“A inflação elevada achata os rendimentos e dificulta a organização do orçamento familiar. Além disso, o avanço da informalidade no emprego é outro fator que aumenta a volatilidade e a incerteza sobre a renda do trabalho, atrapalhando a gestão das finanças pessoais”, destaca a Confederação Nacional do Comércio. Índice em julho atingiu 78%
Em julho, o percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer atingiu 78% dos lares no país. É o que apontam dados da Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgados na segunda-feira (8), pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Em relação a julho do ano passado, o aumento foi de 6,6 pontos percentuais, quando a pesquisa registrou 71,4% das famílias endividadas. Em relação ao mês anterior, o aumento foi de 0,7 ponto percentual.
De acordo com a pesquisa, ainda, 29% das famílias têm dívidas ou contas em atraso e 10,7% não tem condições de pagar suas dívidas.
“A inflação elevada achata os rendimentos e dificulta a organização do orçamento familiar. Além disso, o avanço da informalidade no emprego é outro fator que aumenta a volatilidade e a incerteza sobre a renda do trabalho, atrapalhando a gestão das finanças pessoais”, resumiu a CNC, ao destacar que o endividamento e a inadimplência abriram o segundo semestre de 2020 com novos recordes.
Números recentes do IBGE apontam que no segundo semestre deste ano o desemprego no país continuou alto, com mais de 10,1 milhões de brasileiros em busca de uma vaga de emprego e outros 39,3 milhões na informalidade – o que significa pessoas que exercem atividade de trabalho de baixa qualidade, sem carteira assinada, trabalham em bicos etc. Isso fez com que a renda do trabalhador recuasse em 5,1% na comparação anual.
No segundo trimestre, o rendimento habitual do trabalho foi estimado em R$ 2.652. No mesmo intervalo de meses de 2021, a renda média era de R$ 2.794.
Do total de endividados no país, 85,4% possuem dívidas no cartão de crédito, também destacou a pesquisa da CNC.
Em meio a queda da renda, o cartão de crédito se tornou uma válvula de escape para os gastos com alimentação tomada pela inflação, já que o salário dos trabalhadores não completa o mês. No entanto, a cobrança de juros no Brasil, que já era absurda, tornou-se ainda mais extorsiva perante os sucessivos aumentos pelo Banco Central da taxa de juros da economia (Selic), hoje em 13,75% ao ano.
“As classes de despesas das famílias que ganham menos são justamente as que tiveram maiores aumentos recentes de preço, então essas famílias acabam gastando parcela maior do orçamento para fazer frente ao avanço da inflação. Ou seja, as famílias com menor renda aumentaram o endividamento, a despeito dos juros altos, para sustentar o nível de consumo”, explicou Izis Ferreira, economista da CNC, responsável pela pesquisa.
Nos últimos 12 meses até julho, a alimentação do domicílio acumula alta de 17,50%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice de inflação oficial do país, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado supera a variação do indicador geral como um todo no período, que foi de 10,07%.
“Temos falado com instituições financeiras que relatam que o pessoal está pegando dinheiro (crédito) para pagar contas do mercado, do dia a dia”, relata o economista da Boa Vista, Flávio Calife.
No primeiro semestre deste ano, 18% dos inadimplentes deixaram de quitar despesas com alimentação e, por conta disso, passaram para o rol dos CPFs (Cadastro de Pessoa Física) com restrição, segundo dados da Boa Vista, empresa especializada em inteligência financeira e análise de crédito. Essa é a marca mais elevada desde o primeiro semestre de 2017, quando iniciou a sondagem. Ao longo do primeiro semestre, foram consultados eletronicamente 1.500 inadimplentes com o propósito de traçar o perfil desses consumidores.