Lula, preso desde 7 de abril após ser condenado a 12 anos e 1 mês por corrupção e lavagem de dinheiro na segunda instância, prestou depoimento à Justiça Federal, na terça-feira (5), como testemunha de defesa do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, em ação penal que apura a compra de votos da Olimpíada Rio 2016.
Cabral, por sua vez, está preso desde 17 de novembro de 2016 por corrupção e lavagem de dinheiro e é réu em 24 ações penais.
O ex-presidente falou ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, por meio de videoconferência de dentro da Superintendência da Polícia Federal, no Paraná, onde está preso. Cabral compareceu ao depoimento, no Rio de Janeiro.
O depoimento não apresentou nada de novo em relação ao seu conteúdo. Como se poderia esperar de uma testemunha arrolada pela defesa, o ex-presidente apenas negou conhecimento sobre o crime em suspeita.
Aliados políticos, o que saiu do script, de fato, foi a inusitada situação de testemunha e acusado: ambos presos e condenados por corrupção. Eles se cumprimentaram fraternalmente, como amigos. Cabral pediu para falar diretamente à testemunha e enviou condolências pela morte da ex-primeira dama, ocorrida em fevereiro de 2017, quando já estava preso. “Estava preso quando Dona Marisa faleceu. Então, a transmissão dos meus sentimentos. Meu abraço ao senhor pelo falecimento da Dona Marisa. [O abraço] da Adriana [Ancelmo, ex-primeira dama do estado], meu e dos meus filhos”, disse. “Obrigado, Sérgio”, respondeu Lula.
A acusação contra Cabral deixou Lula muito incomodado. “Lamento que venha uma denúncia de corrupção de compra de delegado [do COI – Comitê Olímpico Internacional] oito anos depois. Não sei quem fez a denúncia, não quero saber. Não conheço. Como estamos vivendo num momento de denuncismo, em que muita gente…”, disse, antes de ser interrompido pelo juiz.
Como se vê, Lula prefere que a corrupção seja ignorada.
Marcelo Bretas advertiu o ex-presidente de que a imprensa estava acompanhando a audiência e que a oitiva era apenas para que ele respondesse perguntas das defesas e do Ministério Público Federal (MPF).
A ação penal apura a compra de votos para a capital fluminense sediar os Jogos Olímpicos. Segundo o Ministério Público Federal, o esquema de corrupção montado pelo ex-governador Sérgio Cabral teria “comprado” votos de dirigentes do COI.