorado”, afirmou.
Gláucia também repudiou as ameaças que foram feitas contra Manuela D’Ávila, sua mãe e sua filha.
Adilson Araújo (CTB) representando o Fórum das Centrais:
Defendeu uma “radicalidade consequente”, tendo em vista que o governo de Jair Bolsonaro já fez com que a miséria e a violência política transbordassem e se tornassem um problema real da vida do país.
Assine aqui o abaixo-assinado do Direitos Já!
Leia o manifesto do movimento Direitos Já!:
O Direitos Já! Fórum pela Democracia em seu IX ato, na capital fluminense, no 1º de agosto de 2022, lança a presente Carta do Rio de Janeiro em que se proclama a indispensável necessidade de se defender a Justiça Eleitoral brasileira e a urgente vigilância para coibir, nos termos da lei, os atos de violência que ameaçam a paz da disputa eleitoral.
O objetivo é a defesa do sagrado direito democrático dos cidadãos escolherem livremente quem deve governá-los, direito que está em risco nos dias que correm. O presidente Bolsonaro e seus apoiadores advogam a prévia contestação das eleições, indicando que não aceitarão eventual derrota nas urnas. A estratégia busca desacreditar o sistema eleitoral e criar ambiente propício à conflagração armada da disputa, em prejuízo da paz social, da lisura do processo eleitoral, da independência das instituições e do seu bom funcionamento.
É imprescindível que as forças democráticas estejam unidas e levantem suas vozes ao máximo, neste momento, para que não prospere a estratégia do autoritarismo. Tão grave quanto contestar a eficiência do sistema eleitoral brasileiro, sabidamente entre os mais sólidos e respeitados do mundo, é estimular atos de violência política. Bolsonaro invoca seguidamente a liberação de armas na mesma medida em que desacredita as urnas.
O caos que se pretende instalar tem como objetivo desacreditar as eleições e arrastar a sociedade à violência. A situação demanda que as autoridades policiais, eleitorais e judiciárias ajam com a energia necessária contra os estímulos de conflagração da violência que já começou a transpor da política para, literalmente, alcançar a vida e a segurança das pessoas.
Em vista desses riscos, o Direitos Já! expressa enfaticamente o seu apoio e seu aplauso aos ministros do TSE e do STF, cujos importantes esforços para preservar os pressupostos e os valores democráticos, que devem orientar a lisura das disputas eleitorais, estão sob ameaça.
Foi-se o tempo de tão somente observar, os democratas precisam agir. Bolsonaro ameaça os limites da harmonia institucional e transpõe a linha democrática. Cabe-nos mobilizar e unir o povo em torno de seus direitos fundamentais e dos meios de se enfrentar democraticamente as intenções despóticas.
A fonte do poder na democracia é a soberania popular e daí deve emanar a convocação inquestionável dos Poderes da República para que atuem com rigor necessário para preservar os imperativos da nossa Carta Constitucional.
Direitos Já! Fórum pela Democracia