Portuários de Felixtowe, que movimentam quase metade do tráfego de contêineres do país, dizem basta às perdas com a inflação que assola o país e entram em greve por oito dias
Dois mil trabalhadores de Felixtowe, o maior porto de carga inglês, que movimenta quase metade do tráfego de contêineres do país, iniciaram uma greve de oito dias no último domingo (21) contra o brutal arrocho salarial a que vêm sendo submetidos pela multinacional gerenciadora do local.
A líder do Sindicato Unite, que congrega os trabalhadores do setor, Sharon Grahan, condenou as “lágrimas de crocodilo” da controladora, a CK Hutchinson Holdings Ltd, com sede em Hong Kong, que alega não ter como pagar o reajuste reivindicado pela categoria. Os portuários denunciam que, na verdade, a empresa tem priorizado mesmo é distribuir os lucros e dividendos em vez de remunerar dignamente a sua mão de obra. Os portuários se enfrentam com aumentos exponenciais, como o da energia, retorno do tipo bumerangue devido às sanções russofóbicas em torpe submissão do governo aos Estados Unidos no conflito da Ucrânia.
Conforme apurou a entidade sindical, apenas o pagamento de dividendos em três anos pela multinacional alcança a fabulosa quantia de 200 milhões de libras esterlinas, o que ultrapassa os 1,2 bilhão de reais. Uma libra no câmbio oficial desta segunda-feira está 6,07 reais.
As investigações da Felixstowe Docks, de suas subsidiárias e de sua controladora em Hong Kong mostram que elas estão tentando manipular a opinião pública, pois a maioria do que foi pago acabou sendo direcionado para a empresa-mãe, a CK Hutchinson Holdings Ltd.
APROPRIAÇÃO INDECENTE VIA LUCROS E DIVIDENDOS
“A Felixstowe Docks e suas empresas associadas têm priorizado lucros e dividendos em vez de dar a seus trabalhadores uma fatia decente do bolo. Em vez disso, a empresa está canalizando dezenas de milhões de libras no exterior para sua controladora com sede em Hong Kong quase todos os anos”, reiterou Sharon Grahan, frisando que “os acionistas de Hong Kong estão recebendo um pagamento de bonança”. Na prática, com a inflação em alta, frisou, a empresa está pedindo “um corte salarial”, já que o poder aquisitivo tem sido corroído.
Localizado a 150 quilômetros de Londres, na costa leste de Inglaterra, Felixtowe se beneficia da proximidade de portos europeus como Le Havre (Francia), Amberes (Bélgica) e Roterdam (Holanda). 60% do tráfego comercial entre o Reino Unido e a Ásia também passa por suas instalações.