
Com a facilitação para a compra de armas e munição graças aos decretos do governo de Jair Bolsonaro, uma série de assassinatos por armas de fogo vêm ocorrendo pelo país. Só nesta semana, registraram-se dois no Estado de São Paulo.
Nesta terça-feira (9), um menino de 8 anos matou com um tiro acidental o cunhado, de 27, quando manuseava a arma dele, em Jacareí interior de São Paulo.
O homem, que tinha licença de colecionador, atirador esportivo e caçador, o chamado CAC, tinha ido buscar seu filho de 5 anos e o menino, seu cunhado, na escola.
A arma de fogo estava no banco traseiro do automóvel. As crianças entraram no carro e o menino pegou a arma, e o disparo acidental aconteceu. A pistola estava carregada com 12 projéteis. O tiro atingiu a cabeça da vítima, que morreu na hora.
Conforme a Polícia Civil, a arma estava com a documentação em dia. O caso foi encaminhado à Delegacia Seccional de Polícia Civil. A ocorrência foi registrada como omissão de cautela e morte acidental.
Já no domingo (7), o empresário Luís Paulo Lucateli Furlan, de 30 anos, matou um motorista de ônibus. O crime aconteceu em Mogi Guaçu, após a vítima, de 34 anos, bater no carro do assassino confesso, que estava estacionado.
O motorista, alvejado com um tiro nas costas, foi identificado como Lindomar Benedito da Silva. Ele era casado e deixou três filhos, um deles de apenas 3 anos.
Ao portal g1, a Polícia Civil disse que o projétil atravessou a lataria do carro, o banco do motorista, atingindo a vítima. O assassino também tem registro de atirador, caçador e colecionador de armas, informou a Secretaria de Segurança Pública.
Mesmo depois de ter sido baleado, Lindomar dirigiu por algumas quadras, até bater em um poste. Equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram acionadas, mas Lindomar morreu no local.
“Meu irmão era trabalhador, honesto, um excelente motorista. Ele era um amigo, um parceiro meu, que se foi. Eu quero que a justiça seja feita. A gente vê isso na TV, nos jornais, e acha que nunca vai acontecer com a gente. E agora que acontece, a gente fica sem chão. Eu acho que é um sonho, e eu quero acordar”, lamentou o irmão da vítima Wagner Rodrigo da Silva.
De acordo com o boletim de ocorrência, o empresário assassino confessou ter atirado contra o motorista e foi preso em flagrante. Ele vai responder em liberdade, e não há informações sobre pagamento de fiança.
Outras mortes causadas por disparos de projéteis foram registradas em Terezina (PI), há aproximadamente duas semanas. Uma briga entre dois cunhados em um condomínio de casas, resultou na morte de ambos. Uma das vítimas era CAC.
Na ocasião, a babá Juliana da Silva, de 36 anos, foi baleada na cabeça e hospitalizada, vindo a falecer na segunda-feira (8). Uma das hipóteses é que ele tenha sido atingido por acidente com a própria arma.
CONTRA A VIDA
O grupo de CACs, sigla que reúne colecionadores de armas, atiradores profissionais e caçadores, cresceu assustadoramente na gestão de Jair Bolsonaro. Em meio à política pró-armamento do governo, esse contingente cresceu 474%: passou de 117.467, em 2018, para 673.818 este ano, até 1º de julho.
O número de pessoas cadastradas como CACs supera os 406 mil policiais militares da ativa que atuam em todo o País. Também é maior do que o efetivo de 360 mil homens das Forças Armadas.
Atualmente, existem 2,8 milhões de armas registradas em acervos particulares. Além da quantidade definida como pertencente a CACs, – 957,3 mil. Outras 692,5 mil armas pertencem a cidadãos comuns com autorização para posse ou porte.
Os números constam no Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que levantou os dados com base em informações do Sistema Nacional de Armas (Sinarm), vinculado à Polícia Federal, e do Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigm) do Exército.