O ex-diretor da Secretaria de Educação do Paraná, Maurício Fanini, afirmou, em uma proposta de colaboração premiada, ter intermediado pagamentos de propina para o ex-governador Beto Richa (PSDB) entre os anos de 2002 e 2015. As declarações foram documentadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Segundo Fanini, Richa passou a abastecer campanhas eleitorais com dinheiro de caixa 2, em 2002, quando concorreu pela primeira vez ao governo estadual. O dinheiro partia de empresários, por meio de aditivos e percentuais de contratos com a Prefeitura de Curitiba. De acordo com ele, o recebimento era sempre negociado por Ezequias Moreira e Luiz Abi, primo de Beto Richa.
Já em 2012, com a eleição de Richa ao governo, Fanini ganhou um cargo na Secretaria Estadual de Educação. No mesmo ano, na Granja do Canguiri, residência oficial do governo do estado, organizou com Richa a arrecadação de caixa 2 para a campanha de reeleição de Luciano Ducci à Prefeitura de Curitiba. Segundo Fanini, Richa disse que deveria ser feita uma arrecadação mensal com prestação de contas exclusivamente para o governador. O ex-diretor disse também que Richa afirmou que separaria uma parte para o próprio sustento. As arrecadações, a partir então, passaram a ser mensais, segundo Fanini.
De acordo com a delação, o dinheiro era deixado por intermediadores no banheiro de uma sala da Superintendência de Desenvolvimento Educacional (Sude) e depois levado para a casa de Fanini, onde permanecia guardado até ordem do governador, quando então era repassado a Luiz Abi.
Um dos maiores colaboradores, de acordo com o ex-diretor, era Eduardo Lopes de Souza, dono da construtora Valor, que é apontada pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) como pivô dos desvios de mais de R$ 20 milhões de obras de construção de reforma de escolas estaduais, entre 2011 e 2015. O crime ocorria mediante o pagamento de recursos por medições fraudulentas feitas pelos fiscais de obra.
Fanini afirma após surgirem as primeiras denúncias do esquema de fraude na construção de escolas, em 2015, procurou o governador que passou a “escanteá-lo”. E que, após ser preso pela primeira vez, procurou Richa, que articulou R$ 12 mil por mês como “forma de mesada para que permanecesse em silêncio” até o início de 2017, quando o valor caiu para R$ 8 mil.
Réu em três ações criminais relacionadas à Operação Quadro Negro, Fanini está detido na carceragem da Polícia Federal (PF) em Brasília desde maio deste ano. Já Richa nega tudo e fala em “manobra arquitetada às vésperas do período eleitoral”.
ARQUIVADO
Em março a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por maioria, extinguir outro inquérito que investigava Beto Richa (PSDB), no Superior Tribunal de Justiça (STJ), por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica eleitoral (caixa 2).
Segundo as investigações, baseadas na delação de Luiz Antônio de Souza, um grupo de auditores da Receita do Paraná cobrava propina de empresários para aliviar o pagamento de tributos. Em 2014, parte do suborno teria sido repassado à campanha de Richa para governador. Antes de ser arquivado, o inquérito já estava suspenso temporariamente, por liminar dada em dezembro pelo ministro Gilmar Mendes.