“Ê,ê,ê…o parque do Bixiga é pra valer!”, com essa palavra de ordem, moradores do bairro e apoiadores do projeto de construção do Parque do Bixiga, dirigiram-se para a Câmara Municipal em caminhada que saiu do Teatro Oficina, nesta terça-feira, 5.
A caminhada foi em defesa da construção de um parque a ser instalado em um terreno de 11.000 m2, onde uma construtora do Grupo Silvio Santos quer edificar torres de luxo. O ato contou com a participação de atores, diretores de teatro, capoeiristas entre os representantes de diversos setores da área cultural do bairro, professores, estudantes e arquitetos. Os integrantes da marcha foram recebidos no Auditório Freitas Nobre da Câmara Municipal de São Paulo pelos vereadores Gilberto Natalini (autor do projeto), Juliana Cardoso, Toninho Vespoli, Samia Bonfim e Eduardo Suplicy.
Entre os membros do Teatro Oficina estavam a arquiteta Carila Matzenbacher e o ator Roderick Himeros. “O que se coloca com a luta pelo Parque do Bixiga são questões de ordem cultural, ecológica, humana. Os moradores e os que atuam ali estão tomando o bairro nas mãos, demonstrando a cidade que queremos, que rumos a cidade deve tomar”, declarou Carila. Himeros acrescentou que “o parque do Bixiga é a contraposição, é o ‘não’ às torres, é a demonstração de que as pessoas estão dispostas a lutar contra a despersonalização da cidade, por espaços onde se vislumbre horizontes, onde as pessoas possam se encontrar e a cidade possa respirar”.
Lucas Chen, presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo – UMES, com sede no Bixiga, conclamou: “Vamos com toda a nossa energia vencer essa agressão de uma construtora a toda a fisionomia do bairro”.
O presidente do Centro Popular de Cultura da UMES, Valério Bemfica, destacou que o projeto de construção do parque “tem por base a definição de que a cidade deve estar em função das pessoas. A falta de áreas verdes, de espaços para o lazer, para encontros os mais diversos, torna as pessoas presas, as crianças sem espaço para brincar e os pais sem ter aonde levar seus filhos”.
O coordenador da Casa Mestre Ananias, Rodrigo Minhoca, destacou que “através do debate sobre o parque, temos erguido a consciência do interesse comum de todos que moram e atuam no Bixiga”. Também participou o padre Pedro, da Igreja Nossa Sa. da Achiropita, que saudou “a resistência para que se mantenha a característica, a identidade do bairro”.
“O parque do Bixiga é um direito, o povo do Bixiga já demonstrou sua vontade, mostrou que está disposto a lutar para conquistar aquilo de que é merecedor”, afirmou o professor de capoeira Fabiano Pavio, pré-candidato a deputado federal pelo PPL.
O fundador do Teatro Oficina, José Celso Martinez, foi aplaudido ao alertar para “uma face selvagem do capitalismo que, em sua degeneração, na busca desmesurada pelo lucro, não distingue as pessoas, não enxerga as necessidades dos seres humanos. A ideia do parque está nisso, nas pessoas se mostrarem vivas, se mostrarem conectadas à natureza, ao verde, afirmarem sua humanidade. Isso é a essência do fazer arte; a conexão com a vida”.
Os professores da Escola Municipal Celso Leite ajudaram a mobilizar os alunos que formaram a linha de frente da caminhada. Lá estavam os professores Fábio Keit e Eduardo Casanova.
O líder comunitário, Wellington Souza encerrou o encontro afirmando que “denunciamos que essas torres são fruto de uma ofensiva da especulação imobiliária contra um bairro popular. Alertamos que a luta pela área verde se choca com essa especulação que não pretende parar por aí. Permitir esses monstrengos imobiliários de luxo só vai aumentar o avanço sobre as residências que caracterizam a região, levar ao destombamento do Bixiga, que começou como sede do primeiro quilombo, o Saracura, recebeu a influência dos imigrantes italianos. Abrigou o samba com a Vai-Vai, a criatividade de Adoniran Barbosa. Toda essa força cultural, todo esse histórico de resistência desde o Saracura, se mantém com as lutas estudantis cuja entidade escolheu, não por acaso, o Bixiga. Com todo esse esteio vamos vencer e o parque vai acontecer”.
“Essa descaracterização não é de hoje”, lembrou Welington, “como já dizia Geraldo Filme: ‘Hoje o Bixiga é só arranha-céu’ e pedindo licença ao grande sambista, “Quem quiser ver o parque acontecer/ Vá no Bixiga pra ver”.
NATHANIEL BRAIA