
Desde o início da coleta de dados para o Censo 2022 do IBGE, 6.550 recenseadores desistiram do trabalho devido à falta de estrutura e atraso nos pagamentos. A pesquisa, que tinha como meta alcançar o número ideal de 183 mil funcionários temporários, iniciou em 1º de agosto já com um déficit estimado de 15 mil entrevistadores.
Em nota, o Sindicato dos Trabalhadores do IBGE (Assibge) atribui as desistências, essencialmente, ao corte no orçamento do Censo imposto pelo governo federal. “O corte de R$ 800 milhões tanto determinou a piora na remuneração do recenseador em relação ao previsto originalmente, quanto inviabilizou uma divulgação mais ampla da pesquisa, o que dificulta demais o trabalho. Sem saber sobre o Censo, sem estar confiante sobre o que ele é e como é feito, uma parte da população não tem aberto a porta para os recenseadores e em alguns casos até age agressivamente contra eles. Sem recomposição do orçamento, o IBGE não vai conseguir terminar o Censo com qualidade”, disse nota do Núcleo Chile do Assibge.
Além dos relatos dos servidores sobre as condições precárias para o trabalho, o atraso no pagamento de 44 mil recenseadores foi divulgado pelo próprio IBGE no início de agosto.
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Em 2019, o custo da pesquisa nacional foi estimado em R$ 2,3 bilhões. Em 2020, considerando a elevação da inflação, os valores sofreram reajustes pela equipe técnica do IBGE para mais de R$ 3,4 bilhões. Em meio a pressões do governo pela redução no orçamento, apenas R$ 53 milhões foram garantidos no orçamento sancionado por Bolsonaro, o que inviabilizava até mesmo os preparativos para a pesquisa.
Somente após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), o IBGE conseguiu assegurar uma complementação orçamentária para os trabalhos preparatórios em 2021 e a verba para a coleta em 2022, ainda com cerca de R$ 1 bilhão a menos que o necessário para garantir que os recenseadores tenham condições materiais para visitar todos os cerca de 75 milhões de lares brasileiros, nos 5.570 municípios do país.
Com a alta da inflação provocada principalmente pela elevação de custos de combustíveis, a possibilidade de um novo aporte de recursos chegou a ser defendida pelo Diretor de Pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo, mas o órgão refutou essa opção, afirmando publicamente que as verbas já solicitadas e obtidas no orçamento federal eram suficientes para garantir a operação.
O Orçamento de 2022, com os R$ 2,3 bilhões para a realização do Censo, sofreu com a desvalorização provocada pela inflação. Além do custo com a frota de carros, utilizada para o transporte de recenseadores pelo país, o instituto tem que arcar com os custos da gasolina, que subiu 69% entre 2019 e 2022.
Realizado a cada dez anos, o Censo Demográfico é uma das principais ferramentas para elaboração de políticas públicas nas mais diversas áreas, como saúde, educação, assistência social, geração de emprego e renda no país. O melhor retrato da realidade brasileira, no entanto, pode demorar ainda mais para garantir a sua completa efetivação.