A crise ucraniana, o aumento súbito dos preços dos combustíveis e mercadorias, além do envelhecimento demográfico, estão fazendo a economia do Reino Unido desmoronar, registrou o portal Sputnik, repercutindo artigo do colunista do The Telegraph, Ben Wright.
“Sejam bem-vindos ao Reino Unido contemporâneo, onde nada funciona, tudo é caro, enquanto todos nós estamos demasiado preocupados com as discussões sobre as razões da nossa complicada situação para tomar quaisquer decisões”, lamentou-se o jornalista.
A população britânica está testemunhando com desalento o aumento constante do preço da eletricidade, acrescentou Wright. Segundo a empresa de consultoria Cornwall Insight, os boletos mensais médios de eletricidade vão subir das atuais 164 libras esterlinas (R$ 1.026) para 298 (R$ 1.865) em outubro e 355 (R$ 2.222) em janeiro do próximo ano, devorando uma parte significativa das receitas de uma família britânica comum.
Despesa que, como o autor salientou, as camadas pobres não têm “como suportar”. Ele se mostrou convencido de que o Estado britânico deixou de funcionar de maneira normal. Enquanto em uma parte do Reino Unido, devido à onda recorde de calor, foi proibido usar mangueiras para regar a fim de economizar água, no norte de Londres, um acidente nos tubos sob a rodovia inundou as ruas da capital, admira-se o colunista.
Ao longo de dez anos, os salários no Reino Unido têm estagnado, levando trabalhadores do transporte e dos correios, bombeiros, médicos, enfermeiras, professores, funcionários públicos, juristas e até produtores de televisão a cruzarem os braços, segundo o artigo.
A decadência também se expressa em outros quadrantes. Recente pesquisa do The Telegraph demonstrou que, nos três últimos anos, a polícia não conseguiu desvendar nenhum roubo em oito das dez zonas da Inglaterra e País de Gales.
O número de pessoas nas listas de espera do Serviço Nacional de Saúde aumentou para 6,6 milhões, em comparação com os 4,4 milhões registrados antes da pandemia. As filas nos aeroportos estão crescendo, junto com os preços dos alimentos, enquanto há cada vez mais greves.
Para o colunista, tal situação no Reino Unido foi provocada pelo conflito na Ucrânia, inflação alta, quebras nas cadeias de suprimento devido à pandemia e fim da globalização. Além disso, há o problema do envelhecimento demográfico, que está fazendo aumentar a pressão sobre o seu sistema financeiro.
Após o início da operação especial russa para proteger o Donbass da agressão do regime de Kiev, o Reino Unido e seu premiê se juntaram entusiasticamente às sanções do Ocidente contra a Rússia, acreditando na rápida destruição da economia russa. Veio o efeito bumerangue, foi a própria economia britânica que foi afetada de forma séria, instaurou-se uma crise da alta do preço dos combustíveis, o que se estendeu ao preço dos alimentos. E o inverno está chegando.
MAIOR QUEDA DOS SALÁRIOS REAIS EM UM SÉCULO
Até o final do ano os reajustes salariais deverão ficar atrás da inflação quase 8%, o que será a maior queda nos salários reais em 100 anos, advertiu a central sindical TUC num relatório publicado na quinta-feira (11).
De acordo com o relatório, espera-se a redução sem precedentes do poder aquisitivo de 7,75%, dada a previsão do Banco da Inglaterra (o BC inglês) de que a inflação saltaria para 13% no quarto trimestre de 2022, enquanto os salários aumentariam apenas 5,25%.
O TUC assinalou que os trabalhadores não tinham sofrido um declínio tão severo e prolongado dos salários em relação à inflação desde os anos 1920. “Isto não é uma espiral salários-preços, é um verdadeiro desastre salarial”, advertiu a central sindical.
“O salário real caiu mais numa só ocasião, um declínio de 13,3% no quarto trimestre de 1922 – à medida que o salário do pós-I Guerra Mundial e a inflação dos preços se invertiam bruscamente. O único outro valor comparável foi de 7,2% no primeiro trimestre de 1940”, disse o TUC.
LADEIRA ABAIXO, DIZ BoE
Na sexta-feira (12), o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês) anunciou que o PIB do Reino Unido caiu 0,1% no segundo trimestre, depois de crescer 0,8% em janeiro-março. Em junho, a contração do PIB chegou a 0,6%. “Muitos varejistas também tiveram um duro trimestre”, disse o diretor do órgão, Darren Morgan.
Como atenuante à contração econômica, as celebrações do Jubileu de Platina em junho da rainha Elizabeth II, movimentaram hotéis, bares e salões de beleza. Caso a queda do PIB se repita em julho-setembro, então o Reino Unido entrará em recessão.
Para o Banco da Inglaterra (BoE), a recessão irá começar no último trimestre de 2022 e deverá durar até o final de 2023, “conforme a crise do custo de vida piorar e a inflação ultrapassar os atuais 9,4%”.
A conta média de uma família britânica subiu mais de 50% este ano, com as sanções contra o petróleo e gás russo provocando uma escassez artificial e consequente alta de preços, insuportável para muitos lares.
Em seus dias finais de premiê interino, Boris Johnson já sinalizou a ativistas antipobreza e a grupos de consumidores que a decisão para ajudar as famílias a não congelarem neste inverno ficará para seu sucessor, que assumirá em setembro.
Na primeira semana de agosto, o BC inglês executou seu maior aumento da taxa de juro em 27 anos – em 0,5 ponto percentual, levando a taxa nominal a 1,75%, a mais elevada desde o fundo do poço em 2008 -, sob a presunção de a guerra na Ucrânia acarretará mais inflação e levará o país a recessão prolongada. O Banco da Inglaterra disse também que a alta dos preços do gás natural é susceptível de conduzir a inflação a 13,3% em Outubro, contra 9,4% em Junho.
A alta dos juros, que irá aumentar os custos de empréstimo para as famílias e a produção, foi apresentada pelo governador do banco, Andrew Bailey, como uma manifestação da determinação do banco em controlar os aumentos de preços. Naturalmente, ele não pôde explicar como isso iria interferir na alta do preço do gás desencadeada pelas sanções antirrussas e seu efeito bumerangue.
“A inflação atinge mais duramente os mais desfavorecidos”, admitiu Bailey, para logo em seguida atestar sua opção preferencial pelos rentistas: “se não agirmos contra a inflação se tornar persistente, as consequências mais tarde serão piores”.