Para a polícia, Bolsonaro disseminou, “de forma livre, voluntária e consciente, informações sobre a vacina da Covid-19 que não correspondiam à verdade”. Pessoas morreram por conta de sua campanha contra as vacinas
A Polícia Federal considerou criminoso o conselho dado por Jair Bolsonaro à população para não se vacinar, pois, segundo ele, a vacina poderia causar Aids.
No relatório, encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PF afirma que ele estimulou espectadores a não adotar norma sanitária estipulada pelo próprio governo. Pelo Código Penal, incitação ao crime pode resultar em até seis meses de prisão.
Na transmissão, de outubro de 2021, Bolsonaro disse que relatórios oficiais do Reino Unido teriam sugerido que pessoas totalmente vacinadas contra a Covid estariam desenvolvendo Aids (doença causada pelo HIV) “muito mais rápido que o previsto”. A afirmação é falsa e não há qualquer relatório oficial que faça essa associação.
Nesta altura, Bolsonaro defendia também que a população se infectasse o mais rapidamente possível para, segundo ele, adquirir o que se chama “imunidade de rebanho”. A medida foi condenada no mundo inteiro e sua defesa passou a ser associada a genocídio. Bolsonaro foi um dos poucos chefes de Estado no mundo a defender a adoção da imunidade de rebanho. O resultado foi trágico: até o momento, mais de 680 mil brasileiros perderam a vida.
Os delegados consideraram que Bolsonaro cometeu incitação ao crime ao associar a vacina contra a Covid-19 ao risco de desenvolver Aids. A relação que o psicopata fez não corresponde à verdade. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e outras autoridades de saúde já haviam esclarecido que as vacinas não trazem doenças. Pelo contrário, evitam contaminação.
A mentira inventada por Bolsonaro fazia parte de sua sabotagem contra as vacinas. Ele fez a associação falaciosa entre a vacina e a Aids em uma live nas redes sociais no dia 21 de outubro do ano passado. Segundo a PF, a conduta de Bolsonaro levou os espectadores da live a descumprir normas sanitárias estabelecidas pelo próprio governo. Nesse caso, tomar a vacina.
A delegada Lorena Lima Nascimento, responsável pelo caso, pediu autorização do STF para indiciar Bolsonaro e o ajudante de ordens tenente Mauro Cid, que ajudou na produção do material divulgado na live. Bolsonaro citou na live supostos relatórios oficiais do Reino Unido.
Para a PF, Bolsonaro “disseminou, de forma livre, voluntária e consciente, informações que não correspondiam ao texto original de sua fonte, provocando potencialmente alarme de perigo inexistente aos espectadores”. No relatório, os investigadores detalharam o esquema de propagação de informações falsas. Segundo a PF, o procedimento seguido por Bolsonaro é semelhante ao modelo de disseminação de fake news que tem se alastrado pelo mundo prejudicando instituições de Estado.
Na semana seguinte ao ato criminoso de Bolsonaro, o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, reafirmou que as vacinas usadas no Brasil são seguras e que nenhuma delas aumenta a “propensão de ter outras doenças”.
“Nenhuma das vacinas está relacionada à geração de outras doenças. Nenhuma delas está relacionada ao aumento da propensão de ter outras doenças, doenças infectocontagiosas por exemplo. Vamos manter a tradição do nosso povo brasileiro de buscar e aderir ao PNI [Programa Nacional de Imunizações]”, afirmou Barra Torres.